Foto: Bela Magrela
Scot Consultoria: Após passar por um período desafiador como nos últimos dois anos, 2024 trouxe um alívio para o pecuarista brasileiro no último trimestre. Quais foram os principais pontos de atenção deste ano para o mercado do boi?
Alcides Torres: Nós tivemos em 2023 e nos três primeiros trimestres de 2024 uma oferta muito grande de fêmeas. O que é uma das características de baixa do ciclo de preço pecuário. E por que aumenta o abate de fêmeas? Porque a cotação de bovinos para reposição ficou muito baixa e o criador precisa fazer caixa, já que as despesas deles não diminuem. Na melhor das hipóteses, elas se mantêm.
Então, ele é obrigado a, além de vender a produção dele, que é o bezerro, vender também as matrizes, o que exerce uma pressão de seleção forte em cima do próprio rebanho. Isso tem uma duração e, quando o estoque de fêmeas já foi praticamente todo levado ao abate, tem-se uma redução de oferta e a cotação começa a subir, sendo essa uma das razões.
A outra razão é que viemos de uma seca intensa em 2024 e uma das maiores dos últimos anos, isso fez com que a oferta também aumentasse.
Outro fator que serviu também para retroalimentar tudo isso foi a exportação, que mês a mês foram de bom desempenho, e o Brasil deve terminar esse ano com recorde. Além disso, sem entrar em méritos de estratégias governamentais, houve estímulo ao consumo interno com aumento do rendimento médio do brasileiro, menor desemprego e um preço da carne, até meados de agosto, em patamar menor comparativamente aos mesmos meses em 2023 – fato que mudou após a alta da arroba do boi gordo.
Scot Consultoria: A China realizou a habilitação de novas plantas frigoríficas para exportarem ao país no primeiro trimestre de 2024. Diante disso, qual foi o impacto desse processo, considerando volume exportado e preços? O mercado externo merece destaque em 2024, com recorde de exportação. O que podemos comentar além de China? E o que esperar do setor para 2025?
Alcides Torres: Bom, quanto mais plantas habilitadas a exportar, melhor. E quanto mais plantas habilitadas a exportar, menor a cotação do “boi China”.
E o que é o “boi China”? O “boi China”, grosseiramente, é um bovino com até 30 meses de idade, ou seja, um bovino precoce para os padrões brasileiros. O “boi China” vai virar o “boi Brasil”, porque é o que traz mais renda para o produtor e o mercado estimulou esse tipo de produção, que é o preconizado pela agronomia, pela bovinocultura, zootecnia, entre outros.
Essa revolução na produção brasileira acabou acontecendo, direcionada pelo mercado. Com a ampliação de plantas para a exportação para a China, mais estímulo isso deverá trazer aos avanços produtivos – é claro que há o ponto de atenção quanto ao consumo chinês, mas, por ora, não há no radar nenhuma expectativa de desaceleração do consumo pelo país – ao menos, não é o que indicam as previsões para 2025.
Outro ponto importante - em um dos encontros promovidos pela Scot Consultoria, o Encontro de Confinamento e Recriadores, um dos cenários apresentados foi de que, se mais plantas fossem habilitadas a exportar para a China, a cotação da tonelada de carne exportada para lá diminuiria. E foi o que aconteceu.
Devemos nos lembrar que, durante o “boom” de compras chinesas iniciado em 2018/2019, o país vivia uma crise sanitária em seu rebanho de suínos, o mundo viveu uma pandemia e, aí, as coisas ficam confusas e o mercado foi muito afetado, julgo dizer que até “saindo” dos trilhos.
Um dos fundamentos do mercado é: se tem mais gente oferecendo um determinado produto, o preço cai. A cotação da carne para o mercado chinês, entre 2021 e 2022, estava em torno de 7 a 8 mil dólares a tonelada, e hoje está entre 4 e 5 mil dólares. O mercado chinês não é mais um mercado que paga um diferencial em preços, mas sim trabalha com grandes volumes.
