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Scot Consultoria

Mercado firme para o boi


Sexta-feira, 20 de junho de 2008 - 09h21

O consumidor vai continuar enfrentando aumentos nos preços da carne bovina. A cotação da arroba do boi gordo já beira os R$90,00 no mercado de São Paulo. Dados da Scot Consultoria, especilizada em pecuária, indicam que o setor, que já acumula alta de 31,8% no primeiro semestre de 2008, deve continuar inflacionado até final do ano. Alguns especialistas, como Paulo Mustefaga, assessor-técnico do Fórum Nacional Permanente de Pecuária da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), vão além e projetam uma alta que deve perdurar até 2009. Na avaliação de Mustefaga, para recuperar a defasagem dos últimos três anos, os preços da carne bovina teriam de subir mais uns 30%. "Isso, se não houvesse mais nenhum aumento de insumos", acrescenta. Ele argumenta que enquanto o custo de produção subiu 63% no período de fevereiro de 2003 a maio de 2008, a arroba subiu apenas 27% em média. "O sal mineral, principal insumo da pecuária, aumentou 96,5% nesse mesmo período", relata. Dados da Scot Consultoria indicam que entre maio de 2007 e maio de 2008 o boi gordo subiu 44,78% em São Paulo, enquanto os suplementos mineralizados subiram, em média, 78,94%. Uma retração de 19% no poder de troca do pecuarista. Abate de fêmeas Mustefaga lembra que o ápice da crise no setor pecuário ocorreu em 2006 quando, descapitalizados, produtores em todo o País tiveram que abater 37% do rebanho de matrizes. "O abate de fêmeas é o finalizador do mercado. Quando vai mal, o pecuarista vai eliminando as matrizes", explica o técnico. Ao abater mais vacas que bois, explica Mustefaga, os pecuaristas tentam resolver dois problemas: ganhar algum dinheiro e frear o crescimento do rebanho eliminando gastos com mão-de-obra e insumos. A crise de 2006, segundo dados da CNA, resultou no extermínio de cerca de 15 milhões de matrizes em todo o Brasil. De acordo com Mustefaga, esse abate em massa é outro fator que dificulta a estabilização do preço da carne no mercado interno. Com o rebanho reduzido em função da queda nos níveis de reprodução bovina, a pecuária não tem conseguido suprir a demanda cada vez maior de consumo de carne nos mercados interno e externo. "Somente nos próximos dois ou três anos o rebanho estará normalizado, pois é preciso esse tempo para os animais atingirem o ponto de abate", assegura. Com a reprodução em baixa, há na pecuária nacional um produto mais inflacionado que o da produção de carne: o de venda de bezerros. Em Goiás, segundo José Manuel Caixeta Naum, pecuarista do Município de Vianópolis, há dois anos um bezerro custava, em média, R$350,00; hoje, vale até R$620,00. Insumos aumentam até 150% Produtores de carne de municípios localizados no Entorno do Distrito Federal reclamam dos aumentos nos insumos utilizados na atividade agrícola. O pecuarista goiano João Manoel Caixeta diz que apesar de todo o alarde a respeito da alta nos preços da arroba do boi, o comportamento dos produtores, em Goiás, tem sido de cautela. "Não estamos expandindo as pastagens. Há uma capacidade ociosa a ser recuperada", afirma Caixeta. Ele argumenta que nos últimos 12 meses a lucratividade no setor não ultrapassa 5%. O lucro reduzido, alega ele, é motivado pelo aumento assustador nos preços dos insumos agrícolas. Um dos itens mais inflacionados, segundo ele, é o fosfato de cálcio, componente do sal mineral, que de janeiro de 2007 a junho de 2008, subiu mais de 150% em Goiás. "Tivemos também reajustes que já somam mais de 10% sobre o óleo diesel. Isso pressiona os preços, por causa do frete e do uso de maquinário", argumenta Caixeta. O presidente do Sindicato dos Produtores de Bovinos de Corte do Distrito Federal, Paulo Horta, acrescenta que, além dos insumos há também um novo arrocho nas planilhas das empresas rurais, representado pelo reajuste no salário mínimo, em torno de 10%. "Isso causa um impacto considerável, pois cuidar de rebanho bovino exige contratação de muita mão-de-obra para cuidar do pasto e do gado". Renato Simplício, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Distrito Federal (Fape-DF), defende a redução dos impostos sobre os insumos como forma de estimular a produção de carne. "O boi gordo está com preço em alta, mas o custo de produção subiu demais. Para quem acompanha o setor à distância, pode parecer que os produtores estão empolgados com os reajustes nos preços da arroba, mas a verdade é que tivemos muitos prejuízos nos últimos três anos, e ainda não conseguimos sair do vermelho". Consumo cresceu no Brasil e exterior Além dos aumentos nos preços dos insumos, outro fator que contribui para a alta no preço da carne no mercado brasileiro é a crescente demanda do produto no mercado externo. O Brasil, que tradicionalmente exportava carne para a Europa, está direcionando boa parte de sua produção para novos mercados abertos em países asiáticos, principalmente a China. "Nos últimos dez anos, aumentou o poder de consumo de quase meio bilhão de asiáticos. Em qualquer país, quando há uma melhora na renda das pessoas, a primeira coisa que se verifica é um aumento no consumo de proteínas. A carne é uma das principais