× Faltam XX dias XX horas XX minutos e XX segundos para o EIP 2025! Garanta seu ingresso no 1º lote
  • Sexta-feira, 11 de julho de 2025
Assine nossa newsletter
Scot Consultoria

Fórum Pré-COP Campo Grande - Parte 2

O presente texto tem as principais anotações feitas no Fórum Pré COP, em Campo Grande, no dia 24 de março deste ano, em complemento ao que já tinha sido abordado na coluna anterior.


Foto: Freepik

Foto: Freepik

Começamos com a palestra do Dr. Manoel Macedo, especialista em solos da Embrapa Gado de Corte.

Ele comentou que, até COP 21 de 2015, em Paris, o carbono (C) no solo não foi devidamente considerado, mesmo sendo o segundo maior reservatório deste elemento no planeta (o primeiro são os oceanos). Um marco foi a publicação do trabalho “Soil carbon per mile”.

Nele, um grupo grande de pesquisadores de várias partes do mundo fizeram estimativas de estoque de carbono do solo e o potencial de sequestro de 20 regiões do mundo, com esforços para o sequestro de carbono do solo alcançar a iniciativa de quatro por mil, ou seja, aumentar 0,4% de C no solo por ano.

Cada situação, na verdade, tem um potencial diferente e, a profundidade do solo, o teor inicial de carbono do solo e o período após práticas de manejo sequestradoras de C afetam a quantidade fixada. Conseguindo atingir a meta de sequestrar 0,4% por ano por um período de 20 anos, o acumulado seria capaz de compensar as atuais emissões globais de GEE.

Macedo mostrou que isso é possível em solos bem manejados. Trouxe alguns exemplos de protocolos atualmente sendo propostos que podem dar essa resposta com, por exemplo, melhor manejo das pastagens, sistemas integrados, como a Integração Lavoura Pastagem e Florestas (ILPF) e suas variantes etc.

Em seguida, houve a palestra do Dr. Alexandre Berndt, chefe-geral da Embrapa Pecuária Sudeste, falando do C no contexto da Economia Circular.

Ele comentou sobre um trabalho em elaboração pela FAO, um guia mostrando o papel da pecuária na bioeconomia circular. Comentou como balanço de C pode ser melhorado em sistemas integrados, ainda que não se ganhe em todos os quesitos, sendo fundamental considerar os resultados dos sistemas como um todo.

Assim, num sistema com árvores, a sombra das árvores reduziu a biomassa de pastagem, causando uma redução no ganho de 200 g/cabeça/dia, devido a menor disponibilidade de forragem, todavia, considerando que o sistema de integração com lavoura (ILP), produziu mais de 38 t de silagem de milho e, o sistema completo (ILPF), produziu 26 t de silagem de milho e 357 m³ de madeira.

Citou trabalho feito na Embrapa Pecuária Sudeste (Oliveira et al., 2020) em que o componente arbório neutralizou emissão de até 12 bovinos adultos/há, equivalente a 18t CO2-eq. Isso, mesmo que não tenha entrado na conta o primeiro desbaste, que retirou 50% das árvores (árvore sim, outra não, na linha). Mostrou dados de uma publicação mais recente (Brunetti et al. 2025) no qual o sistema silvipastoril foi capaz de neutralizar 77% do metano emitido pelos animais considerando o C estável por longo período, ou seja, desde que os produtos feitos da madeira produzida no sistema sejam duráveis.

Com relação aos dejetos produzidos em confinamento, baseado nos levantamentos do último Confina Brasil, da Scot Consultoria, 92,5% deles são coletados e 90% dos sólidos são distribuídos em pastagens ou nas lavouras. A pequena fração restante seria manejada como compostagem (mais de 90% de armazenamento sólido) e em biodigestores (95% em lagoas anaeróbicas). Os produtos gerados são, principalmente, o biogás e compostos organominerais.

O Dr. Berndt comentou sobre a associação brasileira de reciclagem animal (ABRA), que mostra que a reciclagem é, além de uma ótima saída ecológica para resíduos, uma boa oportunidade de negócios. Citou que a Comunidade Europeia exporta muito mais produtos de reciclagem animal do que o Brasil.

