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Scot Consultoria

Rodrigo Paniago comenta as pressões sobre a cadeia da carne bovina


Segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013 - 09h52

Rodrigo Paniago é engenheiro agrônomo, sócio-consultor da Boviplan e presidente da Associação dos Profissionais da Pecuária Sustentável (APPS).


 Entrevista com Rodrigo Paniago


 Scot Consultoria: Como a cadeia da carne tem se preparado para enfrentar as pressões econômicas e também as questões ambientais?


Rodrigo Paniago: A pressão econômica é rotina em qualquer cadeia, mas o elo depois da porteira é o mais forte e mais ágil frente à demanda de mercado. A novidade, por assim dizer, é a pressão ambiental.


No início, como era esperado, houve reatividade, mas com o amadurecimento da relação da cadeia produtiva com a sociedade, o resultado não chega a ser deletério, porém, o elo dentro da porteira é quem, de novo, é obrigado a pagar a conta.


Iniciativas como a da Associação dos Profissionais de Pecuária Sustentável (APPS) e o Grupo de Trabalho de Pecuária Sustentável (GTPS) são resultado deste amadurecimento, funcionando tanto como fóruns de debate sobre o tema pecuária sustentável, como atores de transformação da cadeia, interagindo também com o governo e com a sociedade em geral.


 


Scot Consultoria: A integração lavoura-pecuária-floresta é uma prática crescente?


Rodrigo Paniago: Esta integração é um sistema de produção de grande importância econômica e ambiental, com certeza há uma tendência de crescimento. Contudo, não poderá ser adotado por todos os produtores devido às limitações edafoclimáticas de algumas regiões.


Por outro lado, o sinergismo criado com o uso da pastagem como cobertura morta tem proporcionado ganhos de produtividade em regiões limítrofes e até originado o cultivo de grãos em regiões não tradicionais, justamente pela melhoria nas condições do solo.


Um desafio para sua maior utilização também está na capacidade dos produtores rurais de lidarem com atividades econômicas diversas, tanto do ponto de vista técnico como gerencial. O Paraná e o Centro-Oeste são os locais onde este sistema é disseminado de forma mais intensa, mas há ótimos projetos ocorrendo no Pará e no Tocantins também.


 


Scot Consultoria: Os frigoríficos vêm investindo em sustentabilidade em sua produção e também em relação aos seus fornecedores, os pecuaristas? Quais medidas estão sendo tomadas?


Rodrigo Paniago: Os frigoríficos têm, naturalmente, maior flexibilidade para responder à demanda do mercado. Mas, injustamente, estão recebendo a obrigação de realizar o trabalho de fiscalização, que é de responsabilidade do poder público. Como resultado, passam a monitorar os fornecedores e não só a matéria prima que chega até às plantas frigoríficas.


Esta imposição fez com que diversos deles promovessem, através de programas de fomento, a disseminação das tecnologias para uma produção sustentável de bovinos e, evidentemente, a restrição da compra de alguns fornecedores que, em tese, estão em desacordo com a legislação.


Uma consequência danosa é o direcionamento automático dos animais impedidos de serem adquiridos pelos frigoríficos para o abate em plantas não monitoradas pela saúde pública.


 


Scot Consultoria: A queda da taxa de desmatamento e o aumento da produção de carne bovina são realidades no Brasil. Quais os desafios políticos para que, cada vez mais, estas tendências se firmem?


Rodrigo Paniago: O primeiro é justamente informar a sociedade de que isso está ocorrendo, pois durante o processo de pressão por melhorias ambientais, que culminou com a reforma do Código Florestal, o setor foi caricaturado como o vilão da história.


A sociedade precisa compreender que, sem o investimento na tecnificação da produção agropecuária, não há como o Brasil atender às metas de redução do desmatamento e, ao mesmo tempo, assegurar a produção de alimentos.


Portanto, as entidades que representam a cadeia precisam atuar no sentido de assegurar, junto ao poder público, linhas de financiamento condizentes com a nova realidade. Afinal, o aumento na aquisição de tecnologia pelo pecuarista é o único caminho para que a pecuária possa reduzir a pressão sobre o desmatamento.


 


Scot Consultoria: Buscando a sustentabilidade na produção, a procura pela implantação de boas práticas tem aumentado? Comente.


Rodrigo Paniago: Produzir de forma sustentável na verdade significa ser mais eficiente no uso dos recursos disponíveis. Por isso, naturalmente, as boas práticas serão adotadas pelos produtores.


Contudo, o enfoque em voga é quase que única e exclusivamente na adoção direta de tecnologias. Mas sem o devido aperfeiçoamento na qualidade administrativa da propriedade rural não há como novas tecnologias serem avaliadas de forma adequada, quanto menos serem aplicadas de forma correta.


Para que haja uma capacitação dos produtores rurais, compatível com essa demanda por intensificação da produção por área, antes será preciso aumentar a rede de multiplicadores de conhecimento capaz de transferir estas tecnologias que, felizmente, já desenvolvemos, mas, justamente pela falta de profissionais capacitados, não chega ao produtor rural na velocidade que a sociedade está demandando.



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