A dependência brasileira por fertilizantes importados, a produção nacional e riscos geopolíticos.
Foto: Freepik
O Brasil é importador de fertilizantes, condição evidenciada pelo recorde de 29,4 milhões de toneladas importadas de janeiro a agosto, um aumento de 8,6% em comparação com o mesmo período de 2024.
O crescimento da importação desde 2009 (figura 2) é linear, um aumento mensal de 8,9%. Seguindo essa tendência, a estimativa para 2025 é de importação de 48,2 milhões de toneladas.
Do ponto de vista sazonal (figura 1), a tendencia para as quantidades importadas é de estabilidade durante setembro e outubro. Após este intervalo, projeta-se uma contração nas quantidades adquiridas de fertilizantes até dezembro.
Figura 1.
Variação sazonal da importação de fertilizantes (2019–2024, jan=100,0%), no eixo da esquerda, e importação em 2025 (milhões de toneladas), eixo da direita.
Fonte: COMEX / Elaboração: Scot Consultoria
** HS: 3101, 3102, 3103, 3104 e 3105
Dentre os principais fornecedores em 2025, destacam-se a Rússia (26,9%), a China (23,3%) e o Canadá (12,8%). Esses três países representam 63,0% da importação brasileira.
Quando comparado à produção interna, a dependência fica mais evidente. De acordo com dados da ANDA, a produção doméstica de fertilizantes intermediários* em 2024 foi de 7,0 milhões de toneladas, apenas 14,6% do volume importado no mesmo período.
De janeiro a junho, foram produzidas 3,5 milhões de toneladas de fertilizantes intermediários, o que equivale a 14,5% das importações no mesmo intervalo.
Essa dependência coloca o país em posição de vulnerabilidade, sujeita a riscos como volatilidade de preços, custos logísticos elevados e possíveis disrupções nas cadeias globais de suprimento. Um exemplo marcante ocorreu em 2022, quando o valor desembolsado nas importações foi 2,2 vezes maior do que em 2024, mesmo com volumes importados equivalentes.
Figura 2.
Volume acumulado e gastos com fertilizantes** importados de janeiro a agosto, em milhões de toneladas e em reais.
Fonte: COMEX / Elaboração: Scot Consultoria
* Compostos químicos usados como matérias-primas na produção de fertilizantes mais complexos
** HS: 3101, 3102, 3103, 3104 e 3105
Nesse contexto, a forte concentração das importações - especialmente da Rússia - representa um risco adicional agravado pelas tensões geopolíticas atuais. Há sinalizações por parte da Otan, com apoio dos Estados Unidos, sobre a possibilidade de impor sanções secundárias a países que mantenham relações comerciais com os russos. Caso implementadas, tais medidas poderiam forçar o Brasil a buscar fornecedores alternativos, provavelmente a preços mais elevados, reeditando a crise de custos vivida em 2022.
Zootecnista, formado pela UEMS/Aquidauana, Aquidauana/MS. Atua na área de ciências agrárias, análises e consultoria de mercados agropecuários. Analista de mercado, com elaboração e realização de análises setoriais e pesquisas nos mercados do boi, carne e mercados internacionais, com enfoque para commodities agrícolas.
Receba nossos relatórios diários e gratuitos