Ele também comentou sobre o Relatório Bienal de Transparência (Biennial Transparency Rerport BTR 2022) que revelou um total de emissões em 2022 de cerca de  2 bilhões t CO2-eq., cuja meta do plano ABC+ é reduzir em 50%, sendo 41% da agropecuária por meio de aumento da área de plantio direto, de sistemas integrados, florestas plantadas, e bioinsumos, além de terminação intensiva de animais, manejo de dejetos animais e recuperação de pastagens.

Berndt lembrou que há ainda chance de mitigação da intensidade de emissão (kg de GEE/kg de produto) com melhores técnicas reprodutivas e com uso de genética, animal e vegetal, melhorada. Para a questão da adaptação às mudanças climáticas, destacou os sistemas de integração, tanto pelo conforto animal em sistemas como árvores como a maior resiliência em geral desses sistemas.

Na palestra do representante do setor público, o secretário-executivo da Secretaria-Executiva de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul, Artur Falcette, falou sobre políticas públicas e mercados verdes. Ele começou falando do “Programa de Pagamento por Serviços Ambientais na Pecuária Pantaneira”. Iniciou comentando que existe uma dualidade entre o “produtor de natureza” versus a “gestão da natureza” e que há uma tentativa de indução do comportamento do indivíduo para que ambos ocorram.

Citou o caso do bioma Pantanal, no qual 84% vegetação nativa é preservada, ou seja, o produtor não exerce seu direito de 50% de desmatamento, produzindo de forma mais afinada com as limitações locais.

Contudo, chamou a atenção para que “o que parece simples, na verdade é complicado”.

Por exemplo, no caso de incentivos da manutenção da cobertura original vem as perguntas: “Por quantos anos manter?”; “Mecanismo financeiros serão para sempre?”.

Um dos grandes problemas é que os recursos são limitados. Pode haver, portanto, um efeito perverso da Política Pública: se for temporário, depois, desmata? Há, ainda, a necessidade de priorizar, mas como estabelecer que um merece mais do que outro? Também é necessário saber o que se deve preservar, que pode ser local onde há mais consenso de ser prioritário. Mesmo assim, o “como fazer”, pode estar equivocado.

Como são necessárias mais áreas para conservação do que as públicas, é necessário incluir a propriedade privada, portanto precisa conversar com setor produtivo. Como fica a questão de custos? Afinal, dentro das propriedades há necessidade da manutenção das paisagem, nativas, biodiversidade, prevenção incêndios, além da geração de emprego e renda.

Segundo ele, o maior desafio está no comportamento humano, cujas escolhas podem levar tanto ao desmate ilegal, como deixar pelo caminho pessoas por exclusão financeira, ambos impactando negativamente o setor. O “Programa de Pagamentos por Serviços Ambientais da Pecuária Pantaneira”, portanto, estaria passando de punitiva para dar dinheiro para quem faz além da legislação.

O agrônomo Eduardo Bastos, do Instituto Equilíbrio, que integra o Comitê Interministerial do Plano Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), fez outra palestra muito informativa.

Começou mostrando a necessidade de dobrar a produção de grãos em 10 anos, para 2,1 bilhões de toneladas e, para 2050, quando devemos ter 10 bilhões de “terráqueos”, 3 bilhões de toneladas.

Comentou sobre sua participação no comité do PNPCD e os critérios de como selecionar as áreas a investir. Haveria 60% área pastagem, cerca de 110 milhões de hectares, com baixo ou médio vigor e que, desses, 28 milhões de hectares estariam aptos para agricultura. Além de aptidão agrícola, foram usados critérios como altitude, declividade e ocorrência de déficit hídrico.

Ele trouxe a informação que todo ano Brasil converte 2 milhões de hectares e que a meta é dobrar essa taxa por 10 anos, chegando a 40 milhões de hectares convertidos. O estado com maior área para tal seria Minas Gerais (18%), seguido por Mato Grosso do Sul com 14% de sua área apta para conversão.

