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Scot Consultoria

Os números da reprodução no Brasil: importantes índices que devem ser monitorados


Terça-feira, 1 de abril de 2025 - 06h00


Foto: Bela Magrela


Artigo originalmente publicado no Broadcast Agro.

O primeiro registro de nascimento de bovino fruto da inseminação artificial (IA) no Brasil foi reportado em 1938 e, desde então, a técnica tem mostrado resultados impressionantes. Após ter se difundido comercialmente na década de 70, apresentou crescimento constante até os dias atuais, se consolidando com uma importante ferramenta para o incremento da produtividade. 

O aumento da produtividade é importante para a permanência do produtor na atividade agropecuária e, como o boi é uma commodity, significa que ela tende a ter uma depreciação ao longo do tempo, enquanto os custos de produção seguem em direção oposta. Ou seja, para que a atividade continue competitiva, a pecuária precisa ganhar em escala, produzir mais na mesma área.

O controle de enfermidades e o melhoramento genético são ganhos também obtidos por meio da técnica de IA. Além disso, o melhoramento genético possibilita o aumento no número de descendentes de um bom reprodutor e a facilidade de aquisição de doses de sêmen de bovinos de alto padrão – fatores que resultam em maior eficiência produtiva. E a um custo relativamente baixo.

A aplicação da técnica está ligada às fases do ciclo pecuário, que funciona da seguinte maneira: cada fase do ciclo pecuário tem duração média de três a quatro anos, podendo variar. O ciclo é composto por períodos com preços em ascensão e de períodos com preços em declínio. 

Com isso, quando os preços estão em alta, o produtor é estimulado a investir na atividade, ou seja, aplica técnica, adquire novas áreas e retém matrizes, de forma que a produção aumenta até o momento em que o mercado fica saturado de bovinos e os preços caem, desestimulando os investimentos. Inicialmente, além de reduzir o uso de insumos ou substituí-los por outros mais baratos e adiar investimentos, o produtor também abate as fêmeas para manter o caixa da propriedade.

Isso exerce uma pressão sobre o mercado. Entretanto, com o tempo, a quantidade de bezerros disponível diminuirá. E, posteriormente, a oferta de bovinos prontos para o abate também será menor, o que fará com que o ciclo mude de direção.

Dessa forma, os investimentos em reprodução funcionam como um dos indicadores da fase do ciclo pecuário (figura 1). 

Figura 1.
Evolução da cotação da arroba do boi gordo em São Paulo (R$/@ - descontados e com prazo, deflacionados), das vendas de sêmen e do abate de vacas, em milhões.

Obs. O abate de fêmeas de 2024 foi estimado com base em dados oficiais preliminares.
Fonte: IBGE/ASBIA/Elaboração: Scot Consultoria

Em 2021, com a fase de alta do ciclo pecuário de preços (menor abate de fêmeas e preços em ascensão), as vendas de sêmen aumentaram, tendo sido recorde. 

Já em 2023, a elevada participação das matrizes no abate de bovinos (41,8%) aliada à redução de investimentos devido aos baixos preços pecuários resultou em uma queda nas vendas de sêmen. Nesse contexto, observa-se uma relação inversamente proporcional entre o número de fêmeas abatidas e as vendas de sêmen, com ambos os indicadores apresentando comportamentos antagônicos.

Em 2023, 26,9% das fêmeas do rebanho brasileiro foram inseminadas, considerando uma dose de sêmen por fêmea. Isso representa uma queda de 6,8 pontos percentuais (p.p.) em relação a 2021.

De acordo com as estimativas da Scot Consultoria, em 2024, 28,5% das fêmeas que constituíam o rebanho brasileiro foram inseminadas, melhora de 1,6 p.p. em relação a 2023. Apesar da melhorar, há ainda um longo caminho a ser percorrido pela pecuária nacional. 

Estima-se que, nos próximos anos, haverá um crescimento nas vendas de doses de sêmen, impulsionado pela ascensão dos preços do boi gordo e pelos resultados positivos das inseminações artificiais, tanto no retorno produtivo quanto no econômico nas fazendas, uma vez que a inseminação artificial é a biotecnologia que causa o forte impacto entre os programas de melhoramento genético (tabela 1).

Tabela 1.
Indicadores: inseminação artificial vs. monta natural.

Variável IA Monta natural
Taxa de prenhez (%) 61,9% 54,0%
Peso médio de fêmeas à desmama (kg) 250,5 186,0
Peso médio de macho à desmama (kg) 256,0 204,0

Fonte: ARAUJO et al., 2012 e Souza et al., 2013.

A verdade é que os índices indiquem um grande espaço para evolução no que tange à "aplicação de tecnologia". Além disso, é crucial não apenas adotar técnicas, mas também saber gerenciá-las de maneira eficaz.

