Foto: Freepik
No coração do agronegócio brasileiro, um tripé desafia produtores de todas as regiões: escassez de mão de obra qualificada, sucessão familiar sem planejamento e a rápida evolução tecnológica. À medida que o campo se moderniza, cresce a demanda por líderes preparados não apenas para operar máquinas de última geração, mas também para gerir pessoas, conflitos e projetos de longo prazo. A sucessão deixou de ser uma simples transferência de bens para se tornar uma transição de cultura e visão de futuro. Nesta conversa, Ricardo Arantes - zootecnista, fundador da TRI Comunicação e especialista em gestão e comunicação - analisa os dilemas e as oportunidades que surgem quando o agro exige menos força e mais inteligência emocional.
Scot Consultoria: Não é clichê dizer que o sucesso do nosso trabalho depende totalmente das pessoas. Por isso, contar com um time engajado faz toda a diferença. Na sua visão, o que é essencial para ser um bom líder?
Ricardo Arantes: Primeiro, é preciso entender o que é liderança. Não confundir chefe com líder. Somos ensinados a ser chefes, não a ser líderes. Por isso, é necessário desaprender a ser chefe para aprender a ser líder. O chefe manda, e no passado os colaboradores apenas obedeciam. Hoje, isso mudou. Eles querem colaborar, mas com propósito. Querem entender o que fazem e por que fazem. Isso é bom - e precisamos reconhecer isso. Imagine um confinamento, com um rapaz limpando o bebedouro. Se ele não entende por que faz aquilo, o trabalho perde o sentido. É nossa responsabilidade dar propósito às tarefas. Costumo dizer que o líder tem perguntas; o chefe, respostas. Pessoas inteligentes fazem perguntas - é assim que se aprende e se ensina. Se um colaborador pergunta: "O que faço com isso?" e você responde, está criando dependência. Mas se pergunta: "O que você faria?", ele reflete, responde e aprende. O líder precisa compreender esse papel. O líder, ele “serve”. Ele chega para a equipe e pergunta: "O que vocês precisam de mim para fazerem melhor o que já fazem?". O chefe, por outro lado, apenas se senta e aponta o dedo.
Scot Consultoria: A sucessão no setor enfrenta dois grandes desafios: muitos pais relutam em passar o comando, enquanto os filhos, por outro lado, não sabem exatamente como assumir essa responsabilidade. Na sua visão, quais seriam as melhores estratégias para superar essas dificuldades e garantir uma sucessão mais tranquila e eficaz?
Ricardo Arantes: Esse é um tema muito delicado, que começa muito antes da simples passagem do comando. Tudo começa pelo envolvimento emocional entre pai e filho, e nem sempre essa relação é fácil ou cheia de afinidade. E como você vai confiar em alguém que ainda é uma criança, um jovem, que não está demonstrando a responsabilidade que esperava? Muitos pais, com razão, têm medo de entregar aquilo que construíram com tanto esforço e dedicação - muitas vezes passando fome, enfrentando dificuldades, ficando no mato por 60, 90 dias, sem comunicação, naquela época. E aí o pai pensa: “Como é que eu vou entregar tudo isso para um menino, um rapaz, uma criança que eu vi nascer?" No fundo, os pais não querem ver seus filhos crescerem e se tornarem independentes - eles gostariam que eles continuassem crianças, para poder abraçar, proteger e cuidar. Mas o tempo passa. O filho cresce, vira independente, né? Ele tem a vida dele. E o pai não quer isso. Esse apego emocional dificulta a sucessão. Só que a gente vai envelhecendo e os filhos têm que conquistar isso. É como uma árvore, o filho ainda está em formação e o pai já está com o tronco formado. Desentortar uma árvore velha é mais difícil que desentortar uma árvore nova, né? Então, eu falo para os meus filhos que a responsabilidade é até mais deles, principalmente nos dias de hoje, com tantas ferramentas como a internet e a inteligência artificial para buscar ajuda. Se a relação com o pai é difícil, mais do que nunca é um compromisso do filho buscar aproximar-se, usar o “amor” e a “gratidão” como lubrificantes nessa relação, para poder assumir com respeito e consciência o legado que está sendo passado.
Scot Consultoria: Ricardo, você puxou um pouquinho o assunto de inteligência artificial (IA). Como você vê toda essa tecnologia impactando o agronegócio nesses últimos tempos?
Ricardo Arantes: Eu vejo com ótimos olhos! Eu sou realmente um apaixonado por tecnologias - sou um aficionado mesmo. E, sinceramente, acredito que o pecuarista que não estiver atento às novas tecnologias - seja na escolha da semente, na adubação, na nutrição, no manejo da pastagem, no que for, vai acabar ficando para trás. Tecnologia não é só máquina, não é só drone voando por aí. Uma nova variedade de capim com genética melhorada é tecnologia. Um suplemento nutricional que acelera o ganho de peso do animal também é tecnologia. Isso tudo é tecnologia, até uma enxada diferente é tecnologia. Algo novo, algo que veio para facilitar, para melhorar e aumentar a sua produtividade. Então, eu peço que os pecuaristas tenham um olhar melhor para a tecnologia.
E o que eu penso da dificuldade é o seguinte: desaprender é muito mais difícil do que aprender. Nós temos dificuldade de aprender, porque nós não desaprendemos. Então, a dificuldade não é em aprender, é em desaprender o errado, o antigo, que está lá enraizado. Portanto, pensem primeiro em desaprender. Desaprendam daquilo que vocês fazem que está ultrapassado, para que possam aprender o novo. Então, meu conselho é: olhem com mais carinho para a tecnologia. Ela não vem para atrapalhar, ela vem para somar. Não existe tecnologia ruim ou para dificultar. Tudo o que é apresentado em eventos da Scot Consultoria, por exemplo, é pensado para ajudar, para melhorar a vida do produtor. A Scot Consultoria nunca colocaria no palco algo que fosse para complicar. Tecnologia é ferramenta de progresso. É aliada.
A entrevista completa com Ricardo Arantes está disponível na íntegra no canal da Scot Consultoria no YouTube. Para assistir a todos os detalhes da conversa, acesse https://youtu.be/eTfXFCuGKEk
Zootecnista formado pela FAZU, em Uberaba-MG. Gestor de fazenda, proprietário de fábrica de minerais em Goiás e gestor de rede de postos de combustível. Trabalhou no setor de marketing da Nutron Cargill até 2022 e, no mesmo ano, criou a TRI Comunicação e Treinamento, onde se dedica exclusivamente a treinar pessoas. Ricardo será palestrante no Encontro de Confinamento e Recriadores.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos