• Terça-feira, 25 de novembro de 2025
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Carta Grãos e Agricultura - Safra recorde de trigo em 2025/26 na Argentina pode pressionar os preços no Brasil?

A colheita da safra 2025/26 de trigo na Argentina está com bom desempenho e, a expectativa, é de recorde de produção.


Foto: Freepik

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A Argentina é o maior produtor de trigo da América do Sul e, após a severa quebra da produção na safra 2022/23, o país se recuperou e, para o ciclo 2025/26, cuja colheita começou em meados de outubro, há a expectativa de recorde de produção.

A projeção é de aumento da área semeada em relação ao ciclo anterior, a condição climática foi favorável ao desenvolvimento da cultura e a produtividade por hectare melhorou, fatores que juntos, levam à expectativa da Bolsa de Cereais de Buenos Aires para uma safra histórica– 24,0 milhões de toneladas.

No ciclo 2024/25, 18,0 milhões de toneladas foram produzidas.

Trigo brasileiro

A colheita brasileira de trigo entrou na fase final, mas caminha abaixo do ritmo histórico (tabela 1).

Tabela 1.
Colheita (%) de trigo no Brasil.

Unidade da Federação Semana até: Média 5 anos
2024 2025
16/novembro 8/novembro 15/novembro
Goiás 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Minas Gerais 100,0% 100,0% 100,0% 80,0%
Bahia 100,0% 100,0% 100,0% 80,0%
Rio Grande do Sul 80,0% 40,0% 57,0% 61,6%
Paraná 98,0% 88,0% 92,0% 90,8%
Santa Catarina 54,0% 13,7% 26,8% 39,6%
São Paulo 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Mato Grosso do Sul 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
8 estados 88,6% 63,7% 73,7% 75,6%

Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria

No Paraná, no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, maior polo produtor brasileiro, o clima, com precipitação elevada, presença de granizo e vendavais em algumas regiões, preocupou. Apesar disso, a qualidade do trigo em colheita é considerada boa.

A safra nacional está estimada em 7,7 milhões de toneladas – redução na produção de 2,6% frente à produção em 2024 (7,8 milhões de toneladas), este é o terceiro ano de queda após o recorde em 2022 (10,5 milhões de toneladas).

Com problemas climáticos nos últimos anos no principal polo produtor (região Sul) e maior atratividade financeira para a produção de outras culturas de inverno, a redução na área semeada é o principal fator atrelado à queda de produção. Em 2025, a estimativa é de que a área tritícola diminua 20,1% em relação à 2024.

Mas o que o trigo argentino tem a ver com o Brasil?

A demanda (consumo doméstico + exportação) em 2025 deverá ficar praticamente estável em relação ao ciclo passado – 13,8 milhões de toneladas.

Cenário que, com uma estimativa de produção menor, mantém a importação necessária e em patamar elevado – a segunda maior importação desde 2019 (tabela 2).

Tabela 2.
Quadro de suprimento de trigo no Brasil, em mil toneladas.

SAFRA ESTOQUE INICIAL PRODUÇÃO IMPORTAÇÃO SUPRIMENTO
2019 2.609,9 5.154,7 6.676,7 14.441,3
2020 2.238,4 6.234,6 6.007,8 14.480,8
2021 2.058,7 7.679,4 6.080,1 15.818,2
2022 922,5 10.554,4 4.514,2 15.991,1
2023 1.440,4 8.096,8 5.702,6 15.239,8
2024* 505,3 7.889,3 6.832,5 15.227,1
2025** (Out) 1.376,4 7.698,2 6.632,0 15.706,6
2025** (Nov) 1.376,4 7.687,4 6.703,0 15.766,8
SAFRA CONSUMO EXPORTAÇÃO DEMANDA TOTAL ESTOQUE FINAL
2019 11.860,6 342,3 12.202,9 2.238,4
2020 11.599,0 823,1 12.422,1 2.058,7
2021 11.849,8 3.045,9 14.895,7 922,5
2022 11.894,1 2.656,6 14.550,7 1.440,4
2023 1.943,6 2.790,9 14.734,5 505,3
2024* 11.890,6 1.960,1 13.850,7 1.376,4
2025** (Out) 11.812,7 2.037,0 13.849,7 1.856,9
2025** (Nov) 11.812,7 2.037,0 13.849,7 1.917,1

*estimativa
**previsão
Fonte: Conab / Elaboração: Scot Consultoria

Do custo com a importação de trigo, a Argentina, em 2024, representou 64,1%. Em 2025, até outubro, representou 78,6%.

Com o dólar em queda em 2025, com boa produção na Argentina – e no mundo, detalhes adiante –, a cotação do trigo no mercado internacional, caiu, o que, consequentemente, leva o preço do trigo brasileiro a trabalhar mais próximo ao da paridade de importação, alcançando seu menor preço em doze meses – veja, na figura 1, o comportamento das cotações do trigo no Brasil. 

Figura 1.
Cotação do trigo, em R$/t, no Paraná.

Fonte: Cepea/Esalq / Elaboração: Scot Consultoria

Além da Argentina, no mundo, a expectativa é de safra recorde em 2025/26 e recuperação nos estoques finais. A colheita no hemisfério Norte está em andamento e, para importantes regiões como União Europeia, Estados Unidos, Rússia e Índia, a expectativa é de aumento de produção (tabela 3). Fato que colabora com um mercado internacional com cotações menos sustentadas.

Tabela 3.
Produção de trigo entre os cinco maiores produtores e variação anual.

Produção  2025/26* % anual
União Europeia 142,3 16,5%
China 140,0 -0,1%
Índia 117,5 3,7%
Rússia 86,5 6,0%
Estados Unidos 54,0 0,3%
Outros 288,6 -0,4%

*estimativa em novembro de 2025.
Fonte: USDA / Elaboração: Scot Consultoria

Em resumo, a safra recorde na Argentina, o avanço da colheita no Brasil e, a expectativa de uma safra recorde no mundo – adicionando pressão às cotações -, deverá manter o mercado brasileiro frouxo no curto prazo.

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