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Scot Consultoria

Sétima semana consecutiva de queda nos preços da arroba do boi


Quinta-feira, 15 de março de 2012 - 18h19

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Pense em 927 semanas. É muito? É pouco? Para efeito de comparação, um ano possui 52 semanas. Então, quero dizer, se você somar 927 semanas parece que é um número bem grande. Colocado cada uma dessas semanas uma antes da outra você chegará ao início do plano real, em junho de 1994. Esse é o tamanho da base estatística dos preços da bolsa. É uma boa base de dados, longa o suficiente. Pois bem, nessas 927 semanas, somente uma única vez a arroba caiu sem parar por oito vezes seguidas. Repito, apenas uma única sequência de oito semanas. A razão de levantar esse assunto é que estamos passando pela sétima semana consecutiva de queda nos preços da arroba do boi. Quero dizer, semana que vem inteirará dois meses seguidos que a arroba só faz cair, sistematicamente, toda semana. É uma baita pressão de baixa, eu diria. Informações filtradas junto ao mercado trazem à tona duas coisas. A primeira é que a oferta de fêmeas, em especial em Mato Grosso do Sul, está excelente. “Compra o que quiser”, dizem. A segunda é que os frigoríficos vêm aumentando os abates há algum tempo para aproveitar a queda da arroba e capturar a positiva margem que a operação está gerando. Dentro dessa linha de raciocínio, imagino eu, se não fosse por esse aumento nos abates, a arroba estaria até mais baixa do que está agora. É uma baita pressão, mas o que a história nos mostra é que, por pior que esteja o mercado, por mais ofertado que possa estar, seja na safra, seja por alguma crise, somente uma única vez nessas 927 semanas a arroba caiu por dois meses seguidos. Pode cair novamente semana que vem? Claro que pode. Pode cair por nove semanas consecutivas e fazer novo recorde de baixa em quantidade de semanas em queda? Sim. O que quero deixar aqui, caro leitor, é um alerta, apenas. O alerta é o seguinte: independente do que se diz sobre o mercado, o fato é que estamos cruzando nesse exato momento por limites historicamente e estatisticamente sólidos que possui boas características de frear mais uma rodada de queda na arroba. Deixo bem claro que não sei se estamos passando pelo pior preço da safra, que se esse momento é o do fundo do poço. Como disse, esse momento tem características que o fazem um sério candidato para ser o pior preço do ano, porém não sou petulante em afirmar isso, até porque o mercado é soberano e pode nos desaprovar na semana seguinte. Pense da seguinte forma. É como um atleta correndo. Todo atleta tem seu limite. Se pegarmos um único atleta e fomos acompanhando ele durante vários anos e vermos que ele ao redor de 12 quilômetros de corrida fica exausto, é seguro afirmar que ao redor de 12 Km é seu limite. Qual o limite do boi? O que queremos através dos acompanhamentos que fazemos é mostrar que, ao redor do que o mercado está agora, ele está cansado. Em primeiro lugar, o óbvio. Ao lado, em cima, temos os preços semanais da arroba do boi. Notem que 93 reais agora de 2012 já está baixo dos 94 reais de piso do ano passado. Somente por isso aí já nos faz ficar alerta para uma possível pausa nesse movimento de queda da arroba. Olhando ainda para esse gráfico notamos outra coisa, também importante. Como foi forte a alta dos preços entre 2009 e 2010. Não se engane — boa parte da razão da arroba estar tão fraca do jeito que está é em decorrência dessa alta. Não é fácil “digerir” preços tão altos assim. Isso toma tempo, e esse tempo é o tempo que estamos passando atualmente. No gráfico do meio fizemos um zoom do boi nesses últimos meses. Repare que existe uma zona técnica ao redor de 93 reais muito importante. Falamos sobre isso semana passada ao dizer que ao redor disso daí o mercado encontrou um piso, mesmo que de curto-prazo. Esse outro gráfico aqui ao lado mostram as semanas em queda nos preços da arroba. Esse foi o assunto que abriu nosso texto de hoje. Notem que estamos na sétima semana de queda. A única vez que o boi caiu por oito semanas seguidas foi em 2011, entre agosto e setembro do ano passado. Na próxima página, mais gráficos técnicos. Outro estudo que gostaria de mostrar é uma conta proprietária da Carta Pecuária. Um indicador muito confiável de variação de preços de mercado e até onde ele pode ir chamado Força da