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Scot Consultoria

Brasil e África: separados no berço


Terça-feira, 24 de abril de 2012 - 09h39

Problemas sociais - soluções liberais
Liberdade política e econômica. Democracia. Estado de direito. Estado mínimo. Máxima descentralização do poder.


Somos o maior país africano fora do continente africano. Temos proximidade cultural, climática e hereditária. Muitos países africanos almejam ter um relacionamento mais próximo daquele que é visto, não como primo, mas como um quase país-irmão. Isso representa uma oportunidade enorme, do ponto-de-vista econômico e legal, para o nosso mútuo benefício.


Após haver enfrentado décadas de profundos desafios econômicos e estagnação, muitos países, particularmente na região subsaariana, têm crescido em taxas muito atraentes para os investidores internacionais.


Alguns antigos mitos sobre a África passaram a ter um papel reduzido, pois tem aplicado políticas econômicas mais inteligentes, com melhoria na qualidade dos governos, diminuição nos conflitos armados e melhoria nos índices econômicos. O continente vive um período de maior tranquilidade econômica e social, o que tem auxiliado na expansão de suas fronteiras comerciais. A África e o mercado internacional se descobriram.


Ficou óbvio, nos últimos anos, que mais do que auxílio humanitário o continente precisa de investimentos sérios, a serem muito bem remunerados pelos países receptores. A África tem-se, paulatinamente, recuperado de alguns fantasmas de seu período colonial e se encontra no ponto de virada.


Na medida em que as riquezas derivadas da exploração dos recursos minerais vão sendo exploradas, aumenta o problema de distribuição de renda, enriquecendo a poucos muito mais do que à maioria da população.


No entanto, pelo fato de se haver controlado a inflação na maioria dos países, reduzido a dívida estatal, disciplinado fiscalmente o estado e administrado melhor a questão cambial, o continente africano tem conseguido, ao mesmo tempo, superar, em muito, eventuais aspectos negativos.


A corrida pelo petróleo tem tido um papel fundamental como elemento de atração do capital estrangeiro. Para os países produtores se dirigiram mais de 60% do Investimento Estrangeiro Direto nos últimos cinco anos. No entanto, políticas públicas mais inteligentes têm também beneficiado as populações mais carentes que - semelhantemente ao Brasil - têm-se revelado consumidores vorazes.


Esse novo dia na África não tem passado despercebido pelos chineses. A China - uma potência emergente semelhante à nossa - busca consolidar relacionamentos estratégicos de médio e longo prazo, a fim de garantir o fornecimento das matérias-primas de que tanto necessita. Ela se tornou, nas últimas décadas, a maior investidora em infraestrutura africana, a maior fornecedora de empréstimos ao continente, seu maior consumidor de petróleo e o maior exportador de produtos manufaturados de qualidade média para o continente.


Como resultado, o comércio bilateral entre China e África cresceu muitíssimo, o que levou a China a investir mais de US$6,6 bilhões em investimento direto.


Nesse cenário efervescente, os números apresentados pelo Brasil - parceiro natural do continente - são ínfimos. O que deveríamos, então, fazer?


A resposta inclui estabelecer-se uma estratégia visando à construção de um relacionamento econômico de longo prazo com o intuito de proporcionar aos nossos empresários as oportunidades inexistentes no passado. Passa também por renovar o espírito empreendedor do brasileiro em buscar navegar naquele oceano de oportunidades.


Claro está que, diferentemente dos chineses, devemos sim, como amantes da democracia, buscar influenciar a agenda das negociações, estabelecendo algumas pré-condições de direitos humanos e boa governança política, conforme tem sido intensamente enfatizado pelo Banco Mundial.


Exemplo dessa renascença africana é o caso da Angola que, após conseguir resolver anos de conflito armado, de natureza política, conseguiu, finalmente, chegar a um termo e agora vê a prosperidade batendo à porta. Botsuana tem realizado um verdadeiro milagre em suas finanças estatais. A Nigéria, que deverá ser uma das 10 maiores economias mundiais em 2020, assim como Gana, Senegal, Tanzânia, Moçambique, Zâmbia e Guiné Conakry têm-se transformado em lugares seguros para tranquilidade, tanto pessoal como financeira. O desenvolvimento bateu às portas e, finalmente, os africanos têm trabalhado incansavelmente para aproveitar essa janela de oportunidade.


Uma vez na África, disseram-me que uma visita àquele continente é tudo o que é necessário para seduzir um indivíduo. Trata-se da mais pura realidade. O continente possui inúmeras oportunidades inexploradas, semelhantemente ao que a China era no passado recente. Quem olha para a África deve ter a mesma perspectiva, particularmente no sentido de não ficar pensando no passado de crise, mas buscando o futuro brilhante que a região terá. Ganhará, na África, quem tiver visão de futuro e não, apego ao passado.


Alvorece, portanto, um novo dia na África. É hora de aproveitar as vantagens desse outro gigante, deitado num berço ainda mais esplêndido.

*Por Marcus Vinícius de Freitas



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