Com as constantes mudanças no setor pecuário, é essencial ter acesso a uma ampla gama de informações e monitorar índices e tendências de forma contínua. Isso permite aproveitar os momentos favoráveis e se beneficiar das oscilações do mercado, além de adotar estratégias alinhadas às realidades atuais.

Estar bem-posicionado dentro do ciclo pecuário e perceber os sinais de que ele está mudando, como o comportamento dos índices reprodutivos, por exemplo, pode ser um excelente indicador para as decisões em longo prazo. Esses números revelam se o produtor está investindo ou não no aumento da produção, oferecendo uma visão clara sobre a atratividade da atividade e, também, sobre a possível saturação da oferta de bovinos nos próximos anos.

Referências bibliográficas

ARAÚJO, E. P.; LEITE, E. B.; ALBERTI, X. R.; POLIZER, B. L. Comparativo financeiro entre a inseminação artificial e a monta natural na bovinocultura de corte, na fazenda três corações, em Alta Floresta-MT. REFAF, Alta Floresta, 2012. Disponível em: <https://www.refaf.com.br/index.php/refaf/article/view/87>. Acesso em 11 de março de 2025.

ASBIA - Associação Brasileira de Inseminação Artificial. Disponível em: <www.asbia.org.br>. Acesso em 11 de março de 2025.

BARUSELLI, P. S.; CATUSSI, B. L.; ABREU, L. A.; ELLIFF, F. M.; SILVA, L. G.; BATISTA, E. S.; CREPALDI, G. A. Evolução e perspectivas da inseminação artificial em bovinos. Anais do XXIII Congresso Brasileiro de Reprodução Animal, Gramado, RS, 2019.

BARUSELLI, P. S.; SANTOS, G. F. F.; CREPALDI, G. A.; CATUSSI, B. L. C.; OLIVEIRA, A. C. S. IATF em números: evolução e projeção futura. Anais da VI Reunião Anual da Associação Brasileira de Andrologia Animal, Campinas, SP, 2022.

GONÇALVES, P. E. M. Inseminação artificial versus monta natural em bovinos de corte: aspectos reprodutivos, produtivos e econômicos. 2008. 65f. Dissertação (mestrado em zootecnia). Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.

MARTINS, C. F.; SIQUEIRA, L. G. B.; OLIVEIRA, C. T. S. A. M.; SCHWARS, D. G. G.; OLIVEIRA, F. A. S. A. M. Inseminação artificial: uma tecnologia para o grande e o pequeno produtor. Embrapa Cerrados, Planaltina, DF, 2009.

PELI, I. First show of a group of calves born from artificial insemination and of cows inseminated artificially. Nuova Veterinaria, v. 16, p. 151-156, 1938.

SERVIÇO NACIONAL DE APRENDIZAGEM RURAL. Inseminação Artificial: Bovinos, 3 ed., Brasília:SENAR, 2011. 

SEVERO, N. C. História da inseminação artificial no Brasil. Revista Brasileira de Reprodução Animal, Belo Horizonte, v. 39, n. 1, p. 17-21, 2015. 

SCOT CONSULTORIA – banco de dados próprio – www.scotconsultoria.com.br

SOUSA, G. G. T.; MAGALHÃES, N. A.; GOMES, L. A.; CORREIA, H. S.; SOUSA JUNIOR, S. C.; GUIMARÃES, J. E. C. Eficiência reprodutiva em bovinos de leite através da monta natural e inseminação artificial. Acta tecnológica, 2013.


Alcides Torres

Engenheiro agrônomo, formado na Esalq/USP, Piracicaba/SP. Fundador e CEO da Scot Consultoria. Atua na área de ciências agrárias, análises e consultoria de mercados agropecuários. É analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte, leite, grãos e insumos agropecuários. É palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Atuou como Membro de Conselho Consultivo de empresas do setor e dirige as ações gerais da Scot Consultoria.

Mariana Guimarães

Médica-veterinária, formada pelo UNIFEOB, São João da Boa Vista/SP, mestre em ciências pela FMVZ/USP, São Paulo/SP e especialista em agronegócio pela PECEGE/USP, pós-graduanda em sistemas de gestão da qualidade e segurança de alimentos na PUC/PR. Atua na área de ciências agrárias, análises e consultoria de mercados agropecuários. Analista de mercado, com atuação nas áreas de pecuária de corte. Elabora textos e artigos para publicações da Scot Consultoria e revistas e mídias conceituadas do setor. Responsável pelo departamento de reposição de rebanho, agro sustentável, produtos veterinários e monitoramento de licitações e relação com o setor público da Scot Consultoria. Realiza também análises setoriais e pesquisas nas áreas de carne, leite e imóveis rurais. Possui experiência com desenvolvimento de projetos de sustentabilidade.

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