Francisco Castro comenta os desafios e oportunidades para agregar valor à carne bovina diante das exigências globais.
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Olhando para o mercado internacional, o Brasil tem se organizado cada vez melhor para atender países exigentes no consumo de carne. O médico-veterinário, presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da CNA e membro titular da Câmara Setorial da Cadeia de Carne Bovina do MAPA, Francisco Castro, traz seu ponto de vista sobre como agregar valor ao produto entregue para o restante do mundo, programas como Beef and Road, da Apex em parceria com a ABIEC, planos de rastreabilidade e antecipa ao público o que podem esperar da sua palestra no Encontro de Intensificação de Pastagens que ocorrerá nos dias 24 e 25 de setembro, em Ribeirão Preto-SP.
Scot Consultoria: O Brasil é um dos grandes protagonistas do mercado mundial de carne bovina, exportando para diversos países com regularidade e confiabilidade. Pensando em competitividade, tanto nos fatores internos quanto externos, quais caminhos você acredita que o Brasil poderia seguir para fortalecer sua posição e agregar mais valor à nossa carne nos mercados internacionais?
Francisco Castro: Internamente, o Brasil precisa oferecer segurança jurídica para produzir. As regras não podem mudar no decorrer do caminho, ao influxo ideológico de governos transitórios. Os marcos temporários devem ser respeitados, e o produtor tem que ter ferramentas sérias que o mantenha na legalidade ou que possa dar o caminho para corrigir irregularidades, sem punições, multas ou travas insolúveis.
Externamente, temos que mostrar que não somos os vilões do meio ambiente, muito pelo contrário, produzimos e preservamos como ninguém no mundo. Temos que comunicar isso assertivamente, de uma vez por todas.
Além disso, é necessário continuar e fortalecer nossa vigilância sanitária, que nos coloca, além de maiores produtores mundiais em quantidade, entre os mais seguros, sanitariamente falando.
Dito isso, a parte comercial cabe aos envolvidos na cadeia, somados aos esforços governamentais, para dirimir qualquer barreira que possa se impor aos nossos produtos.
Scot Consultoria: O projeto Beef and Road, da Apex em parceria com a ABIEC, tem como objetivo ampliar a presença da carne bovina brasileira na China, adaptando-a às receitas locais e promovendo encontros que destacam sua qualidade. Você acredita que iniciativas como essa representam um dos caminhos para expandir ainda mais os mercados da carne bovina brasileira?
Francisco Castro: Cada país tem sua particularidade e é imperativo que isso seja levado em conta. Isso é a essência da venda. Creio que as indústrias e associações pensam muito a esse respeito e lutam para ampliar o mercado de carnes do Brasil mundo afora. Aliás, o cerne das exportações está mais ligado às ações dessas entidades do que, necessariamente, ao governo. No caso do governo, o que se impõe é criar ambientes favoráveis para que os atores principais possam agir e expandir mercados, o que não deixa de ser um papel fundamental.
Scot Consultoria: O Plano Nacional de Identificação Individual de Bovinos e Búfalos (PNIB) definido pelo MAPA prevê a implantação obrigatória da rastreabilidade até 2032. Quais são os maiores desafios operacionais e culturais que você identifica na adoção dessa medida em todo o país, especialmente em regiões menos estruturadas?
Francisco Castro: Respeitar o ciclo pecuário e as diferenças tecnológicas em todo o Brasil é fundamental. Executar com ações simples e boa comunicação também.
Entender que o produtor rural é o principal ator é muito importante, assim como saber que, se o produtor enxergar valor nesse processo, tudo acontecerá mais facilmente.
É possível, mas não será fácil e o que menos precisamos é criar dificuldades desnecessárias, como burocracias exageradas, demora nas decisões, interesses ideológicos ou particulares que possam atravancar o processo.
Se o processo for realizado estritamente como previsto no PNIB, creio que as dificuldades serão amenizadas.
Scot Consultoria: Em reuniões com o Ministério da Agricultura, há propostas para modernizar a classificação de carcaças, padronizar o abate, e gerar incentivos ao melhoramento genético. Quais seriam os próximos passos necessários para transformar essas propostas em realidade? E de que forma isso pode se conectar à competitividade internacional da carne brasileira?
Francisco Castro: Regras claras formam um ambiente salutar em qualquer situação. Ter uma classificação de carcaça auditável, objetiva e que possa estimular o produtor a investir em animais melhores, uma vez que ele percebe o valor gerado no processo, leva a um ganho generalizado.
Padronizar a toalete da carcaça, criar um selo ou índice que possa mensurar as qualidades da carcaça, e que isso seja uma informação compartilhada com o produtor, mostra maturidade no processo.
Sabemos que, em guerra comercial, os interesses sobrepõem a sentimentos nobres, mas não estamos falando de virtudes morais, e sim de normas claras em que o pecuarista possa decidir qual mercado quer participar: um mercado mais tecnológico e custoso, mas que paga mais e valoriza a qualidade; ou um mercado empírico, simples, sem tecnologia, menos custoso e que gera menor valor.
Se o produtor enxergar valor em ter um rebanho de melhor qualidade, e que isso seja mensurável, o avanço genético será catapultado no Brasil.
Scot Consultoria: O Encontro de Intensificação de Pastagens está chegando. Quais serão os principais pontos da sua palestra e que mensagem você gostaria de deixar para quem ainda não garantiu sua vaga?
Francisco Castro: Não percam a oportunidade de participar. Muitos produtores têm como “esporte” desacreditar as entidades e ficar assombrados quando descobrem as novas regras que terão que cumprir.
Em nossa palestra, mostraremos os gargalos que a classe pecuária enfrenta, e que a maioria desconhece, e como a CNA tem atuado para proteger o produtor de abusos e de excessos em projetos de lei, decretos ou normativas criadas, muitas vezes, sob a pressão ideológica de quem não conhece a realidade do campo.
O Encontro da Intensificação de Pastagens é justamente o local para se atualizar com os melhores profissionais e com informações de qualidades, super atuais.
Médico-veterinário e produtor rural em Rondonópolis (MT), onde atua como recriador, confinador e selecionador de nelore PO. Atualmente, é membro titular da Câmara Setorial da Cadeia da Carne Bovina do MAPA e Presidente da Comissão Nacional de Bovinocultura de Corte da CNA.
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