Apesar da entrada em vigor da tarifa norte-americana à carne bovina, a exportação está firme. Destaque para a Indonésia, que aumentou o número de fornecedores brasileiros e, para o México, que também deve fazê-lo em breve.
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Originalmente publicado no Broadcast Agro
Em julho, o governo dos Estados Unidos anunciou tarifa extra de 50% à exportação de carne bovina brasileira, a tarifa foi confirmada em 30 de julho e está valendo desde 6 de agosto.
O volume exportado no primeiro semestre foi o maior da história e os Estados Unidos foram, até então, o segundo destino da carne bovina brasileira – atrás, apenas, da China.
A exportação de carne bovina in natura está firme em 2025 e, apesar do anúncio e iminente perda da exportação para os norte-americanos, assim persistiu, tendo registrado, em julho, o melhor desempenho mensal da história e, em agosto, queda de 3% em relação a julho.
Veja, na figura 1, o volume de carne bovina exportada entre janeiro e agosto, ano a ano.
Figura 1.
Exportação de carne bovina in natura, em mil toneladas, nos primeiros oito meses dos anos.
Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria
Perder um mercado relevante em volume e faturamento, é ruim. Mas, o tarifaço pouco deverá mudar o curso do mercado exportador.
Considerando os últimos 20, 15 e 5 anos, a exportação de carne bovina in natura cresceu em volume, preço e faturamento no segundo semestre, em relação ao primeiro.
Veja na tabela 1.
Tabela 1.
Comportamento da exportação de carne bovina in natura no segundo semestre, em relação ao primeiro.
| 1o semestre (A) | 2o semestre (B) | |||||
|---|---|---|---|---|---|---|
| Volume (mil t) | Faturamento (milhões US$) | Preço (US$/t) | Volume (mil t) | Faturamento (milhões US$) | Preço (US$/t) | |
| 2004 | 398,65 | 868,43 | 1.135 | 521 | 1.085 | 1.175 |
| 2005 | 528,31 | 1.160,70 | 1.293 | 554 | 1.251 | 1.243 |
| 2006 | 534,23 | 1.302,13 | 1.415 | 685 | 1.820 | 1.657 |
| 2007 | 694,28 | 1.733,26 | 1.855 | 583 | 1.734 | 1.999 |
| 2008 | 519,86 | 1.900,57 | 2.090 | 495 | 2.074 | 2.135 |
| 2009 | 453,92 | 1.356,90 | 1.653 | 470 | 1.660 | 1.699 |
| 2010 | 485,78 | 1.837,68 | 1.817 | 463 | 2.014 | 1.870 |
| 2011 | 406,46 | 2.023,74 | 2.129 | 412 | 2.137 | 2.326 |
| 2012 | 413,04 | 1.997,63 | 2.162 | 529 | 2.481 | 2.090 |
| 2013 | 523,88 | 2.378,29 | 1.886 | 659 | 2.973 | 1.859 |
| 2014 | 596,45 | 2.721,61 | 1.884 | 620 | 3.013 | 2.101 |
| 2015 | 486,78 | 2.067,81 | 1.859 | 585 | 2.560 | 1.830 |
| 2016 | 571,97 | 2.220,70 | 1.959 | 504 | 2.124 | 2.013 |
| 2017 | 523,94 | 2.173,23 | 2.108 | 682 | 2.897 | 2.048 |
| 2018 | 534,32 | 2.187,77 | 1.967 | 819 | 3.268 | 3.834 |
| 2019 | 688,25 | 2.609,43 | 5.008 | 881 | 3.937 | 5.248 |
| 2020 | 776,61 | 3.447,67 | 5.210 | 948 | 3.999 | 5.100 |
| 2021 | 735,80 | 3.515,24 | 5.488 | 824 | 4.452 | 6.506 |
| 2022 | 927,85 | 5.610,14 | 6.721 | 1.063 | 6.195 | 7.424 |
| 2023 | 882,21 | 4.345,65 | 8.043 | 1.124 | 5.150 | 7.377 |
| 2024 | 1.138,59 | 5.138,09 | 7.498 | 1.407 | 6.520 | 8.277 |
| Variação (B/A) | |||
|---|---|---|---|
| Volume (mil t) | Faturamento (milhões US$) | Preço (US$/t) | |
| 2004 | 30,8% | 25,0% | 3,5% |
| 2005 | 4,8% | 7,7% | -3,9% |
| 2006 | 28,3% | 39,7% | 17,1% |
| 2007 | -16,0% | 0,1% | 7,8% |
| 2008 | -4,8% | 9,1% | 2,2% |