O Brasil tem batido recorde na exportação ano após ano, isso faz com que comecemos a pensar até quando isso durará. A pecuária brasileira se estruturou para fornecer continuamente uma quantidade grande de bovinos para o abate. Será que a China continuará sendo um parceiro comercial interessante para o Brasil? Antes do ano terminar, em outubro, já consolidamos um recorde. E a expectativa do mercado é de que o Brasil seja o grande líder da exportação de carne bovina.
Acreditamos que 2025 será, novamente, bom para a exportação de carne bovina. Esse ano foi excepcionalmente bom, porque o nosso grande concorrente, que são os Estados Unidos, estão com o menor rebanho da história, e, até que seu rebanho seja recomposto – nos EUA o período é mais curto, de três a quarto anos, no Brasil esse período é de quatro a seis anos – todos os outros países devem buscar outros fornecedores, inclusive os norte-americanos.
Pensando de maneira comercial, a continuidade do ciclo de baixa brasileiro para os EUA é interessante, principalmente com a desvalorização do real ante ao dólar. Eles compram nossa carne pela “metade” do preço e vendem lá como se fosse um produto interno, porque, quando fabricam o hambúrguer, não se sabe se é Angus, Zebu ou “tatu com cobra”, o que, por ora, está sendo bom para os importadores de carne norte-americanos.
Scot Consultoria: E, em relação ainda a exportação, o senhor acha que o cenário para a rastreabilidade aqui no Brasil vai mudar no curto e médio prazo?
Alcides Torres: Esse é um dos pedidos. Naturalmente a rastreabilidade é importante, porém, o que há de rastrear, não é o bovino, e sim o pecuarista. Para o boi, que é uma commodity, ter “carteira de identidade para o bovino” significa aumento de custo, são impostos indiretos. Existe toda uma campanha global para fazer com que o custo de produção no Brasil suba, e a parte perversa disso é que, se sobe o custo de produção no Brasil, sobe o custo de produção da carne no mercado interno, também. Temos que pensar que ainda tem uma grande parcela da população vivendo com R$22,00 por dia, isso é, à beira da linha da miséria. Então, para atender o mercado externo, nós não podemos esquecer o mercado interno, que consome 70,0% da produção, e as autoridades brasileiras deveriam dizer que para garantir a origem do bovino, tem que ser com relação ao pecuarista e não ao bovino, porque afinal, nós já somos monitorados, não é mesmo? Todos temos carteira de identidade, CPF, e o governo sabe exatamente quanto a gente ganha, quanto a gente gasta e assim por diante.
Scot Consultoria: A vitória de Donald Trump como resultado das eleições estadunidenses pode resultar em um cenário no qual o Brasil ganha mais espaço no mercado chinês? De quais outras formas o desdobramento desse resultado pode afetar o Brasil?
Alcides Torres: Vai depender da “bronca” entre chineses e norte-americanos. A eleição do Trump, se ele mexer, economicamente falando, com a China, o mercado deverá sofrer uma barbaridade, pois é lá onde está o grande consumo atualmente.
Não interessa se é o Trump ou quem quer que seja, o país é uma república e não uma monarquia. O governo republicano é mais favorável a transações comerciais do que o governo democrata. Mas, se essa bronca com os chineses chegar, o Brasil tende a se beneficiar. Foi o que aconteceu no governo republicano passado e melhorou muito nosso relacionamento comercial com a China, não só com relação a carne bovina, mas também com a exportação de grãos.
Scot Consultoria: Analisando o ciclo pecuário, pode-se dizer que há indícios do início da virada do ciclo, entrando na fase de alta? Quais fatores permitem identificar esse momento?
Alcides Torres: Olha, quando você faz essa análise na safra, ela tem uma luz e quando você faz na entressafra, tem outro tipo de luz. Estamos na safra agora, todos estão otimistas. Então, você acha que esse cenário vai se perpetuar, mas só saberemos disso ao longo do ano.
No primeiro trimestre, normalmente, aumenta a quantidade de vacas destinada ao abate em função da estação de monta, ninguém fica segurando vaca vazia e novilha vazia na fazenda. Então isso tudo vai para o abate e no segundo trimestre, aí sim, você já tem um quadro mais claro do tamanho da oferta de fêmeas.