Arroba. Observe a atualização recente colocando, através de uma conta matemática, os preços próximos da zona verde, que representa –5% e abaixo disso. Qualquer coisa abaixo de 5%, ou seja, dentro da zona verde, é um sinal extremo de alerta. Hoje a arroba está na casa dos 4,2%. Rogério, porque colocar verde, se o sinal é de alerta? Não seria sinal vermelho ou amarelo? Penso o contrário, caro leitor. O verde significa para mim final do sofrimento e possível momento de compra. Estamos perto do final do sofrimento da safra, segundo esse gráfico. Vemos que realmente a vaca caiu de preço perante o boi. Isso é sinal de oferta de vaca. O desconto que era ao redor de 4% no final de 2011 hoje oscila entre 8~10% entre Campo Grande e Cuiabá, com destaque para o expressivo aumento em Campo Grande, o que vai de encontro com o que o pessoal anda dizendo por aí. Goiânia saiu de 3% para 6% atuais. Maior o desconto, maior a oferta naquele momento de fêmea. Sendo assim, como um sinal de curto-prazo, isso é importante. Por exemplo, pegando hoje e olhando para 2011, o aumento no desconto atual impressiona. Mas se pegarmos uns quatro anos para cá, não. Agora, sem dúvida, se esses descontos ficarem acima de 8%, talvez com tendência de subirem mais ainda, aí é outra coisa. Temos que monitorar. Repare as escalas de abate. Estão em alta desde dezembro, com uma barrigada em janeiro e voltando a subir em fevereiro. Em março estamos com 5 dias em média, alto para uma fase de alta do ciclo pecuário, porém ao redor disso aí ou até um pouco mais em uma fase de baixa do ciclo. Se as escalas teimarem e ficarem acima de cinco dias, caro leitor, é novamente mais uma confirmação que a oferta tem aumentado estruturalmente Brasil afora. Tem sido dito que depois que passar essa diarreia de venda de fêmeas o mercado voltará a subir. Não acho que o mercado irá subir por causa disso. Ele irá subir porque os frigoríficos estão aumentando seu desfrute, retirando rapidamente animais do mercado e jogando isso para o consumo interno (que está bom) e exportação (falta carne lá fora). Mesmo em uma fase de baixa da arroba, entressafra é entressafra e a arroba sobe. Mas a grande diferença é que ela sobe vacilante, forte na entressafra, mas também cai forte nas águas... Daí meio que não saindo do lugar ao longo do tempo, dando prazo para a inflação comer grande parte do preço do boi. Aí sim, aí, quando a inflação fizer seu serviço de comer poder aquisitivo do pecuarista, aí teremos a fase final do ciclo pecuário. O que temos agora é possivelmente a virada. Quero ainda aguardar os dados do IBGE que sairão mês que vem sobre o abate de fêmeas para definitivamente vermos se a coisa já virou para baixo ou está em processo de virada. Estou, naturalmente, pondo em palavras o que se pode ver no gráfico. Mudando de assunto. Fiz uma palestra essa semana em Ribeirão Preto sobre comercialização de gado na bolsa e no final um ouvinte veio conversar comigo, dizendo que é leitor dos textos semanais da Carta Pecuária. Daí ele fez um comentário dizendo que a Carta Pecuária não tomava partido do mercado — no sentido que não dizia se os preços iriam subir ou cair. Bom, realmente não dizemos aqui se os preços vão subir ou cair. O que fazemos é mostrar aos leitores, dados os preços e o clima do mercado vigente, as possibilidades de negócios que ele pode fazer. Daí, como exemplo, sugerirmos venda de boi gordo ano passado, compra de opções de venda para cobrir custo de produção nesse início do ano. Na edição da semana passada, sugerimos a compra de boi magro e segurar a venda de boi gordo. Isso sem falar que a gente vem fazendo isso desde 2003, sugerindo momentos de venda e compra de boi gordo e boi magro, tanto no mercado físico quanto no mercado futuro, durante os anos. Então, de fato, é verdade que não digo se os preços vão subir ou cair. Sugerimos a ação do que se deve fazer quando os preços estão subindo ou caindo, o que é inteiramente diferente. Pelo que tenho recebido de leitores satisfeitos com os negócios que eles fizeram ao longo dos anos, fico feliz em ajudar. Agora, sobre se os preços vão subir ou cair e ter uma posição antecipada nesse sentido, estou fora. Deixo para os que dominam bolas de cristal e adoram dizer onde estarão os preços da arroba daqui a um, dois, três e seis meses fazer esse tipo de tolice de tentar adivinhar o futuro.
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