| 2009 | 3,6% | 22,4% | 2,8% |
| 2010 | -4,6% | 9,6% | 2,9% |
| 2011 | 1,4% | 5,6% | 9,2% |
| 2012 | 28,1% | 24,2% | -3,3% |
| 2013 | 25,7% | 25,0% | -1,4% |
| 2014 | 3,9% | 10,7% | 11,5% |
| 2015 | 20,1% | 23,8% | -1,5% |
| 2016 | -11,9% | -4,3% | 2,7% |
| 2017 | 30,3% | 33,3% | -2,9% |
| 2018 | 53,3% | 49,4% | 94,9% |
| 2019 | 28,1% | 50,9% | 4,8% |
| 2020 | 22,0% | 16,0% | -2,1% |
| 2021 | 12,0% | 26,7% | 18,6% |
| 2022 | 14,6% | 10,4% | 10,5% |
| 2023 | 27,4% | 18,5% | -8,3% |
| 2024 | 23,6% | 26,9% | 10,4% |
Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria
Em julho, a exportação de carne bovina in natura foi recorde, com 276,9 mil toneladas embarcadas. Em agosto, caiu 3%, mas com 268,5 mil toneladas embarcadas. Volume excelente.
Dois pontos merecem destaque: a China, que comprou o maior volume mensal de carne bovina do Brasil da história, em julho e em agosto – 158 mil toneladas.
Figura 2.
Exportação brasileira de carne bovina para a China, em mil toneladas, por mês.
Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria
E o México, que no período em questão, assumiu o posto dos norte-americanos e foi o segundo comprador – 28,8 mil toneladas.
Tabela 2.
Destinos da carne bovina brasileira em julho e agosto de 2025.
| País | Volume (kg) |
|---|---|
| China | 316.428.966 |
| México | 28.881.015 |
| Rússia | 23.742.575 |
| Chile | 21.871.852 |
| Filipinas | 20.573.787 |
| Estados Unidos | 19.060.635 |
| Egito | 11.158.806 |
| Itália | 9.734.486 |
| Arábia Saudita | 8.463.412 |
| Israel | 7.859.149 |
| Total - 10 principais destinos | 467.774.683 |
| Total - geral | 545.441.711 |
Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria
Em setembro, a exportação está firme. Até a primeira semana, o volume exportado foi de 78,3 mil toneladas, ou 15,6 mil toneladas/dia, crescimento de 30,8% em relação ao volume exportado em setembro de 2024.
Destaque para o preço médio da tonelada, em dólares (US$5,55/kg), que aumentou 23,1% neste mesmo período.
Destacaremos alguns pontos que devem ficar no radar em setembro.
O mercado internacional está comprador e, somou-se aos bons números, notícias favoráveis ao setor. Uma comitiva do governo brasileiro esteve no México entre o fim de agosto e começo de setembro, buscando ampliar a parceria comercial entre os países.
Do encontro, a notícia de que 14 frigoríficos brasileiros (carne bovina, suína e de frango) deverão ser auditados em setembro, para exportarem carne bovina ao México, segundo o secretário de comércio do Ministério da Agricultura do Brasil, Luis Rua.
O mercado do México é relativamente novo para a carne bovina brasileira – a abertura ocorreu em março de 2023, após mais de uma década de negociações.
O estatus sanitário do Brasil como livre de febre aftosa sem vacinação também colaborou para uma aceleração do processo de abertura de novas plantas – este é um dos requisitos sanitários impostos pelo país.
A abertura à carne brasileira ocorreu em um momento de medidas para controle da inflação mexicana (figura 3).
Figura 3.
Taxa (%) de inflação anual no México.
Fonte: Trading Economics / Instituo Nacional de Estatística e Geografia do México (INEGI)
A ampliação das vendas ao mercado mexicano está ligada à esta política econômica, mas, também, associada a uma oportunidade de mercado – a questão do tarifaço à carne brasileira.
