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Manejando e controlando insetos-praga que atacam pastagem - Parte 3


Segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025 - 06h00


Foto: Bela Magrela


O objetivo da parte 1 dessa sequência de artigos sobre o tema “manejando e controlando insetos-praga que atacam pastagem” (edição de dezembro de 2024) foi o de escrever sobre o histórico do ataque de insetos-praga nas culturas desde o início da revolução agrícola até os dias atuais, citar os insetos-praga que atacam pastagens e classificá-los, descrever as causas do seu aparecimento, as formas como atacam e as partes das plantas atacadas, além das consequências dos danos causados por elas com prejuízos para a produção de forragem, consequentemente para a capacidade de suporte da pastagem como também na redução da qualidade da forragem.

Já o objetivo da parte 2 sobre este tema foi o de escrever sobre o manejo (métodos legislativos, preventivo e cultural) e os métodos de controle (biológico, fisiológico, mecânico e químico) gerais de insetos-praga que atacam pastagem.

O objetivo dessa terceira parte é o de trazer as bases dos conteúdos abordados nas duas primeiras partes aplicadas ao manejo e o controle do principal inseto-praga de pastagens - as cigarrinhas que atacam pastagens, por ser o inseto-praga específico desta cultura e as que mais causam danos e prejuízos econômicos à atividade de produção animal em pasto.

As cigarrinhas são insetos que pertencem ao reino animal, ao filo Arthropoda, à classe Insecta, à ordem Hemiptera, à subordem Homoptera, à superfamília Cercopoidea e à família Cercopidae. As espécies típicas de pastagens incluem a Aeneolamia selecta, Deois flavopicta, D. incompleta, D. schach e Notozulia entreriana. Já as típicas dos canaviais, mas que também atacam pastagens, a Mahanarva fimbriolata, M. posticata e M. spectabilis. Todas as cigarrinhas de pastagens são autóctones, ou seja, nativas.

Existem registros do ataque de cigarrinhas em pastagens e canaviais desde a década de 60 do século passado. Na década de 60, na Bahia; no início da de 70, no Espírito Santo e em Minas Gerais; e ao final desta década, em todo o país. Até meados da década de 90, os registros de ataques foram exclusivamente de cigarrinhas-das-pastagens, mas a partir daí começaram os registros dos ataques de pastagens pelas cigarrinhas-dos-canaviais, primeiro no Bioma Amazônico e, depois, em todo o país.

As cigarrinhas são insetos sugadores apenas de gramíneas (capins) e especializadas na sucção da seiva do xilema da planta (a seiva bruta, composta por água e minerais) na fase adulta, e na da seiva do xilema e do floema (seiva elaborada, composta por carboidratos) na fase de ninfa. As típicas de pastagens são insetos sugadores da seiva na fase imatura (ninfa) e toxicogênicos na fase adulta, enquanto as ninfas das cigarrinhas-dos-canaviais também são toxicogênicas.

As cigarrinhas são insetos que se desenvolvem por hemimetabolia ou paurometabolia, ou seja, passam por três fases no seu ciclo de vida: ovo - ninfa - adulto. A eclosão das ninfas provenientes de ovos em diapausa no início das chuvas, mas pode ocorrer o ano inteiro em regiões com chuvas distribuídas ao longo do ano e em pastagens irrigadas; as ninfas se alojam na base da touceira da planta, junto ao solo, produzem uma espuma branca por meio da glândula de Batelli, que as protegem de dessecação solar, de inimigos naturais e do controle com inseticidas químicos. O ciclo de vida compreende os seguintes períodos: de ovo: 11 a 20 dias; ninfa: 33 a 50 dias; pré-ovoposição: 3 a 5 dias; adultos: 10 a 20 dias - acasalamento e ovoposição - nova geração. Esta amplitude depende da espécie de cigarrinha, sendo os maiores períodos para as espécies dos canaviais, além das condições climáticas, principalmente a temperatura.

