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Vender para um


Segunda-feira, 25 de junho de 2012 - 11h07

Engenheiro agrônomo pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz – USP. Diretor-fundador da Scot Consultoria. Analista e consultor de mercado, com atuação nas áreas da cadeia de pecuária de corte, de leite, ovinos, grãos e insumos agropecuários. Palestrante, facilitador e moderador de eventos conectados ao agronegócio. Presidente da Associação dos Profissionais para a Pecuária Sustentável. Membro do Conselho Consultivo da Phibro, Membro do Conselho Técnico do programa Bifequali da Embrapa Sudeste e coordenador das ações gerais da Scot Consultoria.

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Em vez de deixar o mercado tranquilo, o anúncio recente da compra do Frigorífico Independência pelo Grupo JBS provocou, ao contrário, uma série de protestos e manifestações de indignação contra a concentração dos frigoríficos.

O que poderia ser uma possibilidade de reativação das plantas paradas, com efeito positivo no escoamento da produção, virou indignação. Sentimento que tem razão de ser pois, em determinadas praças pecuárias, o produtor rural, o pecuarista, ficou sem alternativa: ou vende para o JBS ou vende para o JBS.

Isto para o comprador de boi é o nirvana, o paraíso. Será o monopsônio? Mas o que é monopsônio? Consultando o dicionário é fácil encontrar a definição desse "palavrão". Monopsônio vem da junção das palavras gregas monos, que significa um, mais opsónia, que significa comprar. Um comprador.

Monopsônio identifica uma situação de concorrência imperfeita, em que uma empresa, em nosso caso, um frigorífico, detém o mercado de um determinado produto, a compra de boiadas ou vacadas, impondo preços aos que o comercializam, os fazendeiros.

Mas o monopsônio não reina sozinho. Ele tem um irmão igualmente aterrador, o famigerado oligopsônio. Também de raiz grega, a palavra oligopsônio caracteriza um mercado com poucos compradores, no caso, frigoríficos, e inúmeros vendedores, no caso pecuaristas. Trata-se também de mercado imperfeito. Os frigoríficos oligopsonistas têm poder de mercado, devido ao fato de influenciarem os preços da arroba do boi ou da vaca gorda variando apenas a quantidade comprada. Há regiões pecuárias nessa situação.

Até pouco tempo atrás, podia-se afirmar que a pecuária brasileira era um exemplo de mercado perfeito, cuja característica é uma grande quantidade de compradores e uma grande quantidade de vendedores. Mas isso já era.

A concentração - O processo de concentração acelerada do setor frigorífico começou em 2008, com a crise global, e podou drasticamente as opções de venda dos pecuaristas em muitas regiões de pecuária.

Os três maiores frigoríficos têm capacidade estática para processar 57,7 mil bovinos/dia, um estupendo salto de 62,1% em relação a 2006, quando a capacidade estimada dos três maiores era de 35,6 mil cabeças/dia.

Dos 17 maiores frigoríficos existentes em 2006, 10 deles foram para o espaço e, parcela das plantas foi absorvida pelos frigoríficos de grande porte.

Considerando-se a estimativa da capacidade de abate em 60 milhões de cabeças ao ano, os três maiores frigoríficos concentram uma fatia de 27% do mercado brasileiro. Ou seja, perto de um terço.

Olhando a figura, observadores sagazes dirão que uma empresa que detém uma fatia de 22,7% do mercado não pode ser acusada de concentradora. Mas se o foco for ajustado, a coisa muda de figura.




"Capacidade instalada dos três maiores frigoríficos aumentou 62% em 6 anos"

Por exemplo. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), o JBS responde por 48% dos abates no Estado. No Rio Grande do Sul a posição hegemônica é ocupada pelo Marfrig.

A pecuária brasileira mudou, mudou principalmente nos últimos quatro anos, e continua em mutação. O mercado pecuário, cuja tradição era de perfeição, está migrando para a imperfeição. E o pecuarista, a raiz de todo esse processo? Bem, o pecuarista terá que melhorar o seu vocabulário. Terá que aprender o significado de palavrões como monopsônio, oligopsônio, truste, cartel, e outros mais.

Colaborou Hyberville Neto

*Publicado originalmente na revista DBO Rural - ano 31 - edição 380 - junho de 2012



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