• Quinta-feira, 22 de maio de 2025
  • Receba nossos relatórios diários e gratuitos
Scot Consultoria

Manejando a fertilidade do solo: correção e adubação - Parte 1


Quinta-feira, 22 de maio de 2025 - 06h00


Foto: Freepik


Até o texto enviado para este site em abril de 2025, o que escrevi foi baseado em parte do programa que oriento os pecuaristas, que denomino “tecnologias de processos, de baixo e médio insumo”. Neste programa, uma tecnologia de processo é uma técnica de manejo e sua adoção não requer investimentos e custos. Por exemplo: a escolha de espécies forrageiras, os procedimentos para estabelecer uma pastagem, o dimensionamento da infraestrutura da fazenda, o manejo do pastoreio, manejos preventivos e culturais contra plantas daninhas e insetos pragas. Por outro lado, as tecnologias de baixo e médio insumo requerem investimentos e custos, mas relativamente tem baixa e média proporções no custo total. Como exemplo a compra de sementes, as operações de estabelecimento da pastagem, a roçada do pasto, a aplicação de inseticidas e de herbicidas.

A partir desta edição, escreverei uma série de artigos que faz parte do programa que oriento os pecuaristas que denomino “tecnologias de alto insumo”, como por exemplo, a correção, a adubação e a irrigação do solo. A primeira sequência será sobre correção e adubação do solo da pastagem. Mas antes de ir diretamente a este assunto, o objetivo deste artigo é justificar porque no programa de orientação ao pecuarista eu preconizo que a adoção desta tecnologia deve ser somente após a adoção, execução e domínio das tecnologias de processos, de baixo e médio insumos.

A espécie forrageira: a literatura especializada nas áreas de nutrição de plantas e de fertilidade de solo é farta em trabalhos de pesquisas comparando respostas de plantas forrageiras às práticas de correção e adubação, como também à adaptação destas plantas a solos de baixa fertilidade natural, sem correção e adubação. Infelizmente, a maioria conduzido em vasos, ou em canteiros, com a planta submetida a cortes. Estudando os resultados destes trabalhos, conclui-se que os autores encontraram diferenças significativas entre plantas forrageiras.

Por outro lado, ao estudar outro conjunto de trabalhos de pesquisas, em áreas submetidas ao pastejo e, principalmente, de campo, em fazendas comerciais, é possível concluir que, quando a pastagem é cultivada com espécies forrageiras adaptadas às condições climáticas e de solos da região, e uma vez havendo interação genótipo/ambiente, não se observam diferenças significativas na resposta às práticas corretivas e de adubação do solo em produção de forragem e seu valor nutritivo entre as diferentes espécies forrageiras, mas principalmente quando os parâmetros avaliados são o desempenho individual e a produtividade da pastagem.

Ainda há um conceito arraigado de que forrageiras da espécie P. maximum têm melhor qualidade de forragem e produzem mais forragem por hectare que forrageiras de outros gêneros ou espécies e, portanto, são as eleitas para sistemas intensivos de produção em pasto, até mesmo justificando a substituição de um cultivar de uma espécie qualquer por um cultivar de P. maximum.

As diferenças para estes indicadores são pouco significativas, porque a herdabilidade para as variáveis produção e qualidade de forragem é baixa e assim, são em grande medida condicionadas por meio do correto manejo da pastagem.

O estabelecimento da pastagem: para maximizar a resposta às práticas de correção e adubação do solo, a pastagem deverá ser bem estabelecida com estande de plantas uniforme e denso, já que a produção de forragem é resultante da interação entre número de plantas por área, o número e o peso dos perfilhos por planta, e o número e o peso de folhas por perfilho. Por isso, recomenda-se que o pecuarista inicie a correção e a adubação do solo de pastagens estabelecidas com forrageiras adaptadas às condições da região e com estande de plantas uniforme.

A infraestrutura da pastagem: o processo de colheita da forragem disponível tem que ser eficiente para que grande parte dos fatores de produção que entram no sistema, tais como luz, temperatura, água de chuvas ou de irrigação, herbicidas, inseticidas, nutrientes etc., sejam convertidos em produto animal. Para tal, é importante que o planejamento e a implantação da infraestrutura da pastagem tenham este objetivo. Assim, planejar a modulação das pastagens em piquetes, a localização e o dimensionamento da fonte de água, dos cochos para suplementação, do sombreamento, etc., é fundamental para que o processo de colheita da forragem pelos animais em pastejo seja facilitado, com o objetivo de ser eficiente.