Em resumo, o que vai determinar se o ciclo já virou ou não, é a quantidade de matrizes ofertadas no primeiro semestre do ano que vem. Se a oferta for pouca o suficiente para manter os preços no nível elevado, aí nós podemos até exagerar e dizer que a entressafra desse ano já vai emendar com a entressafra do ano que vem, e aí o ciclo virou. Mas, hoje, é cedo para dizer isso.
Scot Consultoria: Diante do cenário de pressão dos mercados e a complexidade das operações, o que a Scot Consultoria tem preparado para auxiliar o pecuarista em 2025?
Alcides Torres: Nós fizemos um balanço em 2024 e, nos últimos 30 anos, nós praticamente acertamos em todos as previsões, porque as nossas fontes de informação são fidedignas, são pessoas comprometidas com o negócio e estão comprometidas com o Brasil e o agro brasileiro.
Nós somos transmissores desse sentimento todo, também monitoramos a produção, o nível de produção, tentamos nos antecipar e, claro, informar aos agentes do mercado o que deve acontecer, já que monitoramos informações como a quantidade de contratos fechados, quantidade de vacas abatidas, quantidade de fertilizante comercializado, tamanho da produção de grãos, como anda o clima no Brasil e no mundo, ou seja, o nosso acompanhamento do ponto de vista da engenharia agronômica é amplo. Usamos todos os recursos para ter essa informação em tempo real. É instantâneo. Assessoramos uma grande quantidade de companhias que estão produzindo insumos, máquinas, equipamento, tudo isso pensando no desenvolvimento do agronegócio brasileiro.
E a agricultura brasileira tem sido nos últimos anos, vetor de desenvolvimento, tanto de desenvolvimento pessoal quanto regional e civil do Brasil. Em que pese que o Brasil tem mais da metade do seu território selvagem ainda, mas, por quanto tempo? As gerações futuras são quem vão decidir de que forma vai ser a ocupação do solo e temos que ocupar mesmo, porque nós estamos assistindo guerra no mundo inteiro e, milagrosamente, não temos nenhum tipo de interferência desastrosa.
Então o Brasil precisa aproveitar isso e compor com o mundo, a sua posição de grande fornecedor de alimento e, dessa forma, contribuir decisivamente para a segurança alimentar e desenvolvimento, além do Brasil, no mundo todo. Então, nesse sentido, a Scot Consultoria é imbuída desse espírito universal da liberdade, do mercado etc., adequando a produção ao consumo e ao poder aquisitivo da população para promover desenvolvimento.
Scot Consultoria: O que os pecuaristas podem esperar para o “Encontro de Confinadores e Recriadores”, que vai acontecer de 8 a 11 de abril de 2025, em Ribeirão Preto, e dos outros dos projetos que a Scot tem para 2025?
A Scot promove três encontros durante o ano, encontro de confinamento e recriadores, encontro de intensificação de pastagens, e o de encontro de analistas. São eventos que além de ter informação, tem ali um encontro de pecuaristas cerebrais, gente que usa a cabeça, que sabe o que o é lucro, a margem é muito estreita e o pecuarista não pode errar.
Então esses eventos compõem as informações digitais que disponibilizamos, e não são pasteurizados, pois lá você conversa com a pessoa, é tudo ao vivo. Nós trazemos os melhores analistas de mercado do Brasil, os melhores técnicos, pesquisadores, os melhores pecuaristas, as melhores empresas, assim o participante está dentro de um encontro refinado.
Também temos duas expedições, uma dedicada à pecuária intensiva, com confinamento e semiconfinamento, chamada Confina Brasil e outra dedicada à cria, chamada Circuito Cria.
Então promovemos esses eventos e expedições com a qualidade e com o cuidado que a gente sempre tem com os agentes de mercado, notadamente os pecuarista, procuramos tratar todos muito bem, com todo o conforto possível, para ter um ambiente cuja informação flua com a maior permeabilidade possível.
E o pecuarista terá a oportunidade de conferir de perto tudo isso no Encontro de Confinamento e Recriadores da Scot Consultoria, que acontecerá de 8 a 11 de abril de 2025, em Ribeirão Preto (SP). Mais informações podem ser encontradas no site confinamentoerecria.com.br
É isso aí.
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