A tecnologia tem sido essencial para a produtividade e sustentabilidade da pecuária brasileira nas últimas décadas, e seu protagonismo deverá aumentar no futuro.
Foto: Bela Magrela
Geraldo Martha, engenheiro agrônomo e pesquisador sênior da Embrapa, em entrevista à Scot Consultoria, aborda os desafios e oportunidades da pecuária brasileira para os próximos anos, discutindo temas como sustentabilidade, produtividade, tecnologia e capital humano. Ele destaca a importância da transformação digital, da adoção de práticas sustentáveis e analisa os impactos da geopolítica e das mudanças climáticas na produção de carne bovina. Além disso, antecipa aos leitores o que podem esperar de sua palestra no Encontro de Intensificação de Pastagens.
Scot Consultoria: Considerando as mudanças nos hábitos de consumo, o crescimento das preocupações socioambientais e o avanço das proteínas alternativas, qual sua perspectiva para a demanda global por carne bovina na próxima década?
Geraldo Martha: Para os próximos 10 a 15 anos, o crescimento da população, da renda e da urbanização, em particular nos países em desenvolvimento, deve sustentar o crescimento na demanda por carnes. Mudanças de preferências motivadas pelo envelhecimento da população e por pleitos — nem sempre sustentados por análises críveis e verificáveis — relacionados a uma alimentação mais saudável e a questões ambientais podem reduzir essa taxa de aumento na demanda por proteína animal. Entretanto, transformações estruturais e em grande escala nos padrões de consumo, como essas, são processos complexos e levam décadas para serem efetivados.
Exemplificando: estatísticas da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), considerando “carne sem osso” (que, em função do tipo de carne, corresponde a uma fração de 60,0% a 73,0% da métrica usual de equivalente carcaça), mostraram que o consumo anual de carne bovina nos países de alta renda variou de 15,1kg per capita, em 1990, para 14,3kg per capita, em 2022. No intervalo de mais de três décadas, o consumo de carne bovina pela fatia da população mundial com maior capacidade de escolha foi reduzido em apenas 0,76kg per capita – uma queda marginal equivalente a 24 gramas per capita por ano. Vale observar que, no horizonte 1990–2022, o consumo total de carne nos países de alta renda aumentou 11,5kg per capita, de 48,4kg para 59,9kg.
Nesses países, a composição no consumo de carne no período teve ampliação da carne de frango (de 21,0% para 36,5% do total), com queda na participação dos outros tipos de carne (bovina, suína, ovina). Para o horizonte 2023 a 2040, esses estudos da OCDE e da FAO projetam uma queda de 0,2kg per capita no consumo de carne bovina nos países de alta renda. Para os países de renda média-alta, média-baixa, e baixa, as projeções são de aumento no consumo per capita de, respectivamente, 0,78kg, 0,44kg, e 0,11kg.
No agregado do mundo, essas variações no consumo devem representar uma taxa geométrica de crescimento na demanda de carne bovina da ordem de 0,8% ao ano até 2040, equivalente a uma demanda absoluta adicional, no período, de 10,7 milhões de toneladas equivalente carcaça.
É importante reforçar que as mudanças no consumo de carnes, enquanto bens normais, são bastante responsivas à renda per capita. Colocado de outra maneira, períodos de ganhos limitados na renda per capita reduzem o potencial de crescimento na demanda de carne. O consumo de carne bovina, em particular, tende a ser impactado de maneira mais forte. Entretanto, o consumo de carne é bastante responsivo ao aumento na renda para os estratos de renda baixa e média.
A taxa de aumento no consumo de carne se torna progressivamente menor conforme a renda per capita se eleva, até um ponto em que a renda per capita já é elevada e o consumo atinge um nível de saciedade. No caso da carne bovina, com o aumento da renda per capita há menor demanda pela carne de segunda.
Scot Consultoria: Quais são, na sua visão, os principais desafios e oportunidades que devem moldar a produção pecuária brasileira nos próximos dez anos, considerando fatores como mudanças regulatórias, exigências de sustentabilidade, avanços tecnológicos e transformações no mercado consumidor?
Geraldo Martha: O Brasil, como grande player global na produção de carnes e com potencial de avançar em produtos mais elaborados e de maior valor adicionado, tem grandes possibilidades para se consolidar em mercados já atendidos e para expandir suas exportações para outros mercados ao longo da próxima década. A geopolítica deverá ganhar peso na definição dessas relações comerciais.
