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Manejando a fertilidade do solo: correção e adubação - Parte 2

O sucesso da adubação depende de um bom manejo prévio da pastagem e do pastoreio, assegurando o aproveitamento dos nutrientes e o retorno econômico.


Foto: Freepik

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O texto  enviado para este site em abril de 2025, o que escrevi foi baseado em parte do programa que oriento os pecuaristas, que denomino “tecnologias de processos, de baixo e médio insumo”. Neste programa, uma tecnologia de processo é uma técnica de manejo, e sua adoção não requer investimentos e custos. Por exemplo: a escolha de espécies forrageiras, os procedimentos para estabelecer uma pastagem, o dimensionamento da infraestrutura da fazenda, o manejo do pastoreio, manejos preventivos e culturais contra plantas daninhas e insetos-praga... Por outro lado, as tecnologias de baixo e médio insumo requerem investimentos e custos, mas relativamente têm baixa e média proporções no custo total. Como exemplo a compra de sementes, as operações de estabelecimento da pastagem, a roçada do pasto, a aplicação de inseticidas e de herbicidas... 

A partir do artigo que escrevi para este site no mês de maio, continuarei escrevendo uma série de textos que faz parte do programa que oriento os pecuaristas, que denomino “tecnologias de alto insumo”, como por exemplo, a correção, a adubação e a irrigação do solo. A primeira sequência será sobre correção e adubação do solo da pastagem. Mas antes de ir diretamente a este assunto, o objetivo deste artigo é continuar justificando porque no programa de orientação ao pecuarista eu preconizo que a adoção desta tecnologia deve ser somente após a adoção, execução e domínio das tecnologias de processos, de baixo e médio insumos.

No artigo de maio, descrevi o impacto que têm a espécie forrageira cultivada, o padrão de estande de pasto estabelecido, a infraestrutura da pastagem e o manejo do pastoreio sobre a resposta da pastagem à aplicação de corretivos e adubos.

O objetivo desse artigo é citar e descrever o impacto da presença de plantas daninhas, do ataque de insetos-praga e do acometimento de doenças na resposta da pastagem à aplicação de corretivos e adubos. 

A presença de plantas daninhas: avaliou-se os efeitos da variação do pH do solo sobre o desenvolvimento e os teores dos nutrientes fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca) e magnésio (Mg) acumulados na parte aérea e nas raízes do capim-marandu e da planta daninha malva (Urena lobata). Para isso, foram preparadas soluções nutritivas com os seguintes valores de pH: 3,5; 4,5; 5,5; e 6,5. 

A gramínea forrageira e a planta daninha responderam diferentemente à variação do pH. O capim-marandu apresentou maior sensibilidade às variações do pH, tendo sido a produção de matéria de seca (MS) da parte aérea e das raízes sempre crescente em função do aumento do pH. Por sua vez, a produção de MS das duas frações da planta daninha não foi influenciada pela variação do pH. 

Comparativamente, o capim-marandu apresentou maior habilidade para absorver nutrientes em pH 6,5, enquanto a malva apresentou maior habilidade em condições de pH extremo (3,5 e 6,5). Independentemente do pH da solução nutritiva e da parte da planta analisada, os teores de P, K, Ca e Mg foram, quase sempre, mais elevadas na planta daninha do que no capim-marandu, demonstrando que a malva apresenta maior habilidade para extrair esses nutrientes do solo. 

A maior habilidade da planta daninha em extrair nutrientes do solo, associado com a competição com a planta forrageira por outros fatores de crescimento (luz solar, dióxido de carbono, espaço, água), pode ser constatada em trabalhos de campo. Foi avaliado o efeito da taxa de infestação de camboatá (Cupania vernalis Camb.) no processo de recuperação de pastagens de Brachiaria decumbens no município de Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul, em bioma Cerrado. Foram classificadas como alta, média e baixa infestação as densidades de plantas de camboatá de 6 plantas/m2 e 49,0% de área de cobertura, 2 plantas/m2 e 36,0% de área de cobertura, e 0,5 planta/m2 e 13,5% de área de cobertura, respectivamente. 

A resposta à adubação só foi maximizada na ausência da planta daninha (Testemunha). Mesmo no nível baixo de infestação, a produção de forragem no tratamento adubado não foi maximizada. Por outro lado, apenas o procedimento de controlar as plantas daninhas para o nível zero (Testemunha) possibilitou o aumento na produção de forragem, que quase alcançou a produção do tratamento adubado, mas com alta taxa de infestação de camboatá, valores de 3.260 x 3.680 kg de MS/ha, respectivamente. 

