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Scot Consultoria

Deixando a baixa produtividade de lado: como pecuaristas podem aumentar suas perspectivas de ganho

Rubens Ribeiro, professor da UFT, revelou estratégias de fertilidade do solo e os manejos nutricionais que impulsionam a produtividade das pastagens.


Foto: Bela Magrela

Com um estudo de caso aplicado no estado mais novo do país, o Tocantins, o professor da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Rubens Ribeiro, fala sobre estratégias para aumentar a produtividade de pastagens, incluindo recomendações de uso do calcário, adubação orientada pelo consumo de forragem e gestão do custo anual da propriedade. Ele ainda reforçou a importância de investir no conhecimento técnico para resultados consistentes. Ribeiro também destaca nesta entrevista o papel de eventos como o Encontro de Intensificação de Pastagens, realizado pela Scot Consultoria, como espaço de troca de experiências, aprendizado técnico e networking, reforçando que o sucesso na pecuária depende de informação de qualidade, planejamento, inovação e acompanhamento constante.

Scot Consultoria: Professor, ao longo da sua trajetória no Tocantins, o senhor pôde observar um salto grande de produtividade no estado. Quais foram os principais pontos de mudança na pecuária local e na adoção de técnicas?

Rubens Ribeiro: Mudar a mentalidade do sistema produtivo não é fácil, mas a partir do momento que os casos de sucesso acontecem, a comunidade produtora começa a observar e aquilo se reproduz na região.

Em 2004, nós fizemos o primeiro caso de sucesso. Conseguimos intensificar uma fazenda de 0,7 UA por hectare para 3,6 UA/ha, ou seja, 18 cabeças por alqueire tocantinense. Isso foi uma quebra de paradigma, mostrando que era possível intensificar.

Já em 2012, quando começou a onda dos rotacionados, fazer rotacionado no período chuvoso é muito mais fácil do que intensificar uma fazenda de pecuária o ano inteiro. As pessoas começaram a observar isso.

E foi interessante porque eu escutei muito de produtores onde eles diziam: “Eu estava pensando em adquirir mais uma propriedade e eu não vou fazer esse investimento, eu vou intensificar a minha propriedade porque é mais fácil fazer a gestão da propriedade em uma equipe que eu já tenho.”

Então isso motivou os produtores, um depois do outro, a fazer esse dever de casa. Depois disso, acho que o Tocantins deu um passo à frente mais rápido sobre a questão de investimento. Os bancos entenderam rapidamente que era mais interessante subsidiar o desenvolvimento tecnológico na cadeia produtiva do que manter um teto produtivo baixo, com risco para o produtor e risco para a instituição do banco.

Acho que isso ajudou e vem contribuindo ao longo do tempo.

Scot Consultoria: Professor, o senhor foi um dos palestrantes do Encontro de Intensificação de Pastagens. O que o senhor abordou na palestra?

Rubens Ribeiro: Eu trouxe para o evento uma resposta ao desafio que me fizeram. Caminhar por uma trilha que levasse à produtividade.

Nessa caminhada, eu usei as ferramentas que eu tinha — a “botina” que eu tinha era fertilidade, nutrição e indução fisiológica. Então, eu trouxe para o evento o que a gente tem de mais recente em mudanças de conceitos para melhorias, para o uso do conhecimento de fertilidade na melhoria da produtividade de pastagens, a partir do conhecimento que a gente tem, é claro.

A primeira mudança que apresentamos foi com relação às recomendações de calcário. Expliquei que solos com capacidade de troca catiônica (CTC) menor que 6,6 ficam difíceis para o uso das ferramentas, que eram as metodologias de saturação por base e neutralização de alumínio, pois não se encaixariam mais para essa condição. Expliquei que o poder “tampão” desses solos está um pouco maior do que a gente esperava, e as elevações de pH não eram alcançadas conforme o esperado.

Voltamos no tempo, ao ano de 1976, pegamos a metodologia antiga de curva de incubação, aplicamos nos principais solos cerrados do Brasil e geramos modelos matemáticos para fazer uma recomendação mais assertiva, alcançando o valor de pH desejado. Isso foi a parte de calcário.

Na parte de adubação, buscamos dar uma sacudida na mentalidade, tornando-a mais progressiva. Ao invés de pegar uma tabela e gerar uma recomendação, nós invertemos o raciocínio: saímos do desejo da lotação animal, chegamos ao consumo de forragem necessário para manter aquela lotação, e a partir do teor nutricional dessa forragem, gerávamos a recomendação de adubação. Ou seja, o sistema se torna sustentável quando eu coloco no sistema de produção exatamente o que a planta precisa para atender à resposta em produtividade. Mostramos também quanto custava isso e como pagar dentro do sistema.

Depois, reafirmamos a ideia de que é importante pensar no custeio anual. O meu sistema de produção tem um custo anual, e esse custo precisa ser pago com a produção daquele ano, sem alongar o sistema por dois ou três anos sem investimento, sem repor o que foi consumido, deixando a conta acumular e pagar só no terceiro ano. Isso nos remete a agir na pecuária como a soja, como a agricultura faz. O custo de produção anual é pago no mesmo ano, e o lucro é retirado dentro do mesmo ano. E assim devemos fazer na pecuária também.

Scot Consultoria: E para encerrar, qual recado o senhor deixaria para quem não pôde participar do encontro deste ano?

Rubens Ribeiro: Olha, foi o primeiro ano que eu participei presencialmente. A discussão técnica é aprofundada, e a oportunidade de encontrar pessoas que estão desenvolvendo raciocínio e conhecimento, podendo contribuir, tirar dúvidas ou trocar experiências, é uma das características marcantes do evento.

A estrutura de organização é muito bem montada, e a receptividade no evento é elogiável, o que diferencia este evento de outros similares. A possibilidade de networking é muito grande, sendo benéfica tanto para as empresas que participam quanto para os produtores que buscam conhecimento. Além disso, promove a transferência de experiência entre produtores e entre empresas e produtores.

Em 2026, o Encontro de Confinamento e Recriadores já tem data marcada, de 7 a 10 de abril em Ribeirão Preto/SP, e em breve será divulgada a data para a próxima edição do Encontro de Intensificação de Pastagens. Fique atento ao nosso site e às redes sociais para acompanhar as novidades e garantir sua vaga.

Rubens Ribeiro

Engenheiro agrônomo (Universidade do Tocantins, 1999), mestre (Solos e Nutrição de Plantas, UFLA, 2001) e doutor (Solos e Nutrição de Plantas, UFV, 2010). É professor pesquisador na Universidade Federal do Tocantins nos cursos de agronomia e orientador na área de Produção Vegetal, com pesquisas em fertilidade do solo, aproveitamento de resíduos como fertilizantes, correção da acidez e balanço nutricional em soja e forrageiras.

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