fontes de proteína, e por isso, os asiáticos estão importando maior volume do produto", avalia Paulo Horta, presidente do Sindicato dos Produtores de Bovinos de Corte do Distrito Federal. Para ilustrar o impacto do crescimento econômico de grandes países como a China e a Índia na economia brasileira, ele explica que estudos indicam que se cada chinês aumentasse em um quilo anual o consumo de carne bovina, isso representaria um acréscimo de importação do tamanho de toda a exportação brasileira. "Se eles comerem carne demais, teremos de triplicar nossa oferta de boi gordo, porque ainda temos a Europa para atender. Essa pressão se agrava mais ainda, pois a Rússia também está interessada na carne brasileira", acrescenta Horta. Preço ainda deve subir, mas pouco. Informações da Scot Consultoria indicam que apenas no mês de maio as cotações da carne bovina tiveram valorização de 9,5%. Levantamento do Centro de Pesquisas Avançadas em Economia Aplicada (Cepea/USP), indica que o quilo do corte traseiro bovino no mercado paulista foi cotado a R$5,53 em maio, bem acima dos R$4,20 registrados no mesmo período de 2008. Levantamentos de algumas consultorias pecuárias apontam redução nos estoques a varejo. Há expectativas de que grandes redes entrem no mercado comprando carne a qualquer momento. Isso permitiria aos atacadistas o repasse das fortes altas dos preços do boi gordo registradas desde o fim de 2007. Em pleno pico de safra o preço da arroba do boi está subindo, época em que normalmente a oferta de gado para abate é maior e, teoricamente, os preços deveriam recuar aos níveis mais baixos do ano. Outros fatores também pressionam os preços, como a elevação do custo da ração (provocado pela alta de preços dos grãos) e aumento das cotações do petróleo e do bezerro para reposição. O zootecnista Fabiano Tito Rosa, consultor de mercado da Scot Consultoria, acredita que a arroba do boi gordo supere os R$90,00 em outubro. Ele justifica que a carne com osso no atacado já tem acompanhado a alta da matéria-prima, e que isso será repassado ao consumidor final. Diferencial Um dos fatores que poderia limitar o consumo de carne bovina é o preço do frango. A veterinária Gabriela Tonini, analista de mercado da Scot Consultoria, disse que no mercado de São Paulo já se observa um aumento de 5% no preço do frango congelado. Isso pode ser um sinal de que a demanda pelo produto está aumentando, supostamente, em decorrência da migração do consumo da carne bovina para as aves. Houve, ainda, segundo Gabriela, um aumento médio de 2,2% no preço da carne de segunda, o que sinaliza que, em decorrência da carestia da carne de primeira, muitas pessoas estejam optando por consumir carnes menos nobres. Dados da Scot Consultoria indicam que, por enquanto, os preços da carne de frango estão 16,8% maiores do que os registrado no mesmo período do ano passado. O quilo do frango resfriado no mercado paulista registrou um preço médio, em maio, de R$2,55, ante os R$2,18 observados em maio de 2007. Apenas no mês passado, as cotações subiram 9,75%, mas recuaram 1,15% na última semana de maio. A diferença de preço entre as duas carnes já está acima de R$3,00, nível em que começam a ocorrer as substituições no mercado das carnes. No mercado, a expectativa é que os preços da carne recuem nos próximos meses, em virtude da queda na demanda com a migração do consumo para o frango, ou os preços da carne de frango subam e reduzam a diferença em relação à carne bovina. Cotação da carne em dólar quebra recordes A cotação do boi gordo em dólar, de acordo com dados da Scot Consultoria, nunca foi tão alta como agora. Em algumas regiões o aumento foi de quase 100% entre maio de 2007 e maio de 2008. Gabriela Tonini, analista da Scot Consultoria, diz que além do aumento de preços (em reais) é preciso levar em conta a valorização do real, pois no referido período, o dólar sofreu desvalorização de 16%. Em janeiro de 2008, a carne bovina brasileira exportada atingiu sua maior média de preços (US$2.327,51/tec). Nem mesmo o embargo europeu ao produto, ocorrido em fevereiro deste ano - por causa de desentendimentos em relação à rastreabilidade - e o preço médio da carne exportada abalou o desempenho deste segmento. No mercado internacional, o preço médio da carne bovina tem se mantido em alta, e com a mesma perspectiva para curto e médio prazos. Isso deve ao mercado aquecido internacionalmente devido à baixa oferta. Mercado futuro A analista de mercado da Scot Consultoria, Gabriela Tonini, acredita que não há mais margem para especulação desenfreada no mercado de futuro da carne bovina. Ela diz que quem se deu bem nesse jogo arriscado foram os investidores que compraram papéis a partir de outubro de 2007 e vieram administrando as apostas até final de maio. Neste período, explica a analista, a arroba teve valorização de quase R$30,00, com reajuste de 42%. A empolgação chegou a tal ponto que as especulações para o mercado futuro bateram o teto de R$100,00, mas recuou nos últimos dias para R$98,50 e R$99,00. Na semana passada, as cotações diárias oscilaram entre R$87,00 a R$90,00. Fonte: Jornal de Brasília. Por Wanderley Araújo. 18 de junho de 2008.
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