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Scot Consultoria

Entressafra barata


Terça-feira, 25 de maio de 2010 - 13h32

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Olá, sou um gráfico ponto-e-figura. Já ouviu falar de mim? Não? Pois é, de fato não sou muito conhecido hoje em dia. Tenho mais de 100 anos de idade! Eu era famoso na década de 1920 até 1960, quando era raro o uso de computadores e eram comuns aqueles caderninhos quadriculados. Desses que se usam na escola. Era bem legal. Cada semana que passava anotavam no quadradinho um “X” para quando o mercado subia e um “O” para quando o mercado caía. Ninguém se importava com o tempo do gráfico. Ninguém anotava os dias ou anos. Só se importavam com o preço, mais nada. Uma imagem vale por mil palavras? Que tal um gráfico? Esse gráfico ponto-e-figura de 2006 até 2010 acima diz muito sobre o estado atual das coisas na pecuária. Repare nas anotações. Saímos de R$48,00/@, tivemos um pico na casa dos R$94,00/@ e uma queda até R$72,00/@. Esse R$72,00/@ é metade da alta entre R$48,00/@ e R$94,00/@, que é a escala geral deste gráfico. O mercado parou de cair exatamente aí, nos R$72,00/@. Coincidência? Não exatamente. Existe a idéia de que se o mercado não furar para baixo esses 50%, essa metade do movimento, que aqui é entre R$48,00/@ e R$94,00/@, ele eventualmente irá testar novamente os picos de R$94,00/@. É isso, simples assim. É esse desenrolar das coisas, é essa lenta evolução do mercado que estamos testemunhando agora. Há mais uma coisa. Os preços recentemente cruzaram para cima dessa reta baixista de longo-prazo. A reta é essa na cor preta. Depois do rompimento para cima é natural o mercado titubear, ter dúvidas se vai subir ou não. “Na dúvida vamos cair um pouquinho...” Estamos passando agora pelo re-teste dessa reta. Bom, agora chegamos onde queria. Estamos nesse re-teste da reta baixista. Aqui duas coisas que quero deixar como resultado dessa análise. 1) Se a arroba firmar a partir daqui, ou seja, se o teste da reta for só isso, um teste, considero isso um sinal altista para a arroba, e não só um sinal altista para o curto-prazo, mas um sinal que eventualmente estamos deixando para trás essa arroba na casa dos R$70,00. Se não, ou seja, 2) se a arroba testar e romper para baixo e continuar a cair, esquece tudo o que disse aqui. Aí teremos que esperar para ver até onde ela vai. Esse ponto foi onde parei de escrever o texto ontem, caro leitor. Fiquei com esses dois cenários na cabeça um tempão. Estava andando a cavalo nos pastos aqui no Tocantins pensando nisso. Fiquei pensando qual dos dois tem mais probabilidade de ocorrer. A pergunta que ficou na minha cabeça é a seguinte: Para onde, afinal de contas, esse mercado quer ir? Para onde a pecuária está caminhando? Para a estagnação ou para o crescimento? Para o otimismo ou pessimismo? São perguntas difíceis de serem respondidas. Não existe só uma resposta. Dependendo do ângulo, da abordagem, você terá uma visão diferente sobre o futuro da atividade. Isso daí levanta outra questão curiosa, paralela. Dependendo do estado (unidade da federação) em que você faz essas perguntas, ou seja, dependendo se você está em Goiás, Mato Grosso ou Bahia, por exemplo, você terá respostas diferentes. Já quando você pergunta para um frigorífico, não. Um frigorífico, a maioria, pensa o Brasil, pensa macro, o cenário geral, sem distinção estadual. Isso só mostra como é delicado só enxergar a realidade de seu estado e projetar essa realidade estadual para o Brasil. Pela minha experiência, a direção dos preços da arroba independe do que acontece localmente em cada unidade da federação, mas sofre influência de todos eles ao mesmo tempo. Bom, estava dizendo o quê, mesmo? Ah, sim, estava fazendo a pergunta para onde o mercado quer ir. Daí cheguei aqui na sede depois de andar nos pastos e, de noite, fui estudar com um