México e Canadá juntos, foram responsáveis por um terço da carne bovina importada pelos norte-americanos em 2024 e, em 2025 mantém posição relevante (USDA).
O tarifaço torna inviável a manutenção da exportação brasileira e abre potencial ao mercado mexicano, ou para triangular as vendas, processando a carne comprada do Brasil e a revendendo, ou vendendo mais da produção interna aos norte-americanos e ampliando o consumo da carne bovina brasileira. De todo modo, ponto positivo ao Brasil.
A Indonésia anunciou, em 8 de setembro, a habilitação de 17 frigoríficos para exportação de carne bovina.
Com a decisão, são 38 unidades habilitadas.
Em 2024, o país comprou 11,4 mil toneladas de carne bovina in natura. Em 2025, até agosto, foram 15,3 mil toneladas. Em 2022 comprou 20,4 mil toneladas.
Figura 4.
Exportação* de carne bovina in natura para a Indonésia, em mil toneladas.
*para 2025, acumulado de janeiro-agosto.
Fonte: Secex / Elaboração: Scot Consultoria
O país é o quarto mais populoso do mundo, com 283,5 milhões de habitantes em 2024, segundo o Banco Mundial e um consumo per capta de carne bovina estimado em 2,5 quilos.
Dados oficiais (BPS Statistics Indonesia) indicam, em 2024, uma produção de carne bovina em 478,8 mil toneladas e um consumo estimado de 679,4 mil t.
A importação de carne bovina, em 2024, foi de 183,2 mil t.
Índia, Austrália, Brasil e Estados Unidos, são os principais fornecedores de carnes – bovina e de búfalo (no caso da Índia) – para o país.
Os Estados Unidos, com a cotação da sua arroba e, consequentemente, de sua carne bovina, em dólares, em alta, tem um cenário mais desafiador para manter o fluxo comercial.
Com o tarifaço à carne bovina brasileira e o anúncio de aumento da importação norte-americana de carne bovina da Austrália (leia aqui), com tarifas mais competitivas, a cotação da arroba na Austrália subiu – consequentemente, o custo para a importação dos compradores da Indonésia, também será impactado.
Espaço e oportunidade para o Brasil aumentar sua posição no mercado local.
Em dezembro de 2024, os chineses anunciaram uma investigação de salvaguarda à produção local de carne bovina, contra os fornecedores internacionais (leia mais).
O prazo previsto inicialmente para uma decisão sobre a importação de carne bovina expirou em agosto.
As autoridades chinesas, no entanto, informaram, no começo de agosto, que a divulgação do resultado, dado a complexidade do tema, foi postergada para o fim de novembro – fator positivo à manutenção da exportação de carne bovina, que, sazonalmente, cresce nos últimos meses do ano.
Mas, a questão gera dúvidas sobre o por vir: uma quota global à carne bovina importada pelos chineses? Aumento de tarifas a todos os fornecedores? Ou, uma nova postergação deverá ocorrer?
Por ora, o quadro é favorável.
Com o reconhecimento, em junho, do Brasil como zona livre de febre aftosa sem vacinação, segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), oportunidades para o atendimento a mercados exigentes estão tomando forma.
O Ministério da Agricultura (MAPA) tem conversado com o Japão, Coreia do Sul e Turquia para tratar da abertura desses mercados. A expectativa é de que até o final de 2025, Japão ou Turquia deverão importar carne do Brasil.
A Turquia é importante comprador de bovinos vivos do Brasil.
Já o Japão e Coreia do Sul, estão entre os cinco maiores importadores globais de carne bovina.
A abertura e conquistas de mercado, não é rápida e depende de uma série de fatores como os aspectos técnicos e exigências sanitárias entre outros.
A concentração das vendas para poucos destinos (vide China), preocupa– vide as crises envolvendo aspectos sanitários (2021 e 2023), que afetaram profundamente o mercado do boi.
Mas, a parceria forte como os chineses permitiu uma boa estruturação das operações e da cadeia produtiva, para que a conquista de mercados nos últimos anos pudesse ocorrer de forma sólida – promovendo diversificação, menor risco à cadeia e robustez aos elos da cadeia.
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