• Sexta-feira, 26 de setembro de 2025
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Scot Consultoria

“O culpado não é o boi”: palestra reforça a responsabilidade coletiva na pecuária a pasto

Durante o Encontro de Intensificação de Pastagens, Janaina Martuscello defende que o sucesso da pecuária está no manejo bem feito e na aplicação correta da ciência.


Durante o Encontro de Intensificação de Pastagens da Scott Consultoria, realizado em Ribeirão Preto (SP) nos dias 24 e 25 de setembro, a professora Janaina Martuscello (UFSJ) provocou reflexões profundas ao afirmar que os desafios da pecuária a pasto não recaem sobre o animal. “O culpado não é o boi. A responsabilidade é compartilhada entre produtores, consultores e equipes de campo. Não adianta apontar o dedo. Precisamos agir juntos para que o básico seja feito com excelência”, afirmou. Sua palestra, intitulada “O culpado não é o boi: coletando as evidências do manejo”, trouxe à tona erros frequentes que limitam a produtividade nas fazendas brasileiras.

Com base em décadas de experiência e pesquisa, Martuscello destacou que a maior limitação não está na falta de tecnologia, mas na dificuldade de aplicar corretamente o conhecimento já disponível. Dois gargalos principais foram apontados: a comunicação ineficiente entre ciência e campo, e a resistência de muitos pecuaristas em adotar mudanças simples, mas eficazes. “A tecnologia está na prateleira. O que falta é ela chegar ao pasto e ser bem executada”, alerta. Para ela, não adianta investir em genética, adubos ou suplementos sem dominar os fundamentos do manejo.

Um dos temas centrais foi o manejo de pastagens, frequentemente negligenciado, mas responsável por até 80% da eficiência na produção animal. A palestrante explicou que a intensificação sustentável não se trata de produzir mais forragem, e sim de usá-la melhor. Manejo mal feito, como o uso indevido de pastos rebrota durante transições climáticas, causa problemas como diarreia nos animais e desperdício de recursos. Janaina critica ainda a prática de usar suplementação como “muleta” para corrigir erros de manejo: “O pasto continua sendo a forma mais barata e eficiente de alimentar o rebanho”.

Outro alerta importante foi sobre a má formação dos pastos, ainda comum em muitas regiões. Falta de análise de solo, ausência de calagem e uso de sementes de baixa qualidade são falhas graves. “Isso é inadmissível. Sem raízes profundas e bem nutridas, o capim não suporta o pastejo e o ciclo de degradação se inicia cedo”, disse. A especialista também destaca o papel fundamental do fósforo, nutriente muitas vezes negligenciado, mas essencial para o enraizamento e o vigor das plantas. “Como é que o boi vai devolver fósforo se ele nem consumiu?”, questiona, em tom crítico.

Encerrando sua participação, Martuscello reforça que a verdadeira revolução na pecuária pode vir do básico bem feito - como o uso estratégico do calcário, o respeito à altura ideal do pasto e o planejamento forrageiro. Para ela, o sucesso sustentável não está em adotar tecnologias de ponta a qualquer custo, mas em conhecer profundamente os limites e potenciais da fazenda. “A maior inovação pode estar naquilo que muitos já sabem, mas poucos fazem: manejar bem o pasto”, conclui.

Matéria originalmente publicada em: “O culpado não é o boi”: palestra reforça a responsabilidade coletiva na pecuária a pasto

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