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Scot Consultoria

Grupo mantiqueira surfa no aumento do consumo de ovos, mas alta dos custos de produção é desafio


Sexta-feira, 25 de junho de 2021 - 14h37

Ovos: consumo médio nacional é de 251 unidades por ano em comparação com 230 no mundo
Foto: Wilton Junior/Estadão


Por Julliana Martins


São Paulo, 25/06/2021 - O aumento do consumo de ovos no Brasil no último ano impulsiona os resultados do Grupo Mantiqueira mas traz para a empresa o desafio de administrar a alta dos custos de produção, sobretudo com o milho usado para ração. No primeiro trimestre de 2021, as vendas cresceram 20% em relação a igual período de 2020 e essa é a alta esperada para o ano. Já o faturamento deve ser 30% maior. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o consumo de ovos em 2020 avançou 8,7% ante 2019, de 230 para 251 per capita/ano. Para 2021, a projeção é de alta de 6%, a 265 per capita. O cenário não poderia ser mais favorável para a empresa avícola. Mas a valorização dos grãos utilizados para alimentação animal tem obrigado as empresas do setor a anteciparem o descarte de matrizes mais velhas e diminuírem a produção, diz ao Broadcast Agro o presidente do Grupo Mantiqueira, Leandro Pinto. Ele ressalta que, no último ano, os preços do milho e do farelo de soja subiram 100% e 80%, respectivamente, enquanto o ovo se valorizou apenas 10% no período. A companhia tem adotado novas estratégias para garantir as margens de lucro dos próximos meses.

"Estamos antecipando descartes de aves mais velhas em dois ou três meses, já que, quanto mais velha, a galinha produz menos e os ovos têm qualidade inferior. Nesse momento, todo lote que não deixa margem de contribuição a gente prefere abater", explica o executivo. "Não tem com produzir com os custos que temos hoje, por isso todo granjeiro consciente está reduzindo o seu plantel. Cada caminhão que você carrega, aumenta o prejuízo".

O aumento dos custos também fez a companhia reduzir a perspectiva de crescimento da produção neste ano. O presidente conta que a empresa vinha investindo para ampliar a quantidade de ovos produzidos e, se não fosse o momento adverso, que reduziu a ocupação de aves nos galpões, a produção seria maior que a do ano passado. Agora, a expectativa é de estabilidade na comparação com 2020.


O caso da Mantiqueira, contudo, é um pouco mais confortável do que o de outras empresas e cooperativas, em razão da sua política de hedge, que garantiu estoques mais robustos de insumos feitos antecipadamente, a preços mais baixos. A maior dificuldade agora é repor esses estoques conforme eles vão se esgotando, afirma Pinto.


Em relação ao faturamento, o saldo positivo se mantém, em função dos estoques feitos antecipadamente, mas também por causa do consumo acelerado de ovos, proteína mais barata e mais vantajosa do que as de frango, suínos e bovina. Somente no ano passado, cada consumidor comeu cerca de 251 ovos, enquanto a média do cidadão mundial é de 230 ovos por ano, conforme dados da ABPA. O presidente da Mantiqueira, Leandro Pinto, vislumbra uma conjuntura positiva para o setor até o fim do ano, com continuidade de vendas.

"As vendas ainda ocorrem porque a demanda existe. O problema do produto nesse momento é o preço, porque hoje não conseguimos repor os estoques do jeito que fizemos antes. Os grãos não devem ter um recuo significativo por agora e os preços das commodities devem ficar nos patamares atuais por mais um ano e meio", afirma. Segundo ele, o alojamento nacional de aves foi reduzido de 10 milhões de aves para 8,5 milhões de aves. "É improvável que os produtores consigam recuperar as margens a ponto de aumentar a produção o suficiente para pressionar as cotações da proteína nos próximos meses", afirma.

O consultor de mercado de ovos da Scot Consultoria, Felipe Fabbri, diz que, de fato, o setor iniciou o ano com um movimento de redução no volume de aves alojadas, na tentativa de mitigar os efeitos dos custos na rentabilidade dos seus negócios. Entretanto, ele afirma que a decisão funcionou como "um tiro no pé" porque os preços subiram momentaneamente no início do ano, mas o consumidor não aceitou muito bem essa alta. "Produtores tentaram se proteger, mas tiveram que arcar com prejuízo durante um determinado período e só agora, a partir de maio, que esse consumo está sendo ajustado", disse ao Broadcast Agro.

Ele afirma que agora o mercado opera com preços mais altos para os ovos nas gôndolas dos supermercados, mas se os consumidores não absorverem esses valores o cenário pode levar a um novo ciclo de baixa do ovo. Segundo Fabbri, a maior queda de braço ocorre entre o atacadista e o produtor, já que o primeiro observa a demanda desaquecida gerando estoques e passa a pagar menos para o produtor. "Quando o preço cai, mas o custo de produção permanece elevado, isso diminui a quantidade de aves no alojamento, o que reduz a produção e eleva os preços novamente", explica.

Em relação às empresas, o analista cita o Grupo Mantiqueira ao mencionar que as operações estão menos apertadas para as grandes do setor, que possuem estoques para a ração animal, além de maior espaço para negociação. A melhor estratégia de negócio, na avaliação dele, é aproveitar oportunidades pontuais, tanto de compra de grãos como de venda dos estoques. "O ideal seria comprar grãos, por exemplo, em dias em que o dólar se desvaloriza e a referência internacional para o milho cai. Além disso, aproveitar momentos de demanda aquecida para comercializar maiores quantidades do produto", diz.

Investimento - O Grupo Mantiqueira dá andamento a um investimento iniciado no ano passado para a construção de uma granja de galinhas livres de gaiolas em Lorena (SP). A pandemia fez a empresa elevar o valor de R$ 100 milhões para R$ 120 milhões e atrasou em seis meses a previsão de conclusão do projeto. Isso porque a empresa tem encontrado dificuldades para obter equipamentos, e teve que lidar com o aumento nos custos de matéria-prima, especialmente do aço. "A ideia era finalizar em meados do ano que vem, mas, além de todas as coisas relacionadas ao custo, tivemos um atraso para trazer a tecnologia da Alemanha, com os técnicos daqui e de lá impedidos de circularem por causa do vírus", comenta ele.


Contudo, o projeto continua. A empresa dobrou a quantidade de aves compradas para o alojamento e mantém o planejamento com o olhar no longo prazo. "Temos responsabilidade com o momento, mas mantemos o planejamento e os investimentos continuam sendo feitos porque acreditamos que depois da tempestade vem a fartura", disse Pinto.


Contato: julliana.martins@estadao.com


Matéria originalmente publicada em:
Grupo mantiqueira surfa no aumento do consumo de ovos, mas alta dos custos de produção é desafio



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