• Quinta-feira, 18 de dezembro de 2025
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Scot Consultoria

Mercado encerra o ano com cenário dramático para o leite

Após um primeiro trimestre que parecia promissor, preços despencaram por sete meses consecutivos.


O mercado brasileiro de leite atravessou um ano marcado por contrastes entre margens, produção e consumo. O início do período foi sustentado por um cenário mais favorável ao produtor, reflexo direto da melhora na remuneração do leite e de custos relativamente estáveis.

No primeiro semestre, a produção cresceu de forma consistente, atingindo volumes recordes de captação formal. Margens mais confortáveis no fim de 2024 e início de 2025, clima menos adverso e adoção de técnicas produtivas contribuíram para mitigar os efeitos típicos da entressafra. Em paralelo, a relação de troca do produtor melhorou, impulsionada pela queda nos preços do milho, favorecendo o poder de compra, mesmo em um ambiente de preços do leite pressionados.

No entanto, a demanda não acompanhou o ritmo da oferta. Ao longo do ano, o consumo interno mostrou sinais de enfraquecimento, impactado pela inflação dos derivados e pela menor confiança do consumidor. Esse descompasso pressionou a indústria e limitou os repasses ao produtor. A partir do segundo trimestre, o mercado passou a registrar movimentos atípicos: quedas no preço do leite justamente em meses historicamente marcados por menor oferta.

A zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria, Juliana Pila, nesta entrevista, faz uma retrospectiva e apresenta dados do que motivou este cenário no mercado do leite no país em 2025. 

Sabemos que o preço do leite pago ao produtor trabalhou pressionado ao longo de 2025. O que motivou esse movimento? As margens da atividade foram prejudicadas?

Juliana Pila: O preço do leite pago ao produtor vem registrando uma sequência de recuos. Segundo levantamento da Scot Consultoria, foram sete meses consecutivos de queda nas cotações. A remuneração no campo caiu na comparação feita mês a mês em oito de 11 meses analisados. A queda de preços aconteceu, inclusive, em um momento incomum, no período de entressafra, entre maio e agosto, quando normalmente a oferta de leite diminui.

A pressão de baixa aconteceu devido a produção crescente. Com as margens favoráveis ao produtor no final de 2024 e início de 2025, investimentos foram realizados na atividade, o que elevou a produção. Além disso, em 2025, o clima foi menos volátil. Trazendo em números, a produção inspecionada até o terceiro trimestre aumentou 7,9% na comparação anual, segundo o IBGE, um recorde.

Com a sequência de quedas no preço do leite no campo, as margens do produtor foram ficando cada vez mais achatadas. Em 2025, no comparativo com 2024 (até novembro), a diferença entre o preço do leite ao produtor e o índice de custo de produção, calculado pela Scot Consultoria, diminuiu 10,3 pontos percentuais.

Muito tem se comentado sobre as importações de lácteos. Como ficaram as compras brasileiras até agora? Esse também tem sido um fator de pressão sobre as cotações?

Juliana Pila: Os movimentos de mercado nunca acontecem por um único fator, mas sim por um conjunto de variáveis. Além da produção crescente, a importação de lácteos pelo Brasil se manteve em patamares elevados em 2025, apesar de estar menor no acumulado do ano.

De janeiro a novembro (últimos dados disponíveis), o volume importado de produtos lácteos ficou 5,5% menor que o adquirido em igual período do ano passado, mas ainda assim, estamos falando de um dos maiores volumes importados dos últimos dez anos. Então, produção nacional crescente, importação em níveis elevados e consumo que não vem acompanhando o aumento na disponibilidade são os fatores que têm pressionado o mercado.

E quais são as expectativas para 2026 no mercado do leite?

Juliana Pila: Pensando do lado do produtor, o ambiente tende a ser mais desafiador no próximo ano, com preço, em média, menor que em 2025. Entretanto, para contrabalançar a situação, a tendência dos grãos aponta para uma certa calmaria, o que pode amenizar os custos e equilibrar as margens.

Do lado da produção, esta não deve crescer no mesmo ritmo observado em 2025, em função do preço menor do leite e das margens apertadas.

Para os próximos meses, a oferta maior que a demanda sustenta a expectativa de continuidade de queda nos preços. A recuperação das cotações deve ocorrer a partir do segundo bimestre de 2026, quando a oferta começa a cair na região Sul.

2025 foi um ano de ajuste para a cadeia do leite, marcado por produção em alta, consumo fragilizado e preços pressionados ao produtor. Para 2026, a expectativa é de um ambiente ainda desafiador, com menor ritmo de crescimento da produção e recuperação gradual das cotações apenas a partir do segundo bimestre, enquanto a possível estabilidade nos custos pode ajudar a reequilibrar a atividade. Nesse contexto, o acompanhamento atento do mercado e a eficiência produtiva seguem como fatores-chave para atravessar um período de maior pressão e incerteza.

Juliana Pila

Zootecnista, formada pela Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da Universidade Estadual Paulista, campus de Jaboticabal (FCAV/UNESP), com MBA em Gestão de Negócios pela Pecege USP/Esalq. Atua na área de ciências agrárias, análises e consultoria de mercados agropecuários. Ministra palestras e treinamentos nas áreas de mercado de leite, boi gordo, grãos e assuntos relacionados à agropecuária em geral.

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