Quando se calcula os investimentos e custos do controle de plantas daninhas e se comparam com o valor para corrigir e adubar o solo, chega-se à conclusão de que o controle de plantas daninhas é bem mais barato e, portanto, deve ser executado antes.

O ataque de pragas e doenças: as pastagens, como outras culturas cultivadas, sofrem ataques de insetos-praga e são acometidas por doenças. Os insetos-praga que atacam pastagens são classificados como ocasionais, gerais e específicos. Como ocasionais, são encontradas as cochonilhas, as lagartas e o percevejo-das-gramíneas; como gerais, são encontrados os cupins, as formigas, os gafanhotos, as larvas de besouros escarabeídeos e os percevejos-castanhos-das-raízes; e como específicos, as cigarrinhas-das-pastagens. 

Se por um lado é possível aumentar a tolerância de plantas forrageiras aos insetos-praga e às doenças por meio da correção e da adubação do solo, a negligência no seu controle contribui para que a resposta da planta ao manejo da fertilidade do solo não seja maximizada. 

Os insetos-praga cortadores (formigas, gafanhotos, lagartas, cupins subterrâneos) reduzem o índice de área foliar da planta forrageira, reduzindo a fotossíntese e, consequentemente, o acúmulo de forragem; os que sugam a seiva e são toxicogênicos (cigarrinhas-das-pastagens, cochonilha, percevejo das gramíneas, percevejos-castanhos-das-raízes) desorganizam o metabolismo da planta. Em consequência do efeito destas substâncias, ocorre redução na produção de forragem, com consequente redução da capacidade de suporte da pastagem. 

Assim, para a máxima resposta aos corretivos e adubos aplicados ao solo, é importante garantir a ausência de insetos-praga e doenças ou, pelo menos mantê-los em níveis populacionais abaixo do nível de dano econômico.

A produção primária da agropecuária talvez seja a atividade econômica mais complexa, já que ela se dá em uma “indústria a céu aberto”. A atividade pecuária explorada em pasto é ainda mais complexa que a agricultura, por causa da presença do componente animal, que torna o sistema muito mais dinâmico por causa do seu comportamento no processo de colheita da forragem, à eficiência de conversão dessa forragem em produto animal e à ciclagem de nutrientes nos compartimentos atmosfera-solo-planta-animal. 

A eficiência da conversão de nutrientes aplicados por meio de corretivos e adubos é almejada em qualquer atividade que explora o solo. Entretanto, esta tal eficiência de conversão é mais desafiadora em sistemas pastoris, já que os nutrientes devem, primeiramente, serem convertidos na produção vegetal para depois serem convertidos no produto animal que será comercializado. Ou seja, existe uma etapa a mais que na agricultura, que envolve um complexo processo de colheita de forragem pelo animal herbívoro. 

Em um sistema de pastagens, quando a produção vegetal alcança seu ponto de colheita, o produto – neste caso particular, a forragem – é colhido pelo animal herbívoro, e o produto colhido quase nunca é o produto diretamente comercializado, como é na agricultura (frutas, grãos, madeira etc), a não ser em sistemas nos quais a forragem é colhida mecanicamente e conservada na forma de silagens, ou fenos ou pré-secados. 

Então, a produção vegetal colhida deverá ser convertida no produto que, de fato, será comercializado, que neste caso será o produto animal, na forma do próprio animal (bezerros, novilhas, touros, leite, lã etc.), ou de sua produção, como a carne (animais terminados para a indústria frigorifica). Em uma linguagem figurada, o animal herbívoro assume a função da “colhedora”, só que uma colhedora viva, que, para colher forragem e convertê-la com eficiência no produto animal, tem que ter suas necessidades atendidas, e estas são bastante especificas, como a colhedora mecânica tem as suas (troca de óleos, lubrificantes, reposição de peças, revisões etc.). Além das necessidades especificas, o animal, esta “colhedora viva”, tem seu comportamento e suas atividades diárias (pastejo, ruminação, ócio e interações sociais) adquiridos por meio de seleção natural durante milhões de anos. 

Por isso, a adoção do conjunto de ações no correto manejo da pastagem e do pastoreio deve antecipar o investimento e custeio da correção e adubação do solo como base para a eficiente conversão de nutrientes do solo em produto animal, para viabilizar economicamente esta tecnologia.

Adilson de Paula Almeida Aguiar

Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.

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