Terraviva DBO na TV: preço da carne em alta surpreende pecuaristas

A sustentação dos preços, o consumo e até as exportações de carne bovina foram assunto da entrevista que Alex Lopes, analista e consultor de mercado da Scot Consultoria, deu ao programa Terraviva DBO na TV dessa quarta-feira (7), apresentado por Sidnei Maschio.

No bate-papo, dentre os assuntos, além de comentar as táticas da indústria, do atacado e do varejo para controlar o estoque e as margens, Alex explica como o momento ruim da economia influencia no setor.

Veja a entrevista na íntegra:

Programa Terraviva DBO na TV - A falta de gado terminado está grande a ponto de sustentar o preço da carne, mesmo nesta época de consumo raquítico e desmilinguido?

Alex Lopes - O que tem sustentado o preço da carne, além da oferta restrita, é a estratégia dos frigoríficos em manter margens.

Em 12 meses, o preço da arroba do boi gordo em São Paulo subiu 10,0%, as cotações dos cortes sem osso no mercado atacadista subiram em média 23,4% e, no mercado varejista, a alta foi de 20,0%. Portanto subiu menos para o fazendeiro.

Programa Terraviva DBO na TV - Para tentar segurar a cotação da arroba, a indústria fez um grande ajuste em sua programação, com o fechamento de dezenas de frigoríficos e redução dos abates. Como é que isso está influenciando o valor da carne no atacado?

Alex Lopes - Desde agosto de 2014 a quantidade de demissões no setor supera as contratações em mais de 12 mil vagas.

Essa estratégia, cujo benefício deve ter superado o custo, gerou mesmo assim um passivo a ser pago, mais um débito na conta dos frigoríficos, que têm convivido com a alta da tarifa de energia elétrica, mão-de-obra, óleo diesel (frete) e da taxa de juros, que encarece a operação.

Diante disso, os frigoríficos se protegeram, elevando os preços dos seus produtos, a carne bovina.

Programa Terraviva DBO na TV - Para ter sucesso nesse plano, a indústria estava contando com uma produção maior do confinamento, para poder equilibrar a demanda com a oferta neste final de temporada, mas não foi isso o que aconteceu. Como é que o frigorífico vai fazer para continuar controlando o estoque de carne?

Alex Lopes - Provavelmente teremos ainda mais restrição da oferta nos próximos meses, à medida que a entressafra avança.

Mas, por outro lado, as projeções de consumo de carne indicam que pode haver alguma piora. O SPC indicou que 90,0% dos varejistas entrevistados não farão contratações temporárias.

Além disso, a inflação tem subido. Os combustíveis, por exemplo, sofreram mais reajustes recentemente. Ou seja, o mercado deve continuar regulado, pouco bovino disponível e demanda curta, mas com a oferta ditando a alta nos preços da arroba.

Programa Terraviva DBO na TV - Com o preço da carne nos patamares que vemos no frigorífico, qual tem sido o procedimento do distribuidor atacadista em relação ao tamanho do estoque que ele vai manter na geladeira?

Alex Lopes - Como a oferta de boiadas também está curta, os frigoríficos não têm sido obrigados a regularem as compras de matéria prima, tanto é que a arroba não parou de subir com a demanda enfraquecida. O próprio mercado tem se ajustado.

Programa Terraviva DBO na TV - E o varejo, como é que está se virando no meio desse tiroteio?

Alex Lopes - O varejo tem reduzido margens para não comprometer as vendas.

Aqueles sobrepreços de mais de 100,0%, comum em anos anteriores, não existem mais. Atualmente a margem dos varejistas trabalha próxima de 50,0%.

Programa Terraviva DBO na TV - Nessas horas de aperto, a reação natural do consumidor é optar, em suas refeições, por proteínas animais mais baratas. Como é que está hoje essa concorrência entre os diferentes tipos de carne no balcão do açougue?

Alex Lopes - O frango ganha espaço. Não porque o preço tenha caído, mas porque o poder de compra da população diminuiu e isso leva o consumidor a procurar produtos mais baratos.

Com os preços dos cortes mais baratos de carne bovina, compra-se quase o dobro de frango.

Programa Terraviva DBO na TV - Agora em setembro as exportações finalmente apresentaram uma reação, até que razoável, e isso ajudou no escoamento do produto. Qual é a chance de isso continuar acontecendo nos próximos meses?

Alex Lopes - Se o dólar se mantiver nos patamares atuais, isso poderá ajudar bastante a competitividade do produto nacional, mas temos que estar atentos à situação da Rússia e Venezuela, dois dos nossos maiores compradores de carne, que passam por problemas econômicos muito grandes e que têm sido os principais responsáveis pela queda de desempenho dos embarques de carne este ano.