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Scot Consultoria

Ganho ambiental do etanol varia com produto e tecnologia


Sexta-feira, 19 de janeiro de 2007 - 09h27

Os biocombustíveis podem possibilitar ganhos importantes na área ambiental, mas essas vantagens não são uniformes, variando conforme a matéria-prima empregada para a fabricação do produto e a tecnologia usada no processo. Com um mercado de etanol funcionando há três décadas, o Brasil já acumula dados que demonstram suas vantagens sobre os combustíveis fósseis em relação, por exemplo, à redução na emissão de carbono, apontada como causa do efeito estufa.


Mas nem o país que se vangloria de ter a maior área disponível para expansão da agricultura no mundo passará ileso no processo de expansão desse setor, sendo alvo de críticas quanto ao desmatamento de áreas com vegetação nativa. O álcool hoje usado no Brasil - na mistura obrigatória com a gasolina, que varia de 20 a 25 por cento, e nos veículos flexíveis - representa uma redução de 30% nas emissões de carbono de todo o setor de transportes do país, considerando a substituição de gasolina ou diesel, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). E a perspectiva é que esse volume aumente. "Em 20 anos, duvido que haverá algum carro a gasolina no mercado brasileiro. Serão todos movidos a etanol", disse o presidente da Unica, Eduardo Pereira de Carvalho, durante o Reuters Global Biofuel Summit.


A cada 100 mil novos carros a gasolina substituídos por veículos flexíveis abastecidos com 100% de etanol há uma redução de 2,4 a 2,5 milhões de toneladas de carbono na atmosfera no período de um ano, segundo dados da entidade. O Brasil tem uma frota de cerca de 30 milhões de veículos. O maior trunfo para isso é a própria cana. O etanol de cana gera em sua combustão nos veículos a mesma quantidade de carbono que a planta absorveu durante seu crescimento. Já no caso do milho, insumo do etanol nos EUA, ou do trigo, na Europa, essa conta não é tão vantajosa, já que esses produtos, diferentemente da cana, precisam primeiro ser convertidos para açúcar, para então virar combustível. Uma etapa a mais no processo representa consumo extra de energia.


Além disso, as usinas brasileiras são movidas pela energia gerada com a queima do bagaço, que já é transportado junto com a cana para as unidades de produção. No caso dos EUA e da UE, usa-se combustíveis fósseis no processamento desses produtos. Deste modo, para cada unidade de combustível fóssil usada na fabricação do etanol de cana, consegue-se oito vezes essa energia. No caso do etanol de milho, a energia obtida é 1,7-1,8 vezes superior à empregada, segundo a Unica. E essa vantagem deve crescer com o desenvolvimento do álcool de celulose, ou mesmo com um aperfeiçoamento das usinas com tecnologias existentes hoje. "Nem mesmo as novas usinas que estão sendo instaladas no Brasil estão buscando os melhores níveis de eficiência (na produção de açúcar e álcool) com a tecnologia hoje disponível", afirmou José Luiz Olivério, vice-presidente operacional da Dedini, maior fornecedora de equipamento para o setor no país.


Restrições

Mas mesmo com essas vantagens, o caminho do Brasil para ingressar em novos mercados não será fácil. A UE, que acaba de propor uma meta de usar 10 por cento de biocombustíveis na área de transportes até 2020, já sinalizou que exigirá de seus possíveis fornecedores certificações de que o produto está sendo extraído de modo sustentável. Ambientalistas apontam que a expansão dos biocombustíveis pode representar um aumento no uso de terras, podendo servir de estímulo ao desmatamento de florestas e ao uso de áreas que atualmente são consideradas reservas. "Estamos trabalhando num tipo de sistema de certificação para assegurar que os biocombustíveis que são importados, ou as matérias-primas, são feitos com uma produção sustentável", disse o porta-voz da Agricultura da Comissão Européia, Michael Mann.


Ele citou que, ao estimular um incremento da produção local de biocombustíveis, o bloco está atento também em não incentivar monoculturas dentro de seu próprio território. Mas o desenvolvimento de um novo mercado, com possibilidades de novos negócios, por sua vez pode se reverter em benefícios para os produtores, que poderiam procurar investir mais na preservação de suas terras. Para Don Endres, presidente-executivo da produtora norte-americana de etanol VeraSun, produtores de milho mais eficientes tendem a engolir os menos produtivos, e acabam promovendo melhora nas práticas de manejo de toda a área. "Ao oferecer um mercado, elevamos o valor e isso permite aos melhores produtores que ampliem suas áreas", afirmou ele, observando que os produtores, de modo geral, têm muito cuidado com o solo e erosão. Analistas no Brasil afirmam também que houve evolução na qualidade do manejo dos canaviais do país. O nível empregado de agrotóxicos é baixo, devido à adoção de métodos naturais para controle de pragas.


Fonte: Reuters. Por Inaê Riveras. 19 de janeiro de 2007.



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