Assim, altos investimentos são necessários, mas os recursos são poucos. Deu o exemplo do Renovagro, cujos recursos foram todos tomados em apenas 18 dias. Também que o mercado de C não compete com os juros mais baixos dos financiamentos oficiais, com o valor do mercado de C em US$25/t (menos o custo da certificação). Ainda assim, desdenhou de quem acha que os recursos aparam ESG (correção ambiental-social e de governança) tenham minguado após a volta de Donald Trump como presidente dos EUA, dizendo que, de fato, antes de Trump, havia US$60 trilhões para ESG e, depois, US$50 trilhões! Ou seja, segundo ele, tem gente esperando projetos bons para investir esses recursos.

Representado o setor de investimentos, Leonardo Galvan, da Climate Bonds Initiative, falou de instrumentos financeiros, chamados de “títulos verdes” (não relacionados aos créditos de C), mas de projetos ambientais em geral. Ele comentou que o Brasil lançou dois títulos sustentáveis para captar dinheiro no mercado, no qual já existiria US$3 trilhões e com mais a caminho.

Explicando por que há tão pouco investimento em pecuária, explicou que o investidor não tem mostrado interesse, pois ele não sabe nem o que é um boi. Por isso a necessidade de certificar, afinal, o setor agropecuário é mais arriscado, exposto a riscos não mitigáveis, havendo uma grande diversidade de situações (Biomas, paisagens, infraestrutura etc.).

Segundo ele, o “remédio” para isso é desenvolver a Taxonomia Brasileira Sustentável, o que está em desenvolvimento. A Climate Bonds certifica e dá o selo baseado em exigências internacionais.

Outros desafios seriam: o câmbio, pois temos uma moeda volátil e a percepção do mercado que a governança é falha, o que poderia ser mitigado pelos projetos terem acompanhamento técnico. No sentido de ajudar a haver mais negócios, dinheiro catalítico, de filantropia, ou público, reduz o risco e pode ajudar bastante.

Perguntado pelo moderador, Daniel Vargas da FGV, se a Taxonomia poderia encarecer o processo, a resposta foi que sim, mas que ela não é obrigatória e para minimizar isso ela precisa ser bem feita, ainda que ambiciosa e ir aumentando com o tempo.

Eduardo Bastos adicionou a esse assunto que existe mesmo preconceito contra a agropecuária, citando US$500 milhões passados ao PNCPD, pelo Banco Mundial, mas que não poderia ser usado em pastagem de acordo com a Taxonomia Banco Mundial. Para quebrar esse preconceito sugeriu uma maior participação internacional do Brasil.

Considerações finais

O que o Fórum Pré-COP de Campo Grande deixou claro é que a agropecuária brasileira será tratada transversalmente, isto é, como um todo, como nos ensinou o Dr. Marcelo Morandi, mas que, mesmo que seja colocada uma lupa, as opções, desde locais sensíveis como o bioma Amazônia, onde será realizada a nossa COP, como nos mostrou o Dr. Judson Valentim, são grandes, inclusive pela bioeconomia circular, como apresentada pelo Dr. Berndt e, passando pelo Pantanal, incluindo o pagamento de serviços ambientais como forma de incentivo à manutenção de condições ambientais e, pelas informações do Eduardo Bastos e do Leornado Galvan, a possibilidade de acessar créditos que nos ajudem em ter maior capacidade de acelerar os processos que permitirão, ao mesmo tempo, uma produção mais eficiente, menos emissora de GEE e mais resiliente às  mudanças climáticas.

Foi um dia intenso em que, certamente, foi angariado importantes subsídios para o objetivo principal desse evento: um documento de posicionamento da relação entre agropecuária e mudanças climáticas que possa ser mais uma referência para as negociações do Brasil na COP30.

Sergio Raposo de Medeiros

Engenheiro agrônomo, formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo, com mestrado e doutorado pela mesma universidade. É pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste e especialista em nutrição animal com enfoque nos seguintes temas: exigência e eficiência na produção animal, qualidade de produtos animais e soluções tecnológicas para produção sustentável.

<< Notícia Anterior
Buscar

Newsletter diária

Receba nossos relatórios diários e gratuitos


Loja