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Segunda-feira, 10 de outubro de 2011 - 17h15

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Semana passada a gente conversou sobre a variação de três anos da arroba do boi e como ela é importante para nos dizer como anda a pecuária de corte. Quando o preço da arroba do boi está muito próximo do que valia três anos antes, cuidado. Isso significa uma arroba que não está remunerando a engorda naquele momento. Estamos passando por uma fase destas agora. Hoje queria continuar nessa linha de raciocínio falando um pouco sobre a taxa de reposição entre o boi e o bezerro. Sabemos que existe uma relação entre esses dois animais. Sabemos também que a taxa de reposição nos indica para onde e qual a direção está se movendo a rentabilidade da engorda. Essas duas coisas já comentei em cartas anteriores. Quem tiver interesse de ler novamente, me avise que envio os textos diretamente para você. Mas hoje gostaria de olhar para o gráfico da taxa de reposição e tirar algumas ideias disto. Só isso. Nada demais. Somente vamos dar uma olhada no sobe e desce dessa taxa com o passar dos anos. Mas antes de olhar o gráfico, caro leitor, queria que você deixasse em suspenso um pensamento. O pensamento é o seguinte. Tente não isolar em compartimentos específicos “Taxa de Reposição”, “Arroba do Boi”, “Abate de Fêmeas”, “Consumo Interno”, etc., como se fossem coisas separadas. Não são. No dia-a-dia isso aí anda tudo misturado, um influenciando o outro. Como não dá para unir tudo isso em um texto semanal como esse aqui, a gente vai dissecando aos poucos o negócio, vendo suas particularidades e suas peças separadamente. Então, sim, taxa de reposição. O mercado de boi gordo é diferente do mercado de bezerro. O bezerro responde à variação no abate e retenção de fêmeas. Responde em algum grau aos problemas climáticos, tal qual a seca no Mato Grosso recente que, dizem os entendidos, impactará nos índices de prenhes das fêmeas. O boi gordo, por outro lado, sofre muita influência do mercado consumidor e da variação das exportações. Tal qual o bezerro ele também é influenciado pelo abate e retenção de fêmeas. O boi gordo sofre influência do preço do bezerro. A taxa de reposição mostra essa dinâmica entre os dois. Mostra a temperatura da pecuária, no sentido que mede a relação entre o início, o bezerro, e o final, o boi gordo. Se a taxa está baixa, a pecuária de corte está ruim das pernas. Se a taxa está alta, a pecuária de corte está saudável. Agora, infelizmente, é necessário dizer, quando está bom para o invernista, está ruim para o criador. Esqueça qualquer historinha de criança aqui. Seria ótimo se estivesse bom para o criador e bom para o invernista, porém quando isso ocorre, está ruim para o consumidor final, e eventualmente a carne cai, a arroba cai e o bezerro cai. Como as decisões de investir em cria ou investir em engorda nunca ocorrem ao mesmo tempo é seguro dizer que a maioria dos momentos ou está bom para a cria ou está bom para a engorda. Não acredita? Isso é demonstrado diretamente no gráfico da taxa de reposição, caro leitor. É exatamente essa uma das informações que a gente tira somente olhando para esse gráfico. Observe quando a taxa está alta — bom para o invernista. E quando a taxa está baixa — bom para o criador. Esse não é um julgamento moral. É só a constatação das regras do mercado tais quais são. Sabendo as regras podemos jogar o jogo. Pois bem, tem hora que está bom para a cria. Esteve muito bom para a cria entre 2008 até meados de 2010. Não mostro aqui, mas com o bezerro sendo vendido na casa dos 700~800 reais de lá pra cá e os custos de produção dentro de valores aceitáveis, o criador estava achando bom o jogo. Tanto achando bom que ele queria mais: passou a reter mais e mais vacas a fim de, com mais bezerros, conseguir capturar mais desses bons preços. É óbvio. Quem é que não quer aproveitar a maré? Pois ocorre que não foi só um criador que teve essa ideia. Foram milhares. Milhares de novas vacas, milhares de novos bezerros entraram no mercado. No início, aos poucos. Agora, nitidamente. Essa nova oferta de bezerros tem uma consequência imediata — ela eleva a taxa de reposição. Deixe-me, se você me permite, colocar novamente o gráfico da reposição. Só que agora com um balizamento no olhar. Quero direcionar o seu olhar para o que eu estou vendo nesse gráfico. Vejo uma repetição do que ocorreu entre 2000 até 2004, caro leitor. Veja os números 1, 2, 3 e 4. Cada um marca um ponto de virada. A mesma fase pode ser observada a partir de 2008 até recentemente. Observe os números como são parecidos, até mesmo nas respectivas taxas de reposição. O que estou querendo dizer é o seguinte. Podemos estar entrando em uma nova fase boa de reposição, tal qual foi entre 2003 até 2006, ou seja, entre três e quatro anos futuros de boa compra de bezerros. As bolas em vermelho sugerem que estamos passando por essa fronteira mais ou menos agora, tal qual foi lá atrás em 2003. Levo muito a sério esse tipo de vai e vem nos preços mostrados neste gráfico. Então, concluo o que começamos na semana passada. Chegamos à mesma conclusão, agora por outro lado. Talvez 2012 possa ser um ano bom, afinal de contas. Agora vamos para a coisa prática. O que fazer com esse tipo de informação? Na bolsa já estão sendo negociados os contratos da safra janeiro, fevereiro, março, abril e maio. Também está aberto para negociação o contrato de outubro de 2012. Lembre-se que, na bolsa, esses contratos de 2012 já estão sendo negociados livres de impostos, ok? Então não pode pegar e comparar out/11 e out/12 direto, pois out/11 possui impostos. Tem que descontar 2,3% dos seus preços para igualar os dois vencimentos. Observe a curva dos futuros 11~12, devidamente descontados os impostos dos preços de 2011. Repare que para 2012 a expectativa é mais ou menos essa que dissemos aqui — preços melhores do que 2011. De dois a três reais a mais sobre o que ocorreu em 2011. Interessante é notar que para a safra de 2012 a expectativa são preços próximos ao que o mercado está pagando agora. Então, caro leitor. Faça suas contas. A bolsa já está permitindo enxergar 2012 e talvez seja interessante a gente começar a pensar em algo para lá. Por hoje é só. Mais para frente a gente vai olhar isso daí com mais calma. Por enquanto a ideia foi mostrar através da taxa de reposição que existe um cenário positivo para 2012. A bolsa entra nessa história só para comprovar com números que essa possível boa perspectiva é real.
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