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Scot Consultoria

O peso da carne


Terça-feira, 14 de novembro de 2006 - 12h05

Fiscalização européia nos frigoríficos brasileiros confirmou qualidade do produto nacional. Nos últimos anos, Brasil e União Européia têm travado um duro embate em torno da carne bovina brasileira. Sem constrangimentos, os europeus lançaram mão dos mais diversos expedientes - embargos, imposição de cotas, barreiras sanitárias, sobretaxas - para conter o avanço do produto nacional naquele mercado. Mas por trás dessa batalha comercial, está uma realidade que só agora a União Européia começa a reconhecer: sem a carne do Brasil, o maior exportador do mundo, os europeus seriam afetados por uma grave crise de desabastecimento e teriam que enfrentar uma indesejável disparada de preços. A carne importada do Brasil garante cerca de 30% do total do produto consumido na Europa. Não há dúvidas de que, sem a carne brasileira, teríamos sérios problemas de abastecimento, diz o embaixador da Comissão Européia no Brasil, João Pacheco. A dependência da Europa pela carne brasileira é tão forte, reconhece Pacheco, que, em um cenário extremo, no qual todas as exportações do produto para os países europeus fossem suspensas, a Comunidade não teria como suprir sua demanda. O segundo maior exportador do planeta, a Austrália, está com a produção comprometida com o Japão e os países do Sudeste Asiático. Na própria Europa, em vez de aumentar, a produção de carne bovina está encolhendo. A retirada da carne brasileira do mercado europeu só beneficiaria os produtores irlandeses, que querem aumentar os preços de suas mercadorias, afirma o embaixador. Os irlandeses são os que mais pressionam a Comissão Européia para impor restrições à carne do Brasil. Curiosamente, a Irlanda importa carne brasileira e exporta o seu produto beneficiado, contando com significativos subsídios. Desde 1997, a exportação brasileira para a UE saiu de 40 mil toneladas por ano para 300 mil - estimativa para 2006. Trata-se de um aumento de 550%. Em valores, o salto foi ainda maior: 654% desde 2000, com expectativa de recorde de US$ 1 bilhão para este ano. Não há como ser diferente. A carne brasileira é de ótima qualidade e tem custos de produção muito competitivos, ressalta o presidente da Associação Brasileira dos Exportadores de Carne (Abiec), Marcus Vinícius Pratini de Moraes. Conseguimos expandir nossas vendas para a União Européia apesar de taxas de até 176%, acrescenta. Peso dos impostos Os maiores consumidores europeus de carne brasileira estão na Holanda, na Alemanha, na Dinamarca e no Reino Unido. Mas há países cujas importações do Brasil estão se expandindo acima de 10% ao ano: Itália, Espanha e Portugal. São esses países, por sinal, que têm evitado que as exportações de carne para a Europa fiquem estagnadas diante de tantas restrições. Pratini assegura que, do ponto de vista da qualidade da carne brasileira, não há mais o que a União Européia exigir. Desde janeiro, quatro missões européias vieram ao Brasil verificar as condições em que a carne exportada é produzida. E todas as missões voltaram convencidas de que não há qualquer risco para a saúde dos consumidores europeus. Os nossos frigoríficos investiram pesado para garantir a qualidade do produto que vendem. E mesmo focos isolados de febre aftosa, como se viu em outubro do ano passado, não prejudicam em nada a carne brasileira, pois estão fora do circuito exportador, assinala. Na avaliação do presidente da Abiec, o Brasil precisa enfrentar as barreiras tarifárias. Não é possível que a nossa carne seja taxada em até 176% pelos europeus, e nós só cobremos 35% de impostos sobre os carros importados de lá, como o Mercedes Benz da Alemanha. Precisamos dar um tratamento assimétrico. Se eles punem a nossa carne, também vamos taxar pesadamente os vinhos, os carros, as bolsas e os sapatos que vêm de lá, afirma. Para Fabian Delcross, conselheiro para Assuntos Econômicos da Comissão Européia, diante do volume de carne brasileira exportada para a Europa, não há o que os produtores reclamarem. Dos principais mercados consumidores do mundo, a Europa é a única que compra carne in natura do Brasil. Nem os Estados Unidos nem o Japão consomem o produto brasileiro, alegando problemas sanitários, afirma. Os exportadores vão querer sempre vender mais. Mas nós temos o dever de proteger nosso mercado consumidor, sobretudo em relação à qualidade dos alimentos que importamos. Fonte: Correio Braziliense. 13 de novembro de 2006.
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