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Scot Consultoria

Batendo fora do tambor


Terça-feira, 10 de maio de 2011 - 17h14

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Semana passada o mercado físico estava trabalhando com uma arroba ao redor de 101 reais, à vista, livre de imposto, em São Paulo, e o contrato de maio apostava que a arroba iria cair para 99 reais também à vista, livre de imposto. Hoje a arroba no mercado físico está 99 reais, o contrato de maio renovou a aposta de baixa, e diz agora que ela cairá para 97 reais. Olhando além dessas movimentações de curto prazo, devemos perguntar o seguinte. Considere que os 99 reais de hoje, e entre 97 e 101 que esse gráfico indica é praticamente o mesmo preço. Então devemos perguntar o seguinte: estarei vendendo boi na entressafra pelo mesmo preço de hoje? Esta é a pergunta mais importante, de longe, que devemos refletir esta semana. Nem vou falar dos fundamentos de mercado. Vamos simplesmente dar uma olhada para o que realmente ocorreu nos últimos 16 anos. Em primeiro lugar temos a variação do preço da arroba da safra para a entressafra neste gráfico acima. Hoje, a perspectiva é de alta, 4% de agora até lá. Preste atenção neste número, pois ele é ruim. O mercado está esperando um 2011 mais fraco, que a mais fraca entressafra da pecuária, que aconteceu em 2009 onde a arroba subiu 8% da safra para a entressafra. Guarde essa informação, que a usaremos novamente daqui a pouco. Mesmo assim, nem tudo é coisa ruim. Independente de o mercado estar caindo agora lembre-se que na safra do ano passado a arroba valia 72 reais. Com o contrato de maio valendo R$98,90 nesta sexta-feira, isso equivale à uma alta de 37% do ano passado até agora. É a mesma alta que ocorreu na safra de 2008, a maior da história, quando ela saiu de 50 reais em 2007 para 70 reais. Então, a firmeza dos preços, a alta da arroba que começamos a ver no segundo semestre do ano passado ainda não acabou para a pecuária. A coisa ainda está atingindo a safra. Observe o gráfico safra/safra abaixo. Lembre-se, repito que estes valores não estão sujeitos à interpretação. Eles são história, o que realmente ocorreu. Somente em 2011 ainda não, pois contamos com os contratos futuros, que oscilam, e todo esse texto de hoje trata da oscilação dos preços dos contratos futuros e a visão desse mercado para horizonte próximo. Pois bem, então sabemos que o mercado subiu forte no ano passado e está demonstrando que irá subir forte também nesta safra. Mas daí adiante os contratos mudam completamente de atitude. Mudam completamente de humor. Observe no gráfico entressafra/entressafra a seguir. Esperam preços 12% abaixo nessa entressafra em relação ao ano passado. Em outras palavras, os preços estão sendo cotados como se estivéssemos em um ano de crise, como foram em 2009, ou nas fases de baixa do ciclo pecuário, como foram 1995 ou 2005. Daí pergunto. Em 2011 estamos em um ano de crise? Na fase de baixa do ciclo pecuário? Bom, não sei qual a sua opinião, mas a humilde impressão que passa olhando e andando nesse país afora é que o Brasil não está em crise. Também não estamos na fase de baixa do ciclo pecuário, pois o preço do bezerro voltou a subir e o abate de fêmeas ainda não aumentou o suficiente. Aqui acima temos desenhado o que chamo de força do movimento dos preços. Novamente deixarei de lado a matemática destes números - tem a ver com o aprofundamento estatístico, quando disse que estava fazendo nos números da pecuária no início do ano, e que renderia alguns frutos em análise dos preços. Então, existe uma força imaginária que torna muito difícil a sustentação da queda da arroba quando estes números vão se tornando próximos de -5%. Ao redor de -10%, então, a queda, ou a sustentação dos preços se torna dificílima. Com a queda atual da arroba a conta já está em -3% indo para -4%. Com os 98,90 reais desta sexta-feira do contrato de maio, levaria essa força do movimento para um índice ao redor de -5%. Entendeu? O maio sinalizaria o fundo do poço dentro desta linha de raciocínio. Abaixo disso? Bom, abaixo disso a arroba teria que cair para R$94,00 para esse índice chegar em - 10%. “Ah, Rogério, mas por que você não disse esse tipo de coisa semana passada?” Ora, caro leitor, porque semana passada o mercado ainda não estava próximo desses números que estou falando hoje. Esses números são gatilhos, entenda bem, são fronteiras de preço que tendem a ser respeitadas. Não adianta nada antecipar essas coisas. Temos que esperar elas acontecerem para tomarmos partido. Então, se maio está tecnicamente próximo de algo que supostamente seria um suporte nos preços, o que dizer do outubro? O outubro, como dissemos no início, está dizendo que esta será a pior entressafra da história. Estaria o outubro também próximo a algo que poderia ser um piso? Não vou estender o texto mais do que já está, mas a resposta seria sim. Aliás, comentei sobre esse suporte em fevereiro na edição nº 407. Mas qual o potencial? Lembra-se da frase: “O teto do boi é o bezerro”? Sempre falo isto nas minhas palestras. Isso quer dizer que se tem um lugar que você pode olhar que seria o potencial altista da arroba é olhar para a arroba do bezerro. O movimento da arroba do bezerro tem sido fascinante nesses últimos meses, e gostaria de deixar aqui por último o gráfico para você dar uma olhada. Repare no próximo gráfico. Aqui você vê o caso clássico na entressafra do ano passado - a arroba do boi encostando na arroba do bezerro - nestas linhas mais suaves. As linhas mais grossas são as médias de curto prazo dos preços e servem para a gente identificar a tendência recente. Repare no bezerro subindo e o boi caindo. Está sendo assim desde meados de março, mas somente agora a coisa tomou os contornos de uma, “hmmm”, distorção? Sim, porque dá para ver o bezerro mais firme que o boi no momento. O bezerro hoje vale ao redor de 130 reais por arroba, com uma média de 125 reais. O boi vale hoje 101 reais, com uma média de 103 reais. Deixe-me te dar uns números históricos da pecuária para você ir meditando durante a semana. O valor médio histórico do bezerro corrigido pela inflação é de 750 reais. Hoje ele vale 780 reais. Ou seja, está em linha com o restante das commodities e está corrigindo sua defasagem histórica das últimas décadas. E o boi? O valor médio histórico da arroba do boi é de 150 reais. Hoje ela vale 101 reais. Parece que o boi tem que caminhar mais um pouco ainda nos próximos anos. Com todo o resto do mercado batendo o tambor, soa estranho o boi, pelo menos no mercado futuro, estar tocando clarinete. O que me leva à seguinte pergunta, mudando de metáfora: que cheiro é esse? Você está sentindo? Hmmm... Parece cheiro de distorção, não?
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