Pela ótica da produção, a carne brasileira deverá enfrentar exigências crescentes dos compradores, tanto domésticos como de outras regiões do mundo. Não bastará apenas produzir — será necessário aumentar a produção segundo critérios de sustentabilidade e, claro, a preços competitivos. A sustentabilidade é alcançada quando as dimensões técnico-econômica, social e ambiental relacionadas à produção de bens e serviços são atendidas. Em uma situação ideal, essas múltiplas e interdependentes dimensões da sustentabilidade deveriam ser contempladas simultaneamente.
Associar a proposta de sustentabilidade a apenas uma dimensão, como a econômica ou a ambiental, é um critério insuficiente e equivocado, pois não reflete a sua dimensão múltipla. Sempre que possível, os diferentes modelos de produção deveriam buscar estratégias do tipo “ganha-ganha” (ganhos simultâneos em todas as dimensões da sustentabilidade). Entretanto, quando essa condição ganha-ganha não for possível, passam a ser priorizadas estratégias que acomodem uma pequena perda em uma das dimensões da sustentabilidade para possibilitar grandes ganhos nas outras. Claro, sempre considerando as exigências da lei, como o Código Florestal.
Pela ótica do produto, as exigências dos consumidores (domésticos e internacionais) focarão em alimentos (carne) seguros e com qualidade crescente. A perspectiva ambiental deverá ser fortalecida, o que implica em buscar a economia no uso de recursos naturais, como terra e água, e a redução das emissões de gases de efeito estufa. Como já comentado, esses desdobramentos poderão influenciar o perfil de demanda (preferências alimentares, compra de alimentos com menores intensidades de emissões, redução do desperdício, aumento na demanda por rastreabilidade etc.). Na próxima década, deverá ganhar envergadura a procura por soluções digitais para o acompanhamento do comportamento de variáveis e processos do sistema de produção, bem como para o monitoramento e rastreabilidade de produtos.
Quanto à tecnologia, ela é protagonista. A maior parcela da produção agropecuária brasileira já tem sido explicada pela tecnologia desde meados dos anos 1990. Para o futuro, a geração e a adoção de tecnologia continuarão sendo o traço fundamental para o sucesso da nossa agropecuária. Entretanto, como a agropecuária não ocorre em um “vazio econômico”, as tecnologias geradas pelo sistema de pesquisa, em suas vertentes pública e privada, serão adotadas como parte do processo de inovação quando os preços relativos forem favoráveis.
Duas vertentes tecnológicas, com foco no “dentro da porteira”, seriam a combinação de conhecimentos e tecnologias que permitam: (1) ampliar a produtividade (com aumento na eficiência de uso de insumos/recursos) e (2) reduzir as despesas com os principais componentes do custo de produção. Um aspecto importante a ser notado é que, com o agravamento das mudanças climáticas projetado para as próximas décadas, ficará mais difícil avançar nessas duas vertentes. O ambiente de produção mais adverso traz dificuldades para a ampliação — e, às vezes, até mesmo para a manutenção — dos ganhos de produtividade.
Em que pesem esses desafios, não se pode arrefecer os esforços para aumentar a produtividade. Como disse o Nobel em economia, Paul Krugman, “a produtividade não é tudo, mas, no longo prazo, é quase tudo!”. Além disso, com o agravamento das mudanças climáticas, espera-se o aumento na pressão de pragas e doenças e, com isso, os custos de produção deverão ser pressionados. Novos (bio)insumos e avanços nas práticas agropecuárias e no manejo, que aumentem a eficiência parcial e global do sistema de produção, serão chaves para reduzir os efeitos negativos dessas pressões bióticas e, também, para manter os custos de produção em níveis competitivos.
Esses desdobramentos sobre a produtividade e sobre os custos de produção, já em curso, reforçam a importância de o País investir pesadamente em pesquisas e em estratégias que ampliem a capacidade de adaptação e resiliência para esses ambientes de produção mais adversos. Quando eu falo em investir, eu penso em uma perspectiva mais ampla, com processos integrados — como inevitavelmente tem que ser essas ações com foco no fluxo de inovação (pesquisa, desenvolvimento, transferência de tecnologia e difusão, até a adoção pela ponta produtora) para serem efetivas no mundo real.
