• Sexta-feira, 12 de dezembro de 2025
Assine nossa newsletter
Scot Consultoria

Entre recordes e volatilidade: como o mercado de grãos guiou a pecuária em 2025

Alta do milho, safra abundante, prêmios firmes para a soja e avanço do etanol de milho criam um novo ambiente competitivo que deve influenciar custos e estratégias no próximo ano.


Foto: Bela Magrela

Na gangorra do mercado, a produção de grãos no Brasil passou por momentos decisivos ao longo de 2025. A escalada do milho, iniciada ainda em julho de 2024 e estendida até meados de março deste ano, acendeu o alerta para o pecuarista, embora não tenha comprometido o fechamento das contas graças ao avanço mais expressivo da arroba do boi gordo no mesmo período. Já a soja, mesmo com oferta recorde, encontrou sustentação no mercado externo e no câmbio, reduzindo a pressão baixista esperada.

Ao longo do ano, o milho atingiu pico médio de R$ 88,70/saca em abril, recuando conforme a safra recorde se consolidou. A soja, por sua vez, alternou fases de pressão e recuperação, influenciada por dólar firme, demanda externa aquecida e prêmios positivos – especialmente após o agravamento da disputa comercial entre Estados Unidos e China.

Para compreender como esse cenário moldou decisões e estratégias na pecuária de corte em 2025, converso com o zootecnista e consultor de mercado da Scot Consultoria, Felipe Fabbri. 

Com a alta do milho que começou em julho de 2024 e foi até meados de março deste ano, o pecuarista precisou encontrar novas alternativas? Comparando com os dados do Confina Brasil divulgados na última sexta-feira, 5, é possível estipular uma margem de lucro/prejuízo com dietas fundamentadas no milho nos confinamentos que utilizam este grão?

Felipe Fabbri:  O milho é um balizador para os preços de alimentos energéticos em dietas nos confinamentos. Com seu preço mais elevado, a tendência é que a busca por outras opções de alimentos com preços menores aumente, e, a depender do tamanho da oferta desses alimentos, o seu preço pode, inclusive, ficar mais oneroso do que o uso do milho na composição – tudo dependerá do objetivo final do nutricionista, ponto de energia, otimizando proteína bruta? Ponto de energia, otimizando o menor custo?

Não enxergamos, porém, que o aumento do preço do milho neste período tenha influenciado negativamente a demanda, pensando na pecuária de corte – pelo contrário, a cotação da arroba do boi gordo subiu de forma mais contundente que o milho no fim de 2024 e permitiu maior poder de compra do pecuarista (e composição de estoques para a virada de ano) e, quando o preço do milho subiu forte no período, o poder de compra “voltou ao que era” antes de julho/24.

Tanto que, os dados divulgados pelo Confina Brasil 2025 em seu benchmarking reforçam o uso do milho como principal alimento energético nas fazendas visitadas. Sobre a margem de lucro/prejuízo, considerando que o maior alimento concentrado utilizado nas dietas foi o milho, que o custo da diária subiu e a margem estimada foi superior à Selic, sim, dá para afirmarmos que, no geral, a conta fechou.

Passando a fase de alta do milho, vimos uma produção explosiva acontecer no Brasil, com recordes sendo atingidos, corrigindo os preços. Para a soja o recorde também aconteceu. Pode recordar como foi a oscilação de preços para estes dois grãos em 2025? O que o pecuarista pode esperar para o ano que vem?

Felipe Fabbri: O mercado de milho teve uma temporada de 2025 marcada por maior incerteza e volatilidade. A principal produção no Brasil ocorre na segunda safra – ou safra de inverno –, e, com atraso na semeadura da safra de verão ao fim de 2024, demanda por milho firme e redução dos estoques finais (que abastecem o mercado até a chegada da oferta da primeira safra) o mercado precificou uma alta ao cereal – em abril de 2025, a cotação chegou à sua máxima no ano, com preço médio de R$88,70 por saca. Dissipadas as incertezas e confirmada uma safra recorde no país, o preço caiu, operando acima ou próximo à mínima registrada a partir de maio de 2024.

Para a soja, apesar do atraso na semeadura em regiões importantes no Brasil e uma preocupação inicial ao fim de 2024, o clima colaborou com o desenvolvimento das lavouras, levando a um aumento de produtividade e a um recorde de produção. O ponto positivo para a soja brasileira veio do mercado externo. Em 2024, apesar de uma safra menor que a atual, o tamanho da oferta foi confortável e os preços, sustentados por dois fatores de formação de seus preços em baixa (prêmio de exportação e dólar), cedeu às mínimas dos últimos cinco anos – ou seja, com uma oferta de soja recorde em 2025, a tendência era de que os preços operassem tão depreciados como em 2024. A guerra comercial entre Estados Unidos e China, com a aplicação de tarifas pelos chineses à soja estadunidense, elevou a demanda chinesa pela soja brasileira e, o prêmio de exportação manteve-se no campo positivo, isso, somado ao dólar em sua máxima ante o real no primeiro trimestre de 2025, colaborou com preços menos pressionados que o esperado – no segundo semestre, a demanda para exportação seguiu aquecida, a oferta diminuiu com o fim da colheita e, no Brasil, houve aumento de 1 ponto percentual (p.p.) da mistura de biodiesel no diesel a partir de agosto – os preços, então, voltaram a subir. 

