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Scot Consultoria

Mercados do boi e de grãos: expectativas para 2024

Entrevista com o zootecnista e coordenador da inteligência de mercado da Scot Consultoria, Felipe Fabbri

Segunda-feira, 20 de novembro de 2023 - 06h00
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Felipe Fabbri é zootecnista, mestre em Nutrição e Alimentação de Monogástricos pela Unesp de Jaboticabal e coordenador da equipe de inteligência de mercado da Scot Consultoria.


Scot Consultoria: Felipe, o que podemos esperar para o mercado do boi e de reposição em 2024? Deve ser um ano melhor que 2023?

Felipe Fabbri: Em 2023, em função da forte retenção de fêmeas que assistimos em 2021 (a maior de nossa história), a safra de bezerros foi bem ofertada, pressionando os preços da categoria para baixo e levando ao cenário de queda que assistimos no mercado do boi gordo. Considerando que a atual fase de baixa do ciclo pecuário de preços teve início em 2022, com um maior descarte de matrizes do que nos anos anteriores (2020 e 2021), podemos esperar um mercado de reposição um pouco menos ofertado na próxima temporada. Não enxergo como o ano em que viraremos de fase no ciclo pecuário de preços – isso deve ocorrer em 2025, reflexo do forte descarte de fêmeas assistido em 2023 -, mas, esperamos que seja um ano melhor em relação aos preços, tanto para o mercado de reposição, quanto para o mercado do boi gordo (a considerar outros fatores ligados à demanda por carne, principalmente).

Scot Consultoria: Quanto à safra de grãos, quais as suas perspectivas para o próximo ano?

Felipe Fabbri: A última safra (2022/23) foi marcada por recordes no Brasil (com destaque às produções de soja e milho) – apesar da quebra de produção no Rio Grande do Sul, em função do clima – e déficit de armazenagem, levando a uma forte pressão de baixa nos preços. Para a safra 2023/24, espera-se que a área com soja cresça (2,8%) e a produção, em função disso, cresça cerca de 8,0 milhões de toneladas, estimada em 162,4 milhões – novo recorde. Para o milho, em função da queda nos preços e do desestímulo ao produtor, espera-se uma menor área semeada no país e uma produção estimada em 119,0 milhões de toneladas, menor que a obtida na safra passada. O panorama atual deverá ser revisto para baixo, por conta dos efeitos do El Niño no país, que tem atrasado a semeadura da soja e estreitado a janela de semeadura do milho segunda safra.

Scot Consultoria: Com base nas apresentações dos modelos climáticos, o El Niño deve persistir até o início do outono em 2024. Quais os principais impactos que devem ocorrer para o setor agro?

Felipe Fabbri: Estamos assistindo a uma forte onda de calor e baixas precipitações em boa parte do Centro-Norte brasileiro, enquanto no Centro-Sul, o excesso de chuvas e temperaturas elevadas tem sido o desafio, quadro natural causado pelo fenômeno. No mercado de grãos, já se espera que a produção brasileira deva ser menor que as estimativas apresentadas. No caso da soja, está ocorrendo problema de desenvolvimento das lavouras semeadas e a necessidade de ressemeadura em partes do país, o que está atrasando a semeadura frente a 2022 e, provavelmente, reduzirá a produtividade das lavouras. Com o atraso na semeadura de soja, prolonga-se o período para a colheita e estreita-se a janela de semeadura para a segunda safra de milho, a principal no país. Já se espera uma menor produção para a cultura e, com uma semeadura fora da janela ideal, os riscos de menor produtividade tornam-se ainda maiores. Por fim, no mercado do boi gordo, devemos ter pastagens com menor vigor e valor nutricional, o que poderá impactar a oferta de gado de capim no primeiro trimestre de 2024. Todo este quadro colabora com a expectativa de firmeza às cotações dessas commodities.

Scot Consultoria: Em maio desse ano, a exportação brasileira do farelo de soja foi recorde, o que devemos esperar para a exportação de grãos e dos coprodutos em 2024 e nos próximos anos?

Felipe Fabbri: Uma série de fatores colaboraram com a aceleração da exportação brasileira de alguns produtos no último ano (farelo de soja e milho, por exemplo). Tivemos o conflito entre Rússia e Ucrânia (grande exportador de milho), a quebra de produção na Argentina (grande produtor de farelo e óleo de soja), fatores que levaram a uma abertura da China, no fim de 2022, à importação desses insumos brasileiros. Apesar de uma “normalização” quanto aos aspectos internacionais que influenciaram a posição brasileira, a expectativa é de que o espaço conquistado pelo nosso país siga em 2024.

Scot Consultoria: Você acredita que o Brasil deve continuar abrindo novos mercados para a exportação de carne bovina in natura?

Felipe Fabbri: É essencial, para diminuir um pouco da dependência da China. Substituir um cliente como este é, praticamente, impossível em um curto prazo, mas trabalhar com novos mercados é sempre importante. Em 2023, tivemos a abertura da exportação de carne bovina ao mercado mexicano, à Indonésia e à República Dominicana. Há hoje um trabalho sendo desenvolvido no país, pensando na abertura de novos mercados, a retirada da vacinação de febre aftosa tem como objetivo classificar nosso país, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), como zona livre de febre aftosa sem vacinação, status que dá acesso a outros mercados mais exigentes e grandes compradores de carne bovina, como Japão e Coreia do Sul, por exemplo.


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