Com relação à ampliação do conhecimento, serão essenciais os avanços em genética de plantas, animais, microrganismos (para maior produção, tolerância/resiliência à pressão de fatores bióticos e abióticos, qualidade etc.), em práticas agropecuárias e manejo das plantas, pastagens e animais e, também, na conservação do solo e da água (práticas conservacionistas). E, claro, o desenvolvimento de novos (bio)insumos, cada vez mais eficientes, passa a ser estratégico — por exemplo, para apoiar a nutrição e a proteção tanto de plantas como de animais.
É interessante olhar atentamente para a transformação digital. O volume crescente de avanços em sensores, imagens a partir de dispositivos móveis, drones e satélites, internet das coisas (IoT), Big Data, visão computacional, simuladores, algoritmos de otimização e inteligência artificial, e a integração dessas tecnologias com atuadores, tem grande potencial para transformar a agropecuária e torná-la mais preparada para enfrentar os desafios futuros. Os impactos potenciais da transformação digital são transversais e poderão ser observados desde as ações de planejamento (modelagem e análises avançadas) e de tomada de decisão, passando pelos avanços em genética, em manejo e, até as melhorias dos processos de gestão e de operações na propriedade.
Com isso, a expectativa é de elevação nos ganhos de eficiência nas diferentes etapas produtivas. O uso ampliado dessas soluções digitais permitirá aumentar a quantidade de informações sobre origem, segurança e qualidade dos alimentos, bem como sobre modelos de produção agropecuária e seus potenciais impactos nas dimensões ambiental e social. Essas ações atendem à demanda de consumidores cada vez mais exigentes. Em última análise, o uso dessas soluções digitais será determinado pela sua relação benefício/custo, que é contexto–específica.
Cabe ressaltar que, por mais importante que seja a dimensão tecnológica, ela não ocorre em um “vazio político-econômico”, como já ressaltado. Nesse sentido, a dimensão não-tecnológica, como a infraestrutura (estradas, armazenagem, portos, infraestrutura digital etc.) e a qualificação educacional, com ações no presente e um foco no futuro, são essenciais na definição do potencial futuro da agropecuária brasileira. O aprimoramento da logística de transportes, por exemplo, pode influenciar de maneira marcante a geografia de produção no país e, com isso, a dinâmica das cadeias produtivas associadas. O uso de tecnologias cada vez mais modernas, demanda a elevação do nível de qualificação, inclusive em áreas que hoje talvez não sejam ligadas diretamente ao agro, como a ciência de dados.
Acho que será estratégico, também, trazer a dimensão da energia para a discussão sobre a produção agropecuária do futuro. Muitos dos ganhos projetados com as novas tecnologias — e com a transformação digital, em particular — dependerão de data centers e inteligência artificial, que são consumidores ávidos de energia (e de água, para funções de resfriamento). A infraestrutura para conectar essa energia é obviamente importante, em particular nas regiões agropecuárias, menos favorecidas em termos de infraestrutura quando comparadas aos centros urbanos. Entretanto, por uma perspectiva estratégica, o país também precisa estar muito atento para a geração de energia e suas fontes, e para como se dará a competição de energia entre os setores econômicos — tudo isso sem desconsiderar a importância de se avançar na transição energética nas próximas décadas.
Scot Consultoria: Existe tendência de concentração produtiva e financeira na pecuária, com aumento de grupos mais integrados, como na avicultura e suinocultura? Esse movimento ameaça a sobrevivência de sistemas familiares ou pode abrir espaço para modelos colaborativos e associativos mais eficientes?
Geraldo Martha: O fenômeno da concentração e consolidação setorial vem ocorrendo há décadas. No segmento de insumos para a agropecuária, as cinco maiores empresas respondem por mais de 60,0% do mercado, no caso de sementes e agroquímicos. Para fertilizantes e máquinas agrícolas, as “top 5” respondem por 15,0% a 30,0% do mercado. Tendência semelhante de concentração vem ocorrendo, de modo rápido, para as tecnologias digitais. Esses movimentos, que podem promover impactos positivos ou negativos, têm que ser acompanhados de perto.
