O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) é parte do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (DEAS) da Esalq/USP.
A temporada 2012/13 de soja no Brasil deverá ser novamente favorável aos produtores de soja, com boa produtividade e remuneração acima da média. Os estoques mundiais continuam baixos, a demanda segue firme e há expectativa quanto ao tamanho da safra na América do Sul. Após a redução de 4% produção dos Estados Unidos e de 13% na Argentina, há necessidade de uma safra recorde no Brasil e no Paraguai para atendimento da demanda mundial.
Por enquanto, os números do USDA apontam produção de 81 milhões de toneladas no Brasil (a Conab sinaliza 82,6 milhões de toneladas), 55 milhões para a Argentina e 7,8 milhões de toneladas para o Paraguai. Se esses números se confirmarem, o Brasil deve se tornar o maior produtor mundial de soja, à frente dos Estados Unidos, devido à menor produtividade agrícola norte-americana na temporada colhida em 2012 (safra 2012/13). A seca prolongada, que foi a maior em décadas, prejudicou o desenvolvimento das lavouras daquele país.
Para o Brasil, e América do Sul de forma geral, os bons patamares de preços obtidos em todo o ano de 2012 levaram produtores a substituir parte das áreas de outras culturas, especialmente milho, com a soja, que se refletirá nesta temporada 2012/13. Apesar de preços recordes observados em 2012, a demanda não se retraiu, mantendo boa a liquidez e também expectativa de transações internacionais crescentes.
Na prática, o que elevou os preços da soja em grão no Brasil e no mundo em 2012 foram os valores recordes de farelo de soja. As cotações de óleo de soja oscilaram em menor intensidade no ano frente às do farelo, limitadas pelos valores do petróleo. Para 2013, pelo menos no primeiro semestre, serão novamente os valores do farelo que deverão manter boa a remuneração da soja em grão para vendedores.
De modo geral, mesmo com o crescimento da produção da América do Sul, os preços devem se manter na casa dos US$32,00/sc no porto de Paranaguá (PR) pelo menos no primeiro semestre de 2013. Mais da metade da safra estimada para 2012/13 já foi comercializada, inclusive a valores acima dos sinalizados atualmente, e o restante que não foi vendido deve ser escalonado por vendedores no correr de 2013. Regionalmente, o Imea (Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária) sinaliza que, em Mato Grosso, cerca de 70% da safra já foi negociada e, no Paraná, o Deral/Seab indica 35%.
Outro ponto importante na formação de preços para o próximo ano será a taxa de câmbio. Neste ambiente, não há sinalização de alterações. O relatório Focus do Banco Central indica taxa média de R$2,08/US$ em 2013, inclusive terminando este ano neste patamar - semelhante ao observado nas últimas semanas de 2012.
Apesar de os contratos FOB exportação por Paranaguá estarem na casa dos US$32,00/sc de 60 kg para a soja em grão, os valores do farelo de soja sinalizam quedas expressivas a partir de abr/13, quando haverá melhor ritmo de processamento doméstico da oleaginosa e maior disponibilidade de produto. A estimativa é de queda de 16% entre os valores de negócios para embarque em jan/13 e os de abr/13, indo para a casa dos US$440,00/t. Para o óleo de soja, a estimativa é de queda de 7%, para cerca de US$1.000,00/t.
Assim, apesar do otimismo quanto aos patamares de preços de soja em grão, que deverá gerar rentabilidade acima da média por mais uma safra, produtores devem ficar atentos aos estoques. Pelos números citados acima, poderá haver pressão a partir de abril/13 - não dá para manter o pagamento pela soja em grão se não há rentabilidade dos derivados.
Além disso, novos números para a safra norte-americana 2013/14 podem exercer pressões sobre as cotações, especialmente a partir de maio/13, quando haverá estimativas sobre o desenvolvimento das lavouras dos Estados Unidos. Claramente, a concorrência em área com milho e trigo, também com valores atrativos, pode limitar a expansão de cultivo de soja naquele país.
Neste cenário, para vendedores, pode ser uma boa alternativa a negociação de maior parte da safra ainda no primeiro semestre de 2013, quando a demanda deve se manter firme pelo produto da América do Sul. Ainda assim, buscar formas de se garantir bons níveis de preços para o segundo semestre e de se precaver quanto a quedas bruscas de preços pode ser uma boa estratégia. Contratos de futuros e de opções estão na lista e à disposição de agentes.
Considerando-se a demanda firme, estimativas do USDA indicam exportação de 37,4 milhões de toneladas pelo Brasil na temporada 2012/13, um volume recorde e o maior do mundo, puxada pela necessidade de importação também recorde de 63 milhões de toneladas por parte da China. O USDA também sinaliza processamento brasileiro de cerca de 37 milhões de toneladas.
A Conab estima que, de janeiro a dezembro de 2013, o Brasil exporte 36,4 milhões de toneladas e que o processamento interno seja de 42 milhões de toneladas. Com este nível de processamento, as ofertas de farelo (29,5 milhões de toneladas) e de óleo (7,5 milhões de toneladas) devem ser recordes. Para o farelo, a sustentação virá do consumo interno (14,3 milhões de toneladas) e da exportação (14,9 milhões de toneladas), que devem ser recordes. Já para o óleo de soja, será o consumo doméstico (5,6 milhões de toneladas) que dará sustentação, o qual deverá ser utilizado na produção de biodiesel - as exportações deverão ser de 1,8 milhão de toneladas.
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