O planejamento da infraestrutura ainda é importante para possibilitar a apartação do rebanho em lotes de animais homogêneos quanto à idade, ao sexo, ao peso e ao tamanho corporal, às exigências de manejo (reprodutivo, nutricional e sanitário), para evitar disputas pela hierarquia (dominância, liderança etc.), que causam estresse de alta intensidade que provoca queda no desempenho animal.

Por ocasião do planejamento e implantação da infraestrutura da pastagem, é importante planejar condições de conforto para os animais, já que são estes que irão converter a forragem consumida em produto animal.

Assim, mesmo em solos de pastagens corrigidos e adubados, mas com animais submetidos a estresses pela dominância provocada pela heterogeneidade de apartação do lote e pela disputa pelos recursos, água, suplemento e sombra, pelo calor e pela presença de lama, etc., os nutrientes aplicados ao solo não serão convertidos com eficiência em produto animal.

O manejo do pastoreio: uma das formas de se avaliar a eficiência no uso dos fertilizantes é por meio da relação entre a quantidade de nutriente aplicada e a quantidade de nutriente exportada pelas colheitas, extraindo-se o balanço do consumo de nutrientes de uma determinada área ou região.

A eficiência de pastejo traduz a proporção da forragem acumulada que é consumida pelo animal. Tal eficiência é afetada pelos fatores planta, animal e o manejo do pastoreio. O produto das eficiências parciais nas três etapas do processo de produção animal em pasto, que são: primeira ou de crescimento e acúmulo de forragem, cujo produto é dado em kg de matéria seca (MS)/kg de nutriente aplicado; a segunda ou de eficiência de pastejo ou de utilização da forragem acumulada e disponível, cujo produto é dado em porcentagem da forragem disponível ou acumulada que é consumida; e a terceira e última etapa, ou de conversão da forragem consumida em produto animal, cujo produto é dado em kg MS/kg de produto animal, define a eficiência de uso do nutriente do fertilizante na produção animal.

Estou citando a conversão do fertilizante em produto animal por causa do objetivo específico dessa sequência de artigos. Entretanto outros fatores de crescimento e produção, tais como luz solar, água, etc., podem ser avaliados nesta perspectiva. Considerando o manejo de fertilidade de solo e a nutrição de plantas forrageiras, principalmente gramíneas, a conversão do nitrogênio (N) é a mais avaliada por causa das características deste elemento, tais como: é o que mais se perde facilmente, tem menor efeito residual, é o mais caro, como também é o modulador da produção em sistemas em pasto. Numa figura de linguagem, é “o freio e o acelerador” da produção.

Para a amplitude mais comum na eficiência de uso do N-fertilizante e na eficiência do pastejo, verifica-se que a quantidade necessária para elevar 1 unidade animal (1 UA corresponde a 450kg de peso corporal), por um período de 220 dias de chuvas, varia de 40kg de N/UA a 200kg N/UA. Em fazendas comerciais, a amplitude mais provável de ser encontrada seria de 60kg a 170kg de N/UA para as condições de manejo excelente e muito ruim, respectivamente.

Metas de manejo para capim‑braquiarão (Brachiaria brizantha cultivar marandu) foram avaliadas em pastoreio rotativo com diferentes doses de N, de janeiro de 2009 a abril de 2010. Os tratamentos consistiram na combinação de duas frequências de pastejo, com alturas pré‑pastejo de 25 e 35cm, e de duas doses de fertilizante nitrogenado, de 50 e 200kg de N/ha/ano. A altura de pós‑pastejo estipulada foi de 15cm em todos os tratamentos. Neste experimento, o manejo correto do pastoreio, com 25cm de altura pré-pastejo, possibilitou uma produtividade de 680kg de peso corporal/ha (PC), enquanto com 35cm a produtividade foi de apenas 500kg de PC/ha. Por outro lado, o aumento da dose de N de 50kg/ha/ano para 20 kg de N/ha/ano, possibilitou um aumento na produtividade de 530kg de PC/ha para 650kg de PC/ha. Observa-se que o correto manejo do pastejo proporcionou aumento de 34,0% na produtividade de carne, enquanto o aumento na dose de N em quatro vezes, ou 300,0%, proporcionou um aumento de apenas 22,0%.

No próximo artigo, descreverei o impacto da presença de plantas daninhas e de ataques de insetos-praga nas respostas à correção e à adubação do solo da pastagem, e porque devem ser manejadas e controladas primeiramente, antes do investimento e custeio com corretivos e fertilizantes – aguarde.


Adilson de Paula Almeida Aguiar

Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.

<< Notícia Anterior
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja