Médico veterinário, pós-graduado pela ESPM, MBA em finanças pelo Insper-SP e sócio diretor da Radar Investimentos
Foto: Scot Consultoria
No mercado físico de boi gordo a situação segue morna, com preços andando de lado, porém, com as escalas em patamares confortáveis. A pressão baixista que a indústria tentou exercer na semana passada acabou não se concretizando e aos poucos as negociações nos preços anteriores começam a voltar a aparecer, o que tem sido suficiente para manter as programações e os preços de lado.
Se a realidade do físico é de estabilidade no curto prazo, o mesmo não se pode dizer do mercado futuro, que trabalhou em ambiente muito firme desde o início da semana, com os contratos da entressafra rompendo suas respectivas máximas dia após dia. Até o momento a máxima do out/19 na B3 foi R$164,40/@ atingido no começo do pregão de 16/5. Essa subida acabou levando o diferencial safra x entressafra para mais de R$10,00/@, sendo uma ótima notícia para os confinadores, especialmente em um momento de preços do milho bastante vantajosos.
O motivo de toda essa euforia são as expectativas com relação à China, que, aos poucos, vão deixando de ser apenas expectativas para se tornarem realidade. A visita da ministra Tereza Cristina ainda não trouxe boas notícias com relação ao aumento do número de plantas habilitadas, porém a feira Sial Xangai, que aconteceu de 14 a 16 de maio foi a responsável por elevar os ânimos do mercado. As notícias de quem participou foram de altas consideráveis dos preços em dólar e uma enorme demanda pela nossa carne no mercado de exportação. O raciocínio do mercado foi o de que, de um jeito ou de outro, o Brasil será beneficiado, já que se o número de plantas habilitadas não aumentar, o preço da tonelada exportada seguirá subindo, o que de uma forma ou de outra se traduzirá em uma maior demanda por bois no Brasil.
Essa “puxada” precoce da entressafra abre enormes oportunidades para quem quer travar preços para o segundo semestre, porém, é necessário analisar essa decisão com um pouco mais de critério além de apenas o custo de produção. O fator adicional a ser analisado se chama reposição. Todos que têm relação com o mercado pecuário estão assustados com os preços pedidos e muitas vezes negociados no mercado de reposição recentemente, e isso num momento em que os preços do mercado físico ainda estão bastante comportados. Caso toda essa expectativa de melhora se confirme, isso colocará mais lenha na fogueira da reposição, e ficar “travado” nesse cenário de alta pode comprometer seu poder de compra para o próximo ciclo.
Com esse raciocínio em mente, mesmo diante dos ótimos resultados que podem ser “travados” atualmente, talvez o mais recomendado seja deixar alguma porcentagem em aberto para acompanhar o mercado e não ser tão penalizado na reposição. Normalmente a estratégia de fixar preço mínimo é a mais recomendada na maioria das situações, porém, nesse ano com a expectativa de alta puxando o mercado futuro, os preços mínimos negociados atualmente são bastante remuneradores frente aos custos atuais, o que torna toda a operação ainda mais interessante. Vai ficar muito mais confortável assistir o final dessa novela de camarote com um preço mínimo bastante remunerador já garantido para a entressafra!
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