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Scot Consultoria

Sobressemeadura aérea


Terça-feira, 5 de outubro de 2010 - 08h24

Engenheiro Agrônomo e Mestre em Nutrição Animal pela ESALQ/USP. Sócio-consultor da Boviplan Consultoria Agropecuária.


Colaborou Ricardo Vichin Neto, graduando em Engenharia Agronômica, ESALQ/USP. O uso mais comum da aviação agrícola está relacionado à aplicação de defensivos agrícolas, embora existam poucos dados confiáveis a respeito desta utilização. As análises do setor são realizadas a partir de estimativas e através de depoimentos pessoais. Na recuperação da atividade agrícola sentida na safra 2007/2008, destacou-se o contínuo incremento do uso de fungicidas em arroz irrigado, o crescimento da cana-de-açúcar, a recuperação da soja e a maior participação da aviação agrícola nas culturas de milho, citros e reflorestamentos. As pastagens, no entanto, representam um mercado com potencial ainda pouco explorado pela aviação agrícola, podendo, em algumas regiões, como no estado do Rio Grande do Sul, preencher períodos de ociosidade (outono e inverno). Predominam, de fato, na semeadura de pastagens, espécies de inverno no Sul do Brasil (azevém e trevos) e espécies típicas de abertura de fronteiras agrícolas (colonião e braquiárias), no Centro-Oeste e Norte do país. Além da semeadura, a aviação agrícola é empregada, nas pastagens, na aplicação de herbicidas (Centro-Oeste e Norte), fertilizantes (Sul) e inseticidas (combate ao gafanhoto e cigarrinha). Espécies que se estabelecem bem em plantios superficiais podem ser distribuídas a lanço na superfície por semeadora ou avião, podendo, posteriormente, serem compactadas com rolo. Usam-se, para este tipo de plantio, plantadoras do tipo "Brillion" que, além de distribuírem semente, têm acoplados os rolos compactadores. As espécies que se estabelecem melhor em plantios mais profundos normalmente são semeadas com a plantadora de cereais ou então distribuídas a lanço e cobertas com uma gradagem leve. O elevado rendimento operacional da sobressemeadura aérea faz com que haja a necessidade de um planejamento detalhado das operações de incorporação das sementes das espécies que não germinam em superfície. Em apenas um dia de operação, facilmente consegue-se semear áreas acima de 500 ha, o que implica na necessidade de possuir tratores e mão-de-obra disponíveis para as operações de incorporação. Um conjunto de grade é capaz de cobrir de 30 a 40ha por dia, o que resultará em duas semanas para concluir a etapa de semeadura. Assim, a gradagem com grade niveladora fechada é indicada para solos mais argilosos e rolos compactadores para terrenos mais arenosos, visando impedir o aprofundamento excessivo das sementes. É importante ressaltar que, das forrageiras de maior relevância na pecuária nacional, apenas a B. ruziziensis dispensa incorporação. Dados de semeadura em restevas de arroz, no Rio Grande do Sul, demonstram que não ocorreram diferenças significativas na produção de forragens entre os sistemas de semeadura de azevém, trevo branco e cornichão. A semeadura em cobertura por avião apresentou redução de custo de 30% em relação à semeadura em terra preparada. Os sistemas de ILP apresentam grande potencial para se utilizar aviões na semeadura de gramíneas tropicais, durante o ciclo da cultura agrícola. Para isto, a sobressemeadura deve respeitar duas condições: que ainda exista umidade no solo e que haja previsão de chuva para os três dias seguintes ao plantio da gramínea. O uso de variedades de ciclo precoce a médio é de fundamental importância para que a sobressemeadura seja realizada dentro do período com maior incidência de chuvas, aumentando assim o sucesso da técnica. O sucesso deste método depende de diversos fatores dentre os quais as condições climáticas, desde a véspera da semeadura, até 10 dias após a emergência, o grau de desfolhamento da cultura e a incidência direta da luz solar sobre a superfície do solo. Os critérios para a sobressemeadura da soja são: • O estádio da cultura deve estar entre 50 a 75% de enchimento de grãos da soja. Usar os estádios R5 e R6 somente se as condições climáticas o exigirem, respeitