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Scot Consultoria

Fosfato: qualidade, relação de troca e uso no Brasil


Sexta-feira, 4 de setembro de 2020 - 11h00

Médico veterinário, formado pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul - UFMS, Câmpus de Campo Grande-MS, mestre em Administração de Organizações pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto - FEA-RP/USP. Possui MBA em Gestão Financeira pela UNOPAR. É analista e consultor de mercado da Scot Consultoria. Coordena a divisão de mercado de couro e sebo. É editor-chefe do informativo pecuário semanal Boi & Companhia, publicação da Scot Consultoria. Atuação nas áreas de análises, estabelecimento de cenários, estratégias de mercado, realização de projeções de preços, oferta, demanda, análises setoriais e pesquisa de opinião e imagem. Ministra aulas, palestras, cursos e treinamentos nas áreas de mercado do boi e assuntos relacionados à agropecuária em geral.


Foto: Scot consultoria

 


Assim como qualquer componente usado na nutrição animal, o fosfato bicálcico (DCP) pode ter variações de qualidade, por vezes relacionadas à sua origem ou processo de produção.


Com relação à qualidade de fosfato, dois aspectos chamam a atenção, a biodisponibilidade e a ausência de contaminantes.


A biodisponibilidade está relacionada ao quanto deste fosfato será absorvido e efetivamente utilizado pelo animal em seus processos de desenvolvimento e produção. Para a avaliação da qualidade do fosfato são utilizados extratores, entre eles o teste de solubilidade em ácido cítrico 2%, sendo que fosfatos de maior qualidade possuem solubilidade em ácido cítrico 2% maior.


Cabe a ressalva de que a solubilidade e a biodisponibilidade são conceitos diferentes. No entanto, pesquisas nacionais e internacionais têm encontrado ligação entre elas, ainda que sem uma correlação proporcional. Ou seja, fosfatos com alta solubilidade em ácido cítrico 2% tendem a ter boa biodisponibilidade.


Temperaturas demasiadamente altas na produção afetam a solubilidade em ácido cítrico 2%. O excesso de calor origina o pirofosfato (aquecimento brando) ou o metafosfato (aquecimento forte), formas menos disponíveis e menos solúveis em ácido cítrico 2%.


O segundo fator é a ausência de elementos indesejáveis. Como o fosfato bicálcico é produzido a partir do ácido ortofosfórico, oriundo de rochas fosfáticas, quanto maior a pureza da rocha, menos elementos indesejáveis.


Entre as rochas fosfáticas, as ígneas são mais puras, seguidas das metamórficas e sedimentares, nesta ordem. Estudos observaram teor menor de contaminantes nas rochas brasileiras, de origem ígnea em boa parte das minas, frente às amostras de outros países.


Entre os elementos indesejáveis, podemos destacar o chumbo e o cádmio, embora arsênio, vanádio e mercúrio também sejam relevantes.


Além da possibilidade de afetar o desempenho dos animais, via alterações orgânicas, também pode haver combinação destes contaminantes com as substâncias que deveriam ser absorvidas, afetando sua absorção.


Mercado e poder de compra

Como citado, o fosfato bicálcico é oriundo do ácido fosfórico, mas como o grande consumo do ácido é para a produção de adubos fosfatados, quem dita o ritmo é a demanda pela agricultura, somada à oferta do produto.


Nos últimos anos, a disponibilidade de fósforo tem aumentado mais que a demanda global, o que diminuiu os preços no mercado internacional. A valorização do dólar frente ao real, no entanto, manteve as cotações firmes no Brasil.


Segundo levantamento da Scot Consultoria, em julho de 2020, a cotação do fosfato bicálcico no mercado brasileiro foi 7,8% maior que no mesmo período do ano passado. No mesmo intervalo, a cotação do dólar subiu 40,9%, considerando as médias em julho, frente ao mesmo mês de 2019, ou seja, a alta no mercado brasileiro foi diretamente influenciada pelo câmbio.


O mesmo câmbio que encareceu o produto, no entanto, colaborou com as exportações e a precificação das carnes bovina suína e de frango. Em doze meses, a cotação do boi gordo subiu 40,3%, enquanto frango e suíno tiveram altas de 13,1% e 12,8%, respectivamente, considerando preços na granja.


Mesmo com altas mais sutis que as observadas para os bovinos, frangos e suínos também tiveram valorizações maiores que o fosfato bicálcico. A figura 1 mostra a relação de troca, em quilos de fosfato por arroba de bovino e suíno, e por quilo de frango.


Figura 1. Quilos de fosfato bicálcico por arroba de bovino e suíno, e por quilo de frango na granja.




Fonte: Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br


Em doze meses a relação de troca @ de boi gordo x fosfato bicálcico melhorou 30,1%. Para aves e suínos os incrementos foram de 4,9% e 4,6%, respectivamente.


Uso do fosfato na alimentação animal

Segundo estimativas do Sindirações (Sindicato Nacional da Indústria de Alimentação Animal), em 2019 foram consumidas 1,37 milhão de toneladas de fosfato, considerando o mono e o bicálcico. Para 2020, as projeções divulgadas no relatório de junho apontam para um acréscimo de 2,9%


Em 2019, mais de dois terços (68,9%) do fosfato utilizado na alimentação animal foi consumida através de suplementos minerais, sendo o restante via rações. A figura 2 mostra a participação do consumo de fosfato na alimentação animal em 2019. 


Figura 2. Participação do uso de fosfato na alimentação animal em 2019.




Obs: dados referem-se a rações, exceto pelo grupo suplemento mineral.


Fonte: Sindirações / Elaboração Scot Consultoria – www.scotconsultoria.com.br


Entre os macronutrientes utilizados na alimentação animal, a participação do fosfato é de 0,6% no consumo através das rações e de 29,5% no consumo através dos suplementos minerais, considerando 2019 como referência.


Entre os suplementos, é o macronutriente com maior inclusão, superando inclusive a do cloreto de sódio (NaCl), cuja participação foi de 29,1% no grupo suplementos minerais em 2019.


Considerações finais

O fosfato bicálcico é o ingrediente de maior participação em quantidade e no custo nos suplementos minerais. Justamente pelo maior investimento relativo, é importante saber a origem e qualidade deste ingrediente, que não está ali à toa.


Com as valorizações do boi gordo no último ano, o poder de compra em relação ao fosfato melhorou, assim como para diversos outros insumos.


Este cenário, somado à relação de troca apertada com a reposição, vai ao encontro da tendência de maior uso de tecnologia para otimizar a utilização do bezerro ou boi magro, relativamente caros.


Isto pode ser feito com aumento do peso de carcaça, ou com uma lotação maior do pasto, com a ajuda de uma boa suplementação, a depender do sistema e da realidade da fazenda.


Referências


Banco de dados da Scot Consultoria.


Boletim técnico Mosaic – Mitos e verdades sobre a qualidade do fosfato bicálcico: solubilidade em ácido cítrico 2% versus biodisponibilidade. Edição nº34, março/abril, 2018.


Boletim técnico Mosaic – Importância da qualidade do fosfato bicálcico na nutrição animal. O que você está oferecendo aos animais? Edição nº36, julho/agosto, 2018.


Boletim Informativo do Setor – Sindirações. Junho, 2020.


Originalmente publicado em www.nutrimosaic.com.br



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