Para os agricultores, este é o melhor e o pior dos tempos. Eles estão diante de uma enorme oportunidade: a população mundial cresce de forma mais acelerada que todos os segmentos setoriais isolados, e cada um de seus componentes precisará comer e beber. E, segundo estimativas, mais de 2 bilhões de pessoas dependem da agricultura para garantir seu sustento.
Mas os desafios são igualmente grandes. Muitos dos 500 milhões de pequenos proprietários rurais, que respondem pela produção de até 80% dos alimentos do mundo, mal conseguem tirar seu sustento com a atividade. Com o crédito muitas vezes negado, eles não conseguem expandir ou investir em técnicas agrícolas modernas.
Na Europa, a mudança da regulamentação deverá eliminar subsídios e aumentar custos. Os agricultores americanos acabam de sair da pior seca de décadas. Em decorrência disso, muitos deles estão sacrificando cabeças de gado por não ter mais condições financeiras de alimentá-las.
Em todo lugar, talvez até sem causar surpresa, as pessoas estão deixando as fazendas em massa. Os jovens estão indo para as cidades e as pessoas que ficam se aproximam da aposentadoria. No Japão a média dos agricultores tem mais de 65 anos, no Reino Unido passa dos 60 e nos EUA, 55 anos.
As partes interessadas - em tese todos nós que comemos, mas na prática governos, sociedade civil e fabricantes que processam a produção - combatem os desafios com a associação de agricultores até o aprimoramento dos insumos e métodos agrícolas básicos.
Como observa o governo britânico, as cooperativas voltaram à moda, duas ou três décadas após aquelas que eram subvencionadas pelo governo terem sido desfeitas.
Esse processo levou ao surgimento de um grande número de organizações de produtores, que se multiplicaram nos últimos 30 anos, a ponto de que um número estimado em 250 milhões de pequenos produtores rurais dos países em desenvolvimento pertencerem a algum tipo de agremiação.
Essas associações possibilitam que os pequenos agricultores consigam insumos a preços melhores, reduzam custos das transações, pulverizem os riscos e obtenham crédito bancário com mais facilidade, além de dar maior poder de barganha com os compradores.
Jim Paice, ex-ministro da Agricultura do Reino Unido, disse que o clamor britânico contra os preços do leite - que recentemente atraiu milhares de produtores para Westminster e fez com que os compradores recuassem em relação aos pretendidos cortes de pagamentos a pecuaristas - foi um exemplo do poder da voz coletiva.
"Os produtores demonstraram que têm capacidade de se unir na adversidade", disse ele a um grupo de 300 pecuaristas em Cumbria.
Para Chris Brett, diretor de sustentabilidade da trading asiática Olam, a resposta é "os produtores rurais se conectarem cada vez mais" e, a exemplo do que ocorre numa empresa, prestarem mais serviços e orientação de prática agrícola, muitas vezes por celular.
A outra arma vista como essencial para os agricultores, sobretudo para os pequenos, é a ciência. Sementes de qualidade superior, resistentes a pragas, a doenças e até as condições climáticas adversas, tanto aumentam a produtividade quanto melhoram a agricultura como atividade econômica.
"Com o passar do tempo, o desafio será verificar se conseguiremos juntar um monte maior de grãos numa propriedade agrícola menor", diz Michael Mack, principal executivo do grupo suíço Syngenta. "Pode-se colher dez vezes mais tomate em um décimo da terra na Índia, mas precisa-se de estufas, e isso exige mais investimento".
A empresa, como outras concorrentes do setor privado e do setor público, já deu passos largos no caso do arroz, sujeito ao ataque de todos os tipos de fungos, insetos e ervas daninha. A produção do cereal exige um trabalho intensivo: a cada sete ou 14 dias o agricultor tem de ir a campo, descalço e transportando um pulverizador nas costas. Atualmente melhores produtos químicos, pulverizados por um aparelho semelhante a uma máquina de cortar grama, diminui o trabalho, o desperdício e aumenta a produtividade.
Os métodos naturais de aumento de produtividade não são menos polêmicos. A fazenda modelo do grupo FAI em Oxfordshire, Reino Unido, que produz carne e ovos para o McDonalds, além de testar novos métodos de produção agrícola, abrigou várias ideias desse tipo. As galinhas ficam aparentemente mais satisfeitas se puderem ciscar sob a sombra de árvores. A mesma sombra atrai as libélulas, que são devoradas pelas galinhas. Em sua bucólica felicidade, as aves se esquecem de brigar entre si e botam mais ovos.
No mesmo sentido, o gado é alimentado com uma mistura de forragem de grama. Esse alimento é mais barato que o milho e a soja, inflacionados pela seca, e, pelo fato de as vacas terem de caminhar para cima e para baixo para obter grama, a prática é vista como mais saudável, sob todos os aspectos.
No entanto, há contrários de que a qualidade do leite e da carne é afetada - o que põe em destaque o fato, indiscutível entre agricultores e economistas, de que consenso é coisa rara até no campo.
Fonte: Valor Econômico. Por Louise Lucas, traduzido por Rachel Warszawski. 17 de dezembro de 2012.
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