Em meio à pior colheita de trigo dos últimos 111 anos, a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, anunciou que a safra de grãos 2012/2013 alcançou 105 milhões de toneladas, superando o recorde anterior de 90,4 milhões de toneladas, em 2011/2012. Sem oferecer detalhes da colheita, Cristina atribuiu a informação ao ministro de Agricultura, Norberto Yauhar. "Obtivemos 23 milhões ou 27 milhões de toneladas de milho, não recordo bem", arriscou a presidente para explicar que o bom desempenho da safra que, em parte, foi impulsionada pelo cereal.
Conforme a mais recente estimativa da Bolsa de Cereais de Buenos Aires, a safra de milho foi de 24,8 milhões de toneladas, superior à colheita anterior de 21,5 milhões de toneladas. A produção de soja alcançou 48,5 milhões de toneladas, bem acima do volume prévio de 39,9 milhões de toneladas, como resultado de uma quebra da safra provocada por forte estiagem.
Milho e soja compensaram o retrocesso da colheita de trigo, que saiu de 14 milhões de toneladas para atuais 9,8 milhões de toneladas. A safra de girassol apresentou leve queda de 3,6 milhões de toneladas para 3,3 milhões de toneladas.
Produtora de trigo por excelência, a Argentina ficou impossibilitada não só de abastecer a demanda brasileira do cereal, mas também a doméstica. O fraco desempenho do trigo levou a uma severa crise no abastecimento doméstico, cujo preço do produto tornou-se o mais alto do mundo, atingindo valores superiores a US$520 por tonelada.
O retrocesso da safra de trigo foi resultado da mistura de intempéries climáticas, intervenção oficial no preço interno e restrições às exportações. Desde 2007, a área cultivada com trigo vem sofrendo cortes, como resposta dos produtores à intervenção oficial.
Segundo deputado opositor Julio César Martínez (União Cívica Radical/UCR), a próxima safra de trigo, cujo plantio já começou, "também estará praticamente perdida porque o produtor não tem estímulo". Ele apresentou um projeto de lei para acabar com as retenções (as alíquotas de exportações) e proibir as barreiras às exportações. O texto determina que o governo terá a obrigatoriedade de fixar, no primeiro trimestre de cada ano, o volume necessário para atender a demanda doméstica. O restante da produção, pelo projeto, ficaria livre para exportação sem qualquer tipo de restrição.
Martínez explicou que, se o produtor tiver liberdade de vender sua colheita, terá estímulo para plantar cada vez mais. O deputado defende ainda, no texto, créditos do Banco de la Nación, equivalente ao Banco do Brasil, com taxas e prazos acessíveis ao pequeno e médio produtor e um ano de carência. O deputado afirmou que é um fracasso a política de intervenção aplicada pelo governo de Cristina Kirchner, executadas pelo secretário de Comércio, Guillermo Moreno.
Fonte: Estadão Conteúdo. 17 de julho de 2013.
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