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Scot Consultoria

Carta Leite - Como agregar valor na atividade leiteira


Sexta-feira, 19 de outubro de 2018 - 15h40


Nos dias 4 e 5 de outubro, a Scot Consultoria realizou mais um Encontro da Pecuária Leiteira em Ribeirão Preto-SP. Esta foi a sétima edição do evento.

No primeiro dia o enfoque foi a agregação de valor como forma de mitigar o risco da atividade e aumentar os ganhos.

De acordo com os dados preliminares do Censo Agropecuário 2017, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de estabelecimentos agropecuários diminuiu 2,0% em relação ao último censo (2006). Para a pecuária leiteira a queda no número de estabelecimentos que produzem leite foi maior,13,3%.

A saída de produtores de leite da atividade é um reflexo dos desafios de manter a rentabilidade do negócio.

A falta de gestão de risco dentro da porteira, os baixos índices zootécnicos, que refletem em baixa produtividade e rentabilidade são fatores que tiram pecuaristas da atividade.

Pensando nisso, apresentamos algumas das estratégias abordadas no Encontro para aumentar o lucro da atividade através da agregação de valor à produção.

Escala de produção

A baixa lucratividade na agropecuária está relacionada muitas vezes com a escala de produção. O aumento da escala possibilita a redução dos custos fixos que estão relacionados à depreciação de máquinas e benfeitorias.

Esse incremento na produtividade pode ser através do incremento tecnológico. Na atividade leiteria, por exemplo, com investimentos na alimentação animal, consegue-se produzir mais matéria-prima (leite cru) sem realizar novos investimentos em infraestrutura. Outro exemplo é o investimento em genética: a seleção de animais que produzam leite em maior qualidade e quantidade.

Verticalização

A verticalização da produção consiste em diversificar o mix de produtos e/ou fabricar a própria matéria-prima, a fim de diminuir a dependência de fornecedores e/ou compradores para obter maior lucro. Na pecuária leiteira, por exemplo, muitos produtores praticam a verticalização com a produção de insumos, como alimentos volumosos e concentrados.

Além da produção de insumos, pode-se também adicionar outra etapa da cadeia, o processamento do leite para a produção de queijos e outros derivados lácteos, aumentando o valor agregado do produto final. 

Contudo, é importante alinhar a produção à gestão da fazenda e se certificar que todos os processos produtivos ocorrerão de forma eficiente.

Agregação de valor

Agregar valor à produção de leite pode estar relacionado à simples capacidade de produzir mais e com melhor qualidade, uma vez que existem laticínios com programas de bonificação por volume e qualidade.

Outra forma de valorizar o produto e passar confiança ao consumidor final é por meio de programas de certificação de qualidade ou sustentabilidade, que são cada vez mais comuns em diversos setores do agronegócio.

Na produção leiteira, um exemplo é a Embrapa Clima Temperado (Pelotas-RS), que criou o Lableite, com a certificação de confiabilidade em segurança pelo Inmetro. O laboratório certifica cerca de 10 mil amostras por mês de leite com selo de segurança alimentar.

Durante o evento, o palestrante Sávio Santiago, gestor de matérias-primas lácteas da Verde Campo, abordou sobre as de Boas Práticas de Produção (BPP), Boas Práticas Sociais (BPS) e Boas Práticas Ambientais (BPA), como forma de orientar e certificar o produtor de leite. Destacou também a importância de um leite de qualidade (matéria-prima) para a indústria.

Conforme mencionado, adicionar outras etapas de produção, também valoriza o produto final, tais como a fabricação de coalhadas, requeijões, queijos e outros derivados lácteos.

Canastra

Em Minas Gerais, na região da Serra Canastra, produtores se uniram e criaram uma identidade regional agregando valor não só pela produção de um derivado de leite, mas pela característica da produção regional e artesanal. 

A comercialização do Queijo da Canastra fora de Minas Gerais só foi possível através da modificação da lei no. 1.283 em 14 de junho deste ano, o que permitiu a comercialização interestadual de produtos alimentícios produzidos de forma artesanal, com características e métodos tradicionais ou regionais próprios. A produção deve empregar boas práticas agropecuárias e de fabricação e deve ser submetida à fiscalização de órgãos de saúde pública dos estados e do Distrito Federal. Essa mudança na lei foi um grande avanço para os produtores da região e está possibilitando a expansão da comercialização do produto.

Nichos de mercado

Outra forma do produtor valorizar o seu produto é observar as tendências de mercado.

A procura por alimentos orgânicos, por exemplo, é crescente em decorrência da associação do alimento como sendo a versão mais saudável. Por isso, muitas vezes o consumo de orgânicos é destinado às crianças e idosos e dietas especiais. O mesmo vale para o leite A2A2. 

O palestrante Anibal Vercesi Filho, diretor do Centro de Leite do Instituto de Zootecnia, explicou que o leite A2A2 não possui a proteína beta-caseína A1, cuja digestão no trato gastrintestinal humano foi relacionada a diversas doenças, como problemas coronarianos, alergias e diabete mellitus tipo 1.

Contudo, no Brasil, ainda não há uma legislação vigente que permite a comercialização deste produto, mesmo com laticínios e produtores interessados na produção de leite A2A2.

Considerações finais

Existem diversas estratégias de agregação de valor capazes de melhorar o aumento da rentabilidade da atividade leiteria. Contudo, a gestão da fazenda deve estar ajustada com o processo produtivo.

O controle de todas as etapas de produção é essencial para mensurar e avaliar onde melhorar, onde cortar gastos, ou em que parte do processo pode-se aumentar a eficiência.

O dia de campo do Encontro da Pecuária Leiteira da Scot Consultoria aconteceu em duas fazendas. A primeira visita foi na Fazenda Rio Pardo (Laticínio Almeida Prado) em Bocaína-SP, produtora de leite de búfalas em sistema de pastejo rotacionado integrado e a segunda visita foi na Fazenda Cravinhos, no município de Cravinhos-SP, que possui usina de beneficiamento e produz leite pasteurizado com marca própria, o Leite da Fonte.

Para ver o que rolou no evento, com fotos, entrevistas, vídeos e depoimentos acesse https://www.scotconsultoria.com.br/encontros/ 

Referências bibliográficas

Anais do Encontro dos Encontros da Scot Consultoria. Bebedouro: Scot Consultoria, 2018, 324p.

Câmara dos Deputados. Disponível em:. Acesso em: 14/10/2018

Embrapa. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Disponível em:. Acesso em: 13/10/2018.

Nogueira. M.P. Gestão de Custos e Avaliação de Resultados. Bebedouro: Scot Consultoria, 2007, 244p.

 


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