A disparada do preço do enxofre, insumo-chave na cadeia dos fosfatados, já provoca paralisações industriais e amplia as incertezas sobre a oferta e os preços dos fertilizantes no mercado brasileiro.
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Em 2025, o mercado de fertilizantes foi marcado por incertezas com a demanda aquecida, restrições de oferta, influenciada por conflitos internacionais, e alta de preços. O cenário persiste no fim do ano, agora com atenção maior voltada aos fosfatados.
Um fator menos perceptível ao produtor rural, porém estratégico para toda a cadeia de fosfatados, tem preocupado: a forte alta no preço do enxofre.
O insumo é essencial na produção de fertilizantes fosfatados, especialmente do superfosfato simples (SSP) e deixou de ser um componente de baixo risco, figurando entre os principais vetores de pressão sobre os custos industriais e sobre a disponibilidade desses produtos no mercado brasileiro.
Figura 1.
Preços do enxofre granulado industrial na China (≥99% de teor), cotados em RMB/tonelada, de 23/9/2025 a 22/12/2025. 
Fonte: SunSirs – Commodity Data Group.
O movimento já trouxe efeitos. Uma das maiores produtoras globais de fertilizantes anunciou a suspensão temporária de linhas de produção de superfosfato simples em unidades no Brasil, justamente em um momento em que o país vinha ampliando o uso de fertilizantes fosfatados de menor concentração como alternativa ao encarecimento de produtos mais concentrados, como o MAP, que segundo a Scot Consultoria, teve um acréscimo na sua cotação de 27,0% entre janeiro e meados de dezembro.
Figura 2.
Preço do MAP granulado no Centro-Sul brasileiro, em R$/tonelada, sem o frete. 
Fonte: Scot Consultoria
A interrupção é um sinal de que a alta do preço do enxofre vai além de um ajuste pontual e configurando-se como um fator capaz de comprometer a viabilidade econômica da produção de determinados fertilizantes.
Mas, qual o papel do enxofre para a produção de fosfatados?
O enxofre é peça-chave na fabricação dos fertilizantes fosfatados porque dele se obtém o ácido sulfúrico, indispensável para converter o fósforo na rocha fosfática em uma forma solúvel.
Na natureza, o fósforo não é prontamente disponível às plantas e, apenas após essa transformação química, ele se torna aproveitável antropicamente.
Na prática, trata-se de uma cadeia integrada. O enxofre é transformado em ácido sulfúrico, o ácido sulfúrico permite a produção do ácido fosfórico ou do superfosfato e esses intermediários dão origem aos principais fertilizantes fosfatados utilizados no campo. Sem o enxofre, esse encadeamento produtivo simplesmente não ocorre.
Por essa razão, o preço do enxofre impacta diretamente os custos dos fertilizantes fosfatados. A elevação do valor do insumo encarece o ácido sulfúrico, pressiona o custo industrial dos fosfatados e acaba sendo repassada aos preços finais pagos pelo produtor rural.
Há fertilizantes fosfatados que não apresentam enxofre na composição final, como o MAP e o DAP, mas isso não significa que o insumo esteja ausente do processo produtivo. Mesmo nesses casos, o enxofre é fundamental na etapa industrial.
Já o superfosfato simples, além de depender do enxofre na fabricação, também fornece esse nutriente diretamente ao solo.
Nos últimos anos, o enxofre deixou de ser um subproduto abundante e previsível tornando-se um insumo disputado no mercado global. A demanda crescente de setores que também utilizam o enxofre pressionou a oferta, que não tem rapidez na sua renovação.
Isso ocorre porque o enxofre utilizado na produção de fertilizantes não é gerado especificamente para a agricultura. Ele é obtido, majoritariamente, como subproduto do refino de petróleo e do processamento de gás natural.
Essa dinâmica torna a oferta de enxofre pouco flexível. Sua disponibilidade depende do volume de petróleo refinado e de gás processado e não da demanda por fertilizantes.
Assim, reduções no refino, paradas para manutenção ou mudanças no perfil energético, conflitos internacionais, reduzem a oferta de enxofre, mesmo em cenários de forte demanda agrícola.
A Rússia, uma das principais exportadoras do produto, é um exemplo claro desse movimento. Após paralisações em unidades, o país reduziu sua produção e reduziu a oferta disponível no mercado. Como consequência, a Rússia deixou de atuar como exportadora e passou a importar, gerando uma disfunção no mercado global e intensificando o quadro de escassez.
Além disso, parcela relevante da produção está concentrada em poucos países e regiões, aumentando a sensibilidade do mercado a gargalos logísticos, decisões comerciais e tensões geopolíticas.
O mercado não trabalhava com a hipótese de paralisação da produção. A expectativa predominante era de alta nos preços no mercado interno e, nesse contexto, a suspensão de parte da capacidade produtiva surpreende e traz sinais negativos para os compradores – o aumento dos preços poderá ser maior que o previsto.
De forma geral, estima-se que as plantas com linhas paradas representem 18,0% da capacidade brasileira de produção de superfosfato simples (SSP). Essa redução tende a gerar a necessidade de aumento de importações e potencial aumento dos custos.
Por outro lado, alguns fatores podem atenuar a situação. O momento no Brasil não é de demanda aquecida, além disso, parte relevante da valorização observada nos últimos meses foi impulsionada por compras antecipadas de fertilizantes voltados para a safra 2025/26.
Mesmo com uma eventual retomada da produção, o episódio reforça um ponto de atenção importante: até que ponto a indústria conseguirá absorver a alta do preço do enxofre, sem repassar esse custo aos preços dos fertilizantes, ou inviabilizar a produção?
No caso brasileiro, onde a produção doméstica de superfosfatados é fundamental para o abastecimento do mercado interno, o cenário gera preocupações adicionais. A menor oferta local aumenta a dependência de importações, eleva os custos logísticos e amplia a exposição do setor agrícola à volatilidade do mercado internacional.
Para o produtor rural, isso se traduz em maior incerteza no planejamento da adubação, pressão sobre os custos de produção e possíveis ajustes nas estratégias agronômicas das próximas safras.
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