Por um lado, esse elevado poder de mercado na agroindústria/agroserviço pode fomentar e acelerar a inovação na agropecuária. Por outro, essa concentração de mercado pode atuar negativamente sobre o avanço tecnológico, em razão de barreiras ao acesso de tecnologias e conhecimento e, do direcionamento do desenvolvimento tecnológico.
No “dentro da porteira”, um trabalho liderado há alguns anos pelo Dr. Eliseu Alves, um dos fundadores da Embrapa, a partir de microdados do Censo Agropecuário, mostrou que há uma forte concentração do produto agropecuário em poucos estabelecimentos. Trazendo alguns números desse trabalho: em cerca de dois terços dos 4,4 milhões de estabelecimentos considerados, a renda era inferior ao equivalente a dois salários-mínimos mensais. Outros 1 milhão de estabelecimentos tinham renda entre dois a 10 salários-mínimos mensais. Os 500 mil estabelecimentos restantes (11,4% do total), com renda superior a 10 salários-mínimos mensais, respondiam por 87,0% do valor bruto da produção na agropecuária brasileira.
Esses números indicam que um enorme contingente de produtores rurais no Brasil não consegue ter, na agropecuária, uma atividade econômica capaz de ampliar — ou talvez até mesmo assegurar — o bem-estar e o desenvolvimento das suas famílias. Paradoxalmente, esses mesmos números indicam uma oportunidade enorme de “ruptura tecnológica” na agropecuária brasileira, para aqueles produtores que almejam, de fato, uma solução dentro da agropecuária.
Isso exigiria a disseminação eficiente — e uma efetiva adoção — de modernas tecnologias e conhecimentos por esse expressivo contingente de produtores no país. Entretanto, uma das principais barreiras à adoção mais ampla de tecnologias modernas diz respeito às imperfeições de mercado, sentido amplo (preços relativos e fatores não-tecnológicos, como a educação e a disponibilidade de infraestrutura). Reduzir essas imperfeições de mercado é, portanto, condição necessária para ampliar o universo de tecnologias disponíveis para o produtor e o retorno ao investimento em tecnologias, favorecendo a diminuição da desigualdade produtiva.
Scot Consultoria: Com o avanço das exigências internacionais sobre desmatamento, rastreabilidade e emissão de carbono, como a pecuária brasileira pode se posicionar estrategicamente para atender essas demandas sem perder competitividade? Ainda sobre o tema, quais dados você pode nos trazer para desmistificar essa visão de que a pecuária é a vilã?
Geraldo Martha: Essas exigências vêm tanto da esfera internacional quanto da doméstica. Como já falamos, a dimensão técnico-econômica tem protagonismo para ampliar a produção. É importante salientar que a adoção de conhecimentos e tecnologias também é chave para a redução de impactos ambientais negativos e para a promoção de avanços sociais. Entretanto, seria ingênuo pensar que as decisões de cunho técnico, como aquelas agronômicas e zootécnicas, constituem o cerne do processo de tomada de decisão na agropecuária brasileira, que opera com baixos níveis de incentivos (em particular, a pecuária!). Políticas, pressões econômicas e incentivos são, frequentemente, fatores determinantes por trás do processo de tomada de decisão dos produtores rurais.
Como em qualquer setor econômico, encontramos bons e maus exemplos na pecuária. No agregado do país, os bons exemplos superam os maus. Nas últimas décadas, o modelo de produção pecuária no Brasil mudou sensivelmente e passou a priorizar tecnologias mais intensivas em capital, que geraram significativos ganhos de produtividade.
A partir de dados do Censo Agropecuário, é possível calcular que os ganhos de produtividade explicaram cerca de 79,0% do crescimento da produção pecuária entre 1950 a 2017; a expansão da área de pastagens respondeu por menos de 21,0% desse avanço da produção no período. Sem esses ganhos de produtividade, uma área adicional de aproximadamente 600 milhões de hectares seria necessária para obter a mesma produção de carne bovina registrada em 2017.
Para as lavouras, no mesmo período, os ganhos de produtividade produziram um efeito poupa-terra da ordem de 220 milhões de hectares. Esse gigantesco efeito poupa-terra da agropecuária brasileira nas últimas décadas — da ordem de 820 milhões de hectares, equivalente a quase um Brasil —, associado a políticas, como o Programa ABC+ (com foco na intensificação sustentável) e ao efetivo comprometimento do setor privado, explicam o porquê de 64,0% do imenso território brasileiro, em 2023, estar coberto com vegetação nativa.