Pensando em 2026, esperamos um ano ainda de oferta e de preços médios próximos aos da temporada de 2025 – é cedo, ainda, para avaliarmos a questão do clima e da oferta para o próximo ano, mas, os trabalhos de semeadura, de modo geral, estão com bom andamento e, por enquanto, mantém uma projeção otimista para a oferta, tanto de soja, quanto de milho para o próximo ano.

Quando falamos em milho, lembramos da expansão das usinas de etanol a partir deste cereal. Em 2025, a China abriu seu mercado para receber um dos principais coprodutos dessa indústria, o DDG e o WDG. Há expectativa para que 2026 impulsione as produções do etanol de milho e dos seus coprodutos? Com a iminência das exportações de DDG e WDG, como fica o pecuarista brasileiro?

Felipe Fabbri: Considerando o número de usinas em operação no país atualmente, o número de usinas que estão em construção e o anúncio de novas usinas nos últimos doze meses, há a expectativa de crescimento linear da produção de etanol de milho no Brasil até 2030 e, consequentemente, da oferta de coprodutos no mercado brasileiro.

Isso é bom para o agricultor, pois condiciona um mercado com mais compradores, regularidade de demanda e preços. Para o pecuarista, por outro lado, pode representar uma ameaça, principalmente para o milho, que é o alimento energético mais utilizado em confinamentos e podem ter preços mais firmes em função da demanda das usinas de etanol de milho.

A exportação de coprodutos é crescente e em 2025, deverá ser recorde, isso, sem a China comprar o produto brasileiro. Apesar dessa dinâmica de exportação maior, o principal setor que demanda o alimento é o mercado interno – principalmente, a pecuária de corte brasileira. Se houver um avanço da exportação em 2026, com destaque à China, e uma demanda pelos confinadores consistente, como tem sido nos últimos anos, há espaço para preços mais sustentados do DDG e a possibilidade de um poder de compra ao pecuarista menos favorável do que o realizado em 2025 – a depender, é claro, do tamanho da oferta projetada para 2026.

O ano de 2025 também foi marcado pela evolução do B14 para o B15 ao biodiesel. Qual a expectativa para o B16 no próximo ano? Se acontecer, isto poderá impactar o restante da cadeia produtiva, como a pecuária, por exemplo? De que maneira?

Felipe Fabbri: A Lei do Combustível do Futuro prevê alta gradual da mistura em um ponto percentual até 2030 – atingindo 20,0% (B20). O cronograma oficial do governo brasileiro prevê o aumento da mistura de biodiesel no diesel para 16,0% (B16) em março de 2026.

O setor, porém, estima que este aumento pode não ser possível no prazo previsto, pois, até lá, pode não haver tempo suficiente para a realização de todos os estudos técnicos necessários para elevar a mistura.

O aumento da mistura, se ocorrer, poderá elevar a produção de biodiesel em 700,0 milhões de litros – com aumento da produção, há, consequentemente, aumento do esmagamento e da produção de farelo de soja e maior oferta do produto no mercado.

Essa maior oferta de farelo de soja pode manter os preços do alimento próximos aos praticados em 2025, ou, baixar a cotação, melhorando o poder de compra da pecuária em geral (avicultura, suinocultura etc.).

Para a pecuária de corte e de leite, o farelo de soja é um importante alimento proteico e que acaba servindo como “termômetro” para outros alimentos, como os coprodutos das usinas de etanol de milho e os farelos de algodão.

Em síntese, mesmo com a forte valorização do milho na virada de 2024 para 2025, a pecuária conseguiu manter margens positivas, favorecida pelo bom desempenho da arroba e pela consolidação de uma safra recorde de grãos no país. Milho e soja encerram o ano com ampla oferta e preços equilibrados, enquanto o mercado se prepara para 2026 com expectativa de estabilidade, mas também com novos desafios no horizonte.

A expansão do etanol de milho e o avanço projetado das exportações de DDG e WDG tendem a redesenhar a relação entre agricultura e pecuária, podendo pressionar custos energéticos das dietas. Ao mesmo tempo, a possível adoção do B16 no biodiesel pode aumentar a oferta de farelo de soja, aliviando parte desses custos proteicos.

Diante de um mercado cada vez mais dinâmico, o ano de 2026 exigirá atenção redobrada à volatilidade, à competitividade entre cadeias e ao comportamento do clima sobre a oferta de grãos. Resta a pergunta: como a sua fazenda está se preparando para um cenário que pode mudar rapidamente e influenciar diretamente o custo de produção ao longo do próximo ano?

Traduzindo com dados

Figura 1.
Sacas de milho compradas com uma arroba de boi gordo, entre junho de 2024 e junho de 2025, em São Paulo.
 
Fonte: Scot Consultoria

Figura 2.
Preço médio do milho, em Campinas-SP, e da soja, em Paranaguá-PR, em R$/saca.

Fonte: Scot Consultoria

Felipe Fabbri

Felipe Fabbri é zootecnista, mestre em Nutrição e Alimentação de Monogástricos pela Unesp de Jaboticabal e coordenador da equipe de inteligência de mercado da Scot Consultoria.

<< Entrevista anterior
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja