Durante o Encontro de Intensificação de Pastagens, em Ribeirão Preto, especialistas apresentaram soluções práticas para o uso sustentável de ingredientes úmidos na alimentação de ruminantes.
Durante o Encontro de Intensificação de Pastagens da Scot Consultoria, realizado nos dias 24 e 25 de setembro em Ribeirão Preto (SP), o pesquisador Luiz Gustavo Nussio, da Esalq/USP, apresentou a palestra “No rastro da eficiência: estratégias de conservação de coprodutos úmidos de etanol de milho”. O tema, focado nos desafios e soluções para o uso de ingredientes como o WDG (Wet Distillers Grains), destacou a necessidade de adaptar a cadeia produtiva para lidar com a alta umidade e instabilidade desses materiais. “Nossa maior condição de desafio é criar condições de estabilidade de estocagem desse produto na propriedade”, alerta Nussio.
Além das dificuldades no campo, como a rápida deterioração por oxidação e crescimento de fungos, o especialista ressaltou também os gargalos logísticos enfrentados pelas usinas produtoras. Com grandes volumes sendo gerados em poucas horas, a agilidade no escoamento se torna vital para evitar perdas. A integração entre indústrias e pecuaristas, segundo ele, é essencial para equilibrar oferta e demanda. Estruturas inadequadas, como armazenamento no solo, podem causar perdas superiores a 50%, enquanto soluções como silos-bag ou estruturas de concreto reduziram esse índice para até 7%.
Estudos conduzidos pelo Grupo Nutripura em parceria com a FS mostraram resultados expressivos em desempenho animal com o uso de coprodutos úmidos. Em dietas com até 80% de inclusão do ingrediente, o ganho de peso dos animais superou 1,7 kg/dia, com melhor eficiência alimentar e redução de consumo de matéria seca. “É raro encontrar um produto com capacidade de se auto-justificar na dieta e ainda trazer harmonia dietética”, pontua Nussio, reforçando o potencial técnico e econômico desses ingredientes.
Outro avanço apresentado foi o uso de ensilagem mista, combinando o coproduto com ingredientes secos como casca de soja, milho ou palhada. A técnica, inspirada em estudos internacionais, mostrou-se eficiente em melhorar a estabilidade aeróbica e reduzir perdas na estocagem. Em um dos testes, a perda de matéria seca caiu para apenas 8%, número considerado excelente diante da média de mercado. A estratégia também simplifica o fornecimento da dieta nas fazendas, otimizando tempo e mão de obra.
Para o futuro, o uso de capim jovem como base para silagem, enriquecido com até 20% de coproduto úmido, surge como uma alternativa promissora. Essa combinação atingiu níveis ideais de carboidratos solúveis para fermentação, resultando em um produto com alto valor nutritivo, boa estabilidade e baixas perdas. “O avanço técnico e a compreensão das particularidades desses coprodutos representam um dos legados mais importantes da nutrição de ruminantes no Brasil”, conclui o palestrante, encerrando uma das apresentações mais aguardadas do evento.
Matéria originalmente publicada em: Conservação de coprodutos úmidos avança com novas estratégias nutricionais
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