Nesta edição da Carta Boi abordamos pontos que devem afetar os preços do boi gordo nos próximos meses.
Nesta edição da Carta Boi abordamos pontos que devem afetar os preços do boi gordo nos próximos meses.
A quantidade de variáveis que influenciam o mercado e estão na mesa e neste momento faz desta, uma tentativa quase insolente. Por isso, de antemão, ressaltamos que não há bola de cristal, mas desenharemos um cenário esperado.
Segundo o Relatório Focus do Banco Central, as projeções são de queda de aproximadamente 6,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020. No primeiro relatório de junho (05/6), completamos dezessete semanas consecutivas de recuos nas estimativas deste indicador.
Há diversos cenários sobre a curva de recuperação da economia, mas a ocorrência de redução brusca é unânime. Para a carne bovina, isto afeta negativamente o consumo.
No entanto, paralelamente, temos o processo de diminuição do isolamento social. À medida que a circulação de pessoas e dinheiro aumenta, com a reabertura de restaurantes e bares, a tendência é de aumento da demanda. Além disso, o consumo de carne bovina no segundo semestre normalmente é melhor, mais um ponto positivo.
Ou seja, temos um movimento de crescimento do consumo, com menor isolamento, mas o “ponto de chegada” desta demanda será menor que o esperado antes da pandemia, pela situação econômica.
A evolução dos casos pode fazer com que este movimento de reabertura desacelere ou mesmo recue em determinadas regiões, mas redução de isolamento é a tendência nestes próximos meses. É algo a ser acompanhado de perto.
A demanda chinesa por proteínas segue forte e o “resto” do mundo está diminuindo os níveis de isolamento, o que gera os efeitos positivos para a demanda, os mesmos que esperamos para o Brasil em um futuro não distante.
Nos Estados Unidos, com as eleições no segundo semestre, devemos prosseguir com um cenário turbulento frente à China. O presidente norte-americano deve utilizar tensões com a China politicamente, como resposta ao país de origem do vírus. Lembrando que tudo isto impacta o câmbio.
O governo chinês recomendou às estatais que reduzam as compras de soja e carne suína do país. Cabe a ressalva de que no primeiro quadrimestre, as vendas de carne suína norteamericana à China haviam crescido 289% em volume, segundo a U.S. Meat Export Federation (Federação dos Exportadores de Carne dos Estados Unidos).
Não é carne bovina diretamente, mas a demanda maior por carne suína brasileira pode colaborar com os preços da carne bovina no mercado doméstico, diminuindo a pressão sobre a carne de frango e suína nos últimos meses. A propósito, os embarques de carne suína estão fortes.
A Austrália teve plantas proibidas de exportar à China no início de maio, impedimento possivelmente relacionado a questões relacionadas à covid-19, e com declarações de autoridades australianas.
Há quem diga que essa associação (dos embargos à covid-19) é exagerada, mas para quem teve, como nós, a Rússia como um dos principais clientes por muito tempo, sabe que há mais questões relacionadas a embargos que as que possam oficialmente ser adicionadas a uma nota.
Pergunte sobre reposição a um recriador ou invernista. A explicação sobre a oferta atual começa com essa reposta, ou com o sorriso que a mesma pergunta provocaria em um criador.
Desde meados de 2018, as cotações da reposição têm trabalhado em forte alta. Mesmo com o mercado do boi gordo correndo fortemente atrás do prejuízo no segundo semestre de 2019, a reposição seguiu firme na toada dos preços. O mercado não “esticou” subitamente em outubro e novembro, não na mesma magnitude do boi gordo, mas não arrefeceu nos meses seguintes, com a fraquejada do boi gordo.
Preços em alta geram retenção de fêmeas. Segundo os dados parciais do IBGE, no primeiro trimestre de 2020 houve recuo de 9,2% nos abates do primeiro trimestre, na comparação ano a ano. Os números definitivos devem mudar um pouco, mas sem alteração na tendência.
A retenção de fêmeas para a produção de bezerros, valorizados, é o principal vetor da redução da oferta de bovinos para abate.
Com a exigência de animais de no máximo 30 meses de idade pela China, temos uma demanda adicional de novilhas para abate, mas se o observado em 2019 continuar, a retenção de vacas tende a superar em volume a venda “adicional” de novilhas. O resultado é uma oferta menor agora e um efeito, a ser acompanhado, do efeito do abate das novilhas sobre a oferta futura.
Além da disponibilidade geral de gado afetada pelos abates de fêmeas no passado, diminuindo nascimentos, e pela retenção destas atualmente, temos as expectativas para o confinamento.
Enquanto o bezerro valorizado estimula a cria, o boi magro em alta impacta fortemente a viabilidade do confinamento. O contrato futuro para outubro de 2010 chegou à casa de R$176,00/@ em meados de março.
Atualmente (5/6) já está próximo de R$210,00/@, à vista. Com o milho cedendo, devido ao início da colheita da safrinha e à demanda geral pelo cereal afetada pela pandemia, as contas já voltam para o azul, mesmo com os preços do boi magro.
Lembrando que o gado fechado atualmente será ofertado a partir de meados de agosto, se considerarmos que o boi magro “já estava no brete”, só esperando a viabilidade dos futuros e milho. Se a compra da reposição ainda for ser feita, estamos falando de preços futuros de hoje afetando oferta lá para setembro.
A disponibilidade de gado de confinamento do curto prazo é aquela do rebanho fechado em momento de preços futuros muito pouco atrativos. Ou seja, não devemos ter oferta grande de gado confinado por um tempo.
Mesmo mais para o final do ano, esta oferta maior de cocho que pode vir, com a ajuda dos preços futuros, deverá chegar em um momento de exportações em bom ritmo e economia brasileira “rodando” um pouco melhor.
Com isto, esperamos um cenário positivo de preços para o boi gordo, mas sempre sair do risco é uma boa alternativa. Aproveitar um momento otimista dos preços futuros, nesta lacuna de oferta esperada para o curto prazo, para travar mínimos dos contratos para o final do ano, pode ser uma boa alternativa.
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