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Scot Consultoria

As estratégias do varejo para não estreitar a margem comercialização


Sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018 - 11h00

Foto: Scot Consultoria


Sidnei Maschio: Alex, o que aconteceu com o preço da carne no varejo agora em janeiro?


Alex Lopes: O varejo é um dos elos que consegue lidar um pouco melhor- já vem acontecendo desde 2017- com a situação de consumo fraco, pequenas quedas de preços dependendo da praça analisada, acumula de 1 a 1,5% na desvalorização desde o começo do ano.


Mas analisar somente esse elo pode passar uma falsa impressão, pois a desvalorização dos elos anteriores foi maior e mais sintomática. Mas de forma geral, em torno de 1,5% de desvalorização desde o começo do ano, no mercado varejista.


Sidnei Maschio: Como o comércio varejista está fazendo para enfrentar essa queda no consumo? Que está fazendo quase dois anos já...


Alex Lopes: Exatamente, quase dois anos. E o pessoal está craque para lidar com isso. Viemos de resseções em 2015, 2016 e 2017. Mas, embora este ano esteja melhor que os anteriores, tivemos um processo recessivo no acumulado do ano e isso fez com que as vendas no varejo, de forma geral, caíssem, principalmente de produtos de volume agregado.


E a carne bovina frente as outras proteínas distribuídas é um produto mais caro. Então o varejista consegue trabalhar um pouco melhor a situação de vendas mais fracas. Faz compras comedidas, compras ajustadas à demanda, situação que o frigorífico não consegue fazer, pois o frigorífico precisa comprar o boi, precisa deixar o mesmo no curral e fazer o abate, tem todo processo de desmonte e um período de frio. Então a distância entre a data da compra e a data da venda da carne frigorífica é muito maior, já o varejo consegue comprar e vender imediatamente, o produto chega pronto para ele comercializar. Ou seja, os estoques do varejo estão sendo feitos comedidos e ajustados a situação de demanda que temos atualmente.


Sidnei Maschio: E no mercado da carne sem osso, no atacado como foi o comportamento dos preços em janeiro?


Alex Lopes: A partir do momento que entramos no elo da cadeia mais próximo ao consumidor, conseguimos ver mais claro o impacto do consumo ruim em janeiro. Durante as quatro semanas que acompanhamos até agora tivemos uma queda acumulada de 4 a 4,5% no preço da carne sem osso vendida no atacado. Fica claro que isso ocorre em função de uma dificuldade de girar estoque e uma dificuldade de vender carne, enquanto não houver uma melhora de consumo, infelizmente janeiro é um mês típico para essa venda fraca, então enquanto não houver melhora no consumo, assim deve continuar se comportando o preço da carne vendida no atacado.


Sidnei Maschio: Alex, falando agora de todos os elos do mercado atacadista, parece que o que sofreu mais foi o mercado de carne com osso no atacado. Como foi o desempenho desse seguimento?


Alex Lopes: Exatamente, o mercado de carne com osso caiu 10%. É o chamado ’boi casado’, que nada mais é do que a carcaça bovina vendida inteira. Então, vemos uma desvalorização de 10%, esse é um produto que tem um pouco mais de sensibilidade às gôndolas, tem um tempo de prateleira menor, sente mais a dificuldade de girar, isso acaba transmitindo mais rapidamente o cenário do consumidor para dentro da indústria.  Esse elo especificamente ou esse sistema de produção, estamos falando tudo isso do elo intermediário, da indústria. Mas a produção de carne com osso sofreu uma desvalorização maior que a sem osso, de 10%.


Sidnei Maschio: E como ficou a evolução do valor da arroba em janeiro?


Alex Lopes: Sidney, caiu ao redor de 6,5%, em São Paulo. Uma desvalorização, que podemos até dizer que era esperada. Não tem como esperarmos um janeiro bom, o pessoal está pagando impostos, quem tem filhos na escola, está comprando material escolar, fazendo matrícula... Enfim, além disso, sempre tem as dívidas contraídas em dezembro e as contas começam a chegar agora. Então há outras prioridades nos gastos das famílias que fazem com que produtos de valor agregado, principalmente carnes, fiquem em segundo plano. Os consumidores procuram vias alternativas, produtos mais baratos e acabam ocasionando uma queda no preço da carne no varejo, mais intensamente no atacado e sobrando para o produtor.


Sidnei Maschio: Qual foi o impacto sobre a margem de comercialização dos frigoríficos?


Alex Lopes: A margem caiu, não teve jeito. Como eu disse, o boi caiu 6%, o preço da carne caiu 10%, então, isso acaba achatando a margem do frigorífico. Por mais que ele tenha conseguido comprar matéria prima mais barata, o preço de venda do produto dele caiu ainda mais. Isso achatou a margem chegando próximo a 19%, de 3 a 4 pontos percentuais da média histórica. Hoje recuperou um pouco, em torno de 20,5%, mas é uma margem menor, abaixo da média. Isso mostra a dificuldade que esse elo tem de vender, e consequentemente abrir resultados positivos.


Sidnei Maschio: Alex, quando a situação chega nesse ponto em que estamos agora, só tem duas coisas que podem acontecer, ou a oferta aumenta e a arroba cai mais ainda, ou o frigorífico sobe o preço para melhorar o seu abastecimento de matéria prima. Na sua opinião Alex, qual desses dois caminhos será tomado pelo mercado?


Alex Lopes: Bom, eu acho que quem vai ditar o rumo disso, como sempre acontece é o mercado. O que a gente espera para fevereiro é um mês mais aquecido em termos de consumo, isso deve melhorar a venda de carne, consequentemente o frigorífico vai precisar comprar um pouco mais de matéria prima, já que ele vai poder repassar um preço mais atraente para carne bovina e atraente para ele. Isso vai acabar gerando um cenário de alta no mercado do boi.


É claro que não podemos ignorar a situação da oferta, estamos na safra. A medida que vai avançando o período de chuva, o capim vai ganhando consistência, vai ganhando qualidade, se têm mais boi terminados e mais bois disponíveis para ser abatidos.


Ou seja, a oferta vai ter uma briga constante até o final da safra. A situação da oferta, que deve ser crescente, gradualmente crescente e a demanda que esperamos que cresça.



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