pouco mais de profundidade os preços da arroba. Fui buscar lá atrás o que aconteceu nas últimas vezes em que passamos por uma situação parecida com essa agora. Quero dizer, tivemos um pico de preços em 2008 e, de lá para cá, o mercado está andando lentamente, meio sem direção. Será mesmo? É o que esse gráfico abaixo nos mostra. Primeiro deixe-me explicar o que se passa aqui. Cada linha dessas representa um pico da arroba. Os picos estão alinhados juntos, à esquerda, para facilitar a análise do tempo de cada um. No Plano Real tivemos quatro picos: 1994, 1999, 2002 e 2008. Isso quer dizer que, na hora que esses preços bateram lá em cima, nossa, parecia que o céu era o limite! Mas depois veio a baixa e parecia que nunca mais iríamos ver preços tão altos. Mas, como sabemos, eventualmente a arroba voltou a subir e, surpresa! Rompeu os picos previamente estabelecidos. Não perca essa noção nunca, caro leitor. No final da história estamos lidando com um exercício de paciência. Creio que esse pico de 2008 terá o mesmo fim no seu devido tempo. Ele será quebrado para cima em algum momento. Quando? Não sei, mas observe no gráfico o que aconteceu com os outros picos. Olha só. O pico quebrado mais ligeiro foi no movimento após 1999. A arroba demorou aproximadamente 2 anos e meio para subir. As duas outras ocasiões já completadas foram em 1994 e 2002. Em ambas a arroba demorou 5 anos para romper definitivamente os seus picos. Estamos passando pelo pico de 2008. Vou te dizer, esse mercado está de sacanagem com a gente. A coisa está caminhando exatamente no meio do que aconteceu antes! Nem um, nem outro. Não se parece com 1999 e nem diretamente com 2002. Ah, mas se parece com 1994, caro leitor. Sim, lembra um pouco 1994, sim. Não sei se parecerá na extensão, não sei se aqui demoraremos cinco anos para romper o pico de 2008 dos R$94,00/@, mas no tipo de movimento da arroba, sim. Observe que o swing de ambos. Guardadas as devidas proporções, se parecem sim. Se for isso mesmo, responde a nossa pergunta. Pelo que a economia hoje mostra nos jornais, se parece bastante com 1994. Lá atrás também foi Copa do Mundo. Lá atrás o poder aquisitivo da população aumentou como hoje. A arroba está muito próxima de fazer o piso, se já não o fez. Se for parecido com 1994, então daqui a pouco a arroba começará lentamente a só olhar para a frente, para cima, para o otimismo e para o crescimento. Vamos ver. Abaixo temos o gráfico do contrato de out/10 negociado na bolsa. Observe aqui uma coisa. Agora estamos com a arroba para outubro sendo negociada ao redor de R$85,00/@. Hoje o indicador à vista está sendo negociado por volta de R$80,00/@. O mercado está esperando uma alta de apenas R$5,00/@ de agora até o final de outubro. Isso é bom ou ruim? Observe a tabela abaixo. A expectativa para a entressafra de 2010 é de apenas 6% de alta. É a mais baixa expectativa da história! É ou não é fascinante esse mercado? Já foi dito que o pessoal de mercado anda de carro olhando somente para o retrovisor. Esse ano é a melhor prova disso. A gente ganha pouco, mas se diverte! Ano passado tivemos o pior desempenho entre final de maio e o efetivo de outubro, -2%, como demonstrado na tabela. O que o pessoal faz? “Ah, vamos derrubar as expectativas para outubro, já que ano passado veio muito ruim! Esse ano vai ser igual! Não importa 16 anos de história de preços, não importa que historicamente, maio a outubro, a arroba sobe em média 20%. O que importa é o que aconteceu ano passado, e quer saber? Este ano vai ser pior que ano passado!” Essa é a mentalidade do mercado atualmente. É por isso que há uns dias disse que esse mercado está muito arriscado para quem está vendido. O cara está vendendo barato essa entressafra nesses preços. Bom, é isso. Deixe-me ir dormir que amanhã cedo tenho que andar a cavalo em mais pastos.
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