Com foco em confinamento, inovação e bem-estar animal, Carlos Martins, diretor do Boitel Martins 3 Agro, mostra como a informação e a tecnificação são essenciais para a sobrevivência no setor.
Foto: Bela Magrela
Em um cenário global de crescente demanda por alimentos e pressão por sustentabilidade, a pecuária brasileira vive um de seus momentos mais decisivos. O setor, que há poucos anos ainda se apoiava em práticas tradicionais, hoje incorpora tecnologia, gestão e eficiência como pilares de uma nova era produtiva. Nesta entrevista exclusiva, Carlos Martins, sócio-proprietário do Boitel Martins 3 Agro, fala sobre os desafios e oportunidades dessa transformação. Com uma visão realista e, ao mesmo tempo, otimista, ele destaca o papel do produtor rural na construção de uma pecuária mais tecnificada, rentável e responsável, capaz de sustentar o crescimento interno e consolidar o Brasil como protagonista na alimentação do mundo.
Scot Consultoria: Nos últimos anos, a pecuária brasileira passou por uma transformação expressiva, marcada pela intensificação, pelo uso de tecnologia e pela busca por eficiência produtiva. No seu caso, essa mudança se materializou com o confinamento iniciado em 2019. Como surgiu essa decisão e o que ela representa para a sustentabilidade econômica da atividade?
Carlos Martins: A pecuária sempre esteve presente na minha vida — desde a minha família, com meu pai, até o que fazemos hoje. A intensificação começou em 2019, quando decidimos investir em confinamento próprio. Começamos com poucos bovinos e hoje trabalhamos com cerca de 5 mil cabeças estáticas. Essa mudança veio da necessidade de aumentar produtividade e competitividade, já que as margens da pecuária tradicional diminuíram muito.
Acredito que quem não se tecnificar vai naturalmente sair da atividade. A pecuária atual exige gestão, informação e eficiência. O produtor precisa dominar tecnologia, conhecer custos e garantir margens, e não apenas se preocupar com o preço da arroba. O segredo está em produzir bem, controlar o custo e buscar alternativas sustentáveis. Nós, por exemplo, investimos em silagem de sorgo, que é uma opção eficiente e viável diante dos desafios climáticos e da presença do javali, que prejudica o milho. Apostamos em lavouras sustentáveis, sem defensivos agrícolas, e no bem-estar animal como eixo central da produção. É isso que o mercado exige: pecuária de precisão, sustentável e financeiramente equilibrada.
Scot Consultoria: A intensificação trouxe também a necessidade de profissionalizar cada elo da cadeia e fortalecer a gestão das propriedades. Em sua visão, qual é o papel da especialização, da troca de conhecimento e do uso de tecnologia para garantir rentabilidade e competitividade no novo cenário da pecuária?
Carlos Martins: A troca de conhecimento é fundamental. O produtor que não buscar informação e tecnologia acabará saindo da atividade. Com os eventos e encontros regionais, tentamos justamente aproximar o conhecimento do campo, mostrando que a pecuária mudou completamente após 2017. Hoje, não há mais espaço para o modelo extrativista — é preciso eficiência e escala.
Acredito que cada produtor deve se especializar: quem faz cria, que a faça bem-feita; quem recria, que invista em genética e nutrição; quem engorda, que busque conversão alimentar e rentabilidade. Essa especialização já é realidade em países como Estados Unidos e Austrália, e o Brasil está trilhando o mesmo caminho.
A pecuária vive agora o processo de tecnificação que a agricultura passou há 10 ou 15 anos. O foco deve ser produtividade por área e eficiência no uso de recursos. Precisamos entender nossos próprios índices — saber o desempenho por lote, por raça, por manejo — e levar tecnologia ao campo.
O brasileiro é competitivo e inovador. Os confinamentos estão crescendo, ninguém está recuando. O produtor quer produzir mais, mas precisa estruturar a base: a cria. É nela que começa o processo produtivo e onde estão as maiores oportunidades de melhoria.
Scot Consultoria: A busca por eficiência reprodutiva e genética é hoje um dos grandes diferenciais do Brasil frente aos concorrentes globais. Como o país pode avançar e consolidar seu papel como principal fornecedor de proteína bovina do mundo?
Carlos Martins: Os Estados Unidos estão muitos anos à frente em inseminação e tecnologia em comparação com o Brasil. Estamos avançando, e acredito que o beef on dairy será um diferencial importante aqui. O rebanho leiteiro brasileiro é grande e tecnificado, com excelente taxa de prenhez, uma oportunidade enorme para produzir bezerros de qualidade, com genética definida e carne superior.
Precisamos intensificar sem expandir área, porque o Brasil já é um exemplo em sustentabilidade: preservamos o território nacional e, em estados como Minas Gerais, apenas 30,0% da área é ocupada com pecuária. Há muito espaço para aumentar a produtividade sem abrir novas fronteiras.
O futuro da alimentação mundial passa pelo Brasil. Temos clima, tecnologia e capacidade produtiva para dobrar nossa produção e continuar sendo o maior exportador e, em breve, o maior produtor de carne do planeta. Para isso, basta investir, integrar conhecimento e garantir que cada elo da cadeia funcione com eficiência. O brasileiro tem esse espírito: é desafiador, inovador e determinado. É isso que vai sustentar o crescimento da nossa pecuária e consolidar o país como o grande fornecedor de proteína do mundo.
Assista à entrevista completa disponível no YouTube da Scot Consultoria. O Benchmarking do Confina Brasil está prestes a sair do forno. Nele, você verá os principais dados e as tendências dos confinamentos do Brasil em 2025. A pesquisa abrange 185 propriedades em 15 estados do país. Clique para saber mais.
Pecuarista e diretor do Boitel Martins 3 Agro (Uberlândia - MG), juntamente com Flavio A. Martins e Flavio N. Martins, sócios do empreendimento. Advogado e líder institucional, possui formação jurídica e trajetória marcada pelo empreendedorismo. Atua com destaque nos setores agropecuário, jurídico e institucional, sendo reconhecido por sua capacidade de gestão estratégica e compromisso com o desenvolvimento sustentável. Representa uma geração que concilia competência técnica, responsabilidade social e visão de futuro.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos