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  • Sexta-feira, 22 de agosto de 2025
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Scot Consultoria

Gestão de riscos e comercialização: como os frigoríficos navegam na volatilidade do mercado

A indústria frigorífica brasileira nunca desperdiçou uma crise para tirar boas lições!


Foto: Bela Magrela

Leonardo Alencar, Head do setor de Agro e sócio da XP Investimentos, conversou com a Scot Consultoria sobre as estratégias adotadas pelas indústrias frigoríficas brasileiras para reduzir riscos e ampliar a competitividade da carne no mercado interno e externo. Na entrevista, ele destacou pontos como a gestão da volatilidade de preços, o papel dos contratos a termo, a diversificação de portfólio e o investimento em proteínas alternativas. Leonardo também falou sobre o que será abordado em sua palestra no Encontro de Intensificação de Pastagens.

Scot Consultoria: As exportações de carne bovina estão cada vez mais expostas a fatores geopolíticos, como embargos sanitários, tensões comerciais e, mais recentemente, taxações comerciais, como a proposta pelos Estados Unidos. Diante desse cenário, quais estratégias têm sido adotadas pelas principais indústrias frigoríficas brasileiras para mitigar esse tipo de risco e manter a competitividade global da carne brasileira?

Leonardo Alencar: A indústria frigorífica brasileira nunca desperdiçou uma crise para tirar boas lições, seja ela originada por fatores sanitários, barreiras tarifárias ou mesmo crise de imagem. Dessa forma, o Brasil aprendeu que se defender e mostrar aos importadores a qualidade de seu sistema sanitário, por exemplo, pode ser um processo longo e doloroso; portanto, optou por atacar em diversas frentes ao mesmo tempo.

O caminho foi capilarizar as exportações e ter o maior número de alternativas possíveis, estratégia que tem sido fundamental para reduzir a volatilidade nos preços, mitigar choques de demanda e sustentar o aumento de produção em curso.

Não há dúvida que possuímos uma relação de codependência com a China, mas o Brasil segue ampliando a quantidade de destinos possíveis para nossa carne, o que ajuda a (I) fortalecer nossa imagem, (II) reduzir o risco de impactos negativos por uma crise em um importador, (III) traz mais opções para um produto que ainda sofre com alta heterogeneidade do lado da produção e (IV) ajuda na expansão das margens.

Em paralelo, as indústrias também têm buscado diversificar geograficamente, permitindo um hedge sanitário e maior capacidade de arbitragem de ciclos e sistemas de produção diferentes. Mais recentemente, o foco migrou para estratégias que reduzam a ciclicidade da pecuária, o que levou alguns players a entrarem no segmento de processados ou até mesmo a atuarem no varejo.

Scot Consultoria: Temos observado um movimento crescente de empresas investindo em proteínas alternativas (carne de laboratório, plant based etc.). Você enxerga esse movimento como uma aposta consistente e promissora, ou ainda como um nicho com baixa perspectiva de escala e retorno, especialmente no contexto brasileiro?

Leonardo Alencar: No processo de amadurecimento do setor, após a conquista de uma base de produção mais estável e segura, a atenção passa ao “outro lado da mesa”, ao consumidor. Este, conforme aumenta seu poder aquisitivo, busca mais variedade no consumo, além de mais qualidade.

O desafio, portanto, exige da indústria uma reflexão: ela pode compor um portfólio crescente do varejo e se manter mais cíclica e monocultora, ou assumir essa maior complexidade, mas também ganhar relevância nas negociações com o varejo e maior espaço no bolso do consumidor final.

Olhando por essa ótica, investir em proteínas alternativas é apenas um dos caminhos para aumentar a presença de uma empresa nas ocasiões de consumo da população. As discussões sobre se carne de laboratório é carne ou não, se plant based é saudável etc., passam a ser secundárias. Extrapolando, se um frigorífico vende um único produto, ele fica dependente do consumidor, mas se tem um portfólio amplo, o cenário fica mais confortável.

Scot Consultoria: Qual o papel dos contratos de boi a termo, frequentemente negociados entre frigoríficos e pecuaristas, na gestão da volatilidade de preços?

Leonardo Alencar: Ironicamente, a resposta está ligada às perguntas anteriores. Se uma indústria trabalha apenas no mercado spot (físico), ela depende das condições de mercado existentes naquele momento e não se diferencia das demais. Ela será refém do mercado.

Por outro lado, ao utilizar todas as ferramentas existentes, seja (I) contratos a termo, (II) mercado futuro/opções, (III) confinamentos próprios, (IV) contratos com o varejo, (V) carteiras mais longas na exportação, (VI) travas para o dólar, entre outras, apesar da maior complexidade, o frigorífico terá uma consequente menor volatilidade de suas margens.

O produtor possui o mesmo desafio: quanto mais tecnologia ele utiliza, menos susceptível ao ambiente ele fica. E o mesmo pode ser dito quando olhamos para as estratégias de comercialização e gestão de risco, uma vez que, não usar nenhuma ferramenta, o pecuarista fica refém do mercado e do “apetite” da indústria, diariamente.

Ou seja, quanto mais ferramentas forem exploradas, maior poderá ser o controle sobre os resultados, com menos volatilidade e mais perenidade na atividade.

Scot Consultoria: O Encontro de Intensificação de Pastagens está se aproximando. O que o público pode esperar da sua palestra durante o evento?

Leonardo Alencar: Meu objetivo é trazer uma atualização do cenário do setor, mas com foco na dinâmica de comercialização da carne no mercado interno e externo, além de uma leitura das margens das indústrias frigoríficas e suas estratégias futuras.

Leonardo Alencar

Leonardo Alencar é Head do setor de Agro, Alimentos e Bebidas na área de Research e sócio da XP. Graduado em Zootecnia, começou sua carreira como analista de mercados agrícolas. De 2011 a 2020, atuou como Diretor de BI na Minerva Foods.

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