O acasalamento ocorre 60 horas após a emergência dos adultos, e a fêmea começa a depositar os ovos dois a cinco dias após o acasalamento, depositando entre 100 e 102 ovos. Estes ovos são depositados no solo ou na palhada da pastagem (cigarrinhas-das-pastagens) e nas folhas secas ou murchas, no colo da planta, localizando as formas jovens nas raízes dos capins (cigarrinhas-dos-canaviais). O período de incubação dos ovos pode durar até 200 dias, devido à falta de umidade e a baixa temperatura (é o período de diapausa ou quiescência). Em condições climáticas adequadas, dura apenas de 15 a 22 dias.

As ninfas das cigarrinhas-da-pastagem causam algum dano, mas, no caso da cigarrinha-da-cana, os danos são mais severos, mesmo os causados pelas ninfas. Os adultos de todas as espécies de cigarrinhas são os responsáveis pelos maiores prejuízos. Na saliva, tanto das ninfas da cigarrinha-da-cana como na dos adultos de todas as cigarrinhas, contêm aminoácidos e enzimas que auxiliam no processo de ingestão pelo inseto, no entanto, são tóxicas à planta. Elas injetam dois grupos de substâncias: uma se coagula no interior do tecido das folhas, possivelmente desorganizando o transporte da seiva, e outro grupo é composto por substâncias solúveis, que se translocam para o ápice (ponta) das folhas, provocando morte dos tecidos. Em consequência das ações daquelas substâncias aparecem os sintomas típicos do ataque das cigarrinhas nas pastagens, como se fosse uma “queima” pela geada ou o efeito da aplicação de herbicidas dessecantes.

Como consequência dos ataques, ocorre redução na produção de forragem, com a consequente redução da capacidade de suporte da pastagem, o que leva à necessidade de o produtor reduzir a taxa de lotação da pastagem. Além da redução da produção da parte aérea da planta, há redução significativa no crescimento de raízes com perda de biomassa e estresse hídrico. Os danos causados variam entre 10,0 e 100,0%. As plantas infestantes podem ter aumentos de até 60,0% em pastagens atacadas por cigarrinhas. As toxinas injetadas nas plantas pelas cigarrinhas ainda provocam uma queda do valor nutritivo da forragem por empobrecer sua composição química com menores teores de proteína, fósforo, magnésio, potássio, cálcio e maiores teores de fibra, menor digestibilidade, com consequente redução no desempenho dos animais. A redução nos teores de proteína bruta, extrato etéreo, cálcio, fósforo e zinco podem ser da ordem de 20,0 a 50,0%.

Nenhum método de manejo ou de controle isoladamente é eficaz, sendo recomendada a adoção do manejo integrado de pragas, conhecido pela sigla MIP. Esse método consiste em um conjunto de métodos de controle, com a finalidade de manter as pragas abaixo do nível de dano econômico. Como manejo de pragas, adotam-se o preventivo, a resistência de plantas e o cultural; como métodos de controle, adota-se o legislativo, o mecânico, o químico, o fisiológico e o biológico.

Mas vamos dar uma pausa aqui para não ficar cansativo. Já conhecemos algumas particularidades do ciclo de vida desse inseto-praga o que nos possibilita estabelecer padrões para seu manejo e controle em fases mais vulneráveis do seu ciclo de vida - aguarde a próxima edição.

Manejando e controlando insetos-praga que atacam pastagem - Parte 1

Manejando e controlando insetos-praga que atacam pastagem - Parte 2


Adilson de Paula Almeida Aguiar

Zootecnista, professor em cursos de pós-graduação nas Faculdades REHAGRO, na Faculdade de Gestão e Inovação (FGI) e nas Faculdades Associadas de Uberaba (FAZU); Consultor Associado da CONSUPEC - Consultoria e Planejamento Pecuário Ltda; Investidor nas atividades de pecuária de corte e de leite.

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