Scot Consultoria: Na sua opinião, qual será o perfil do pecuarista do futuro? Que tipo de capacitação, visão de negócio e integração tecnológica ele deverá desenvolver para continuar competitivo em um ambiente cada vez mais complexo e exigente?
Geraldo Martha: O sucesso da agropecuária brasileira, paulatinamente construído ao longo dos últimos 50 anos, é prova de que, no agregado do país, a difusão de conhecimentos e tecnologias, com efetiva adoção pela ponta produtora, teve êxito. Entretanto, como comentado anteriormente, um enorme contingente de produtores ficou à margem dessa transformação. Assim, é importante ter em mente a necessidade de um maior grau de instrução e de capacitação continuada, em níveis básico, intermediário e avançado.
Para produtores com menor grau de instrução, mesmo diante das deficiências de crédito para a produção e de assistência técnica, é importante destacar que a aplicação de conhecimentos e tecnologias tem pouca chance de sucesso sem o desenvolvimento de habilidades mínimas em leitura e matemática. Essas deficiências precisam ser urgentemente corrigidas, pois representam uma severa restrição para ampliar a inclusão e a capacidade produtiva da agropecuária brasileira. Entretanto, progressos efetivos na formação e no fortalecimento do capital humano não são triviais e demandam tempo para se consolidarem.
Para o grupo de produtores mais avançados, soma-se ao fortalecimento do conhecimento técnico específico das ciências agrárias, cada vez mais sofisticado, o treinamento em ciência de dados e ferramentas digitais. Para se observar o potencial das tecnologias modernas e daquelas projetadas para o futuro, é necessário a correta análise e a interpretação de uma quantidade considerável de dados e informações, o que requer adequado treinamento e especialização para lidar com grandes bases de dados e ferramentas analíticas. E, como a agropecuária brasileira é sobremaneira exposta aos sinais de mercado, torna-se cada vez mais importante ter treinamento adequado para avaliar o desempenho econômico da atividade e seus riscos, sendo essa uma etapa essencial no processo decisório.
Portanto, o capital humano qualificado é insumo necessário para ampliar a inserção dos produtores no mercado, a sua capacidade em tomar decisões e de adequadamente avaliar os custos de oportunidade do negócio e seus potenciais riscos. Além disso, essa necessidade de capital humano cada vez mais qualificado na agropecuária ocorre pela necessidade de se sair da “receita de bolo” e fazer as adaptações necessárias no sistema de produção. Isso ocorre porque as perspectivas do produtor quanto aos custos de oportunidade e aos riscos envolvidos na tomada de decisão são únicas em relação a uma dada combinação produtor-propriedade, uma vez que a quantidade e a qualidade dos recursos (terra, trabalho, capital físico e humano) e de insumos disponíveis, sujeitos aos preços relativos pertinentes, variam caso a caso.
A importância do capital humano qualificado deverá ganhar ainda mais relevância no futuro, dado o contexto de maior incerteza esperado para as próximas décadas, com a perspectiva de cenários mais drásticos de mudanças climáticas.
Scot Consultoria: O Encontro de Intensificação de Pastagens está se aproximando. O que o público pode esperar da sua palestra durante o evento?
Geraldo Martha: Acredito que a nossa conversa já adiantou muitos dos elementos que eu vou explorar com um pouco mais detalhe na palestra do Encontro de Intensificação de Pastagens. A ideia é focar nesses tópicos, trazendo mais números e agregando elementos adicionais para ampliar a base para discussão.
Também iremos refletir sobre outros dois tópicos que não discutimos muito por aqui, mas que considero fundamentais para pensar estratégias para a agropecuária nos próximos 10 a 15 anos: a desaceleração das taxas de ganhos de produtividade na última década e os potenciais impactos dos choques decorrentes da nova geopolítica mundial.
Engenheiro agrônomo formado pela ESALQ/USP e doutor pela mesma instituição. É pesquisador da Embrapa desde 2001, atualmente lotado na Embrapa Agricultura Digital, em Campinas. Seus trabalhos de pesquisa focam na análise bioeconômica e de risco na agropecuária, na dinâmica de uso da terra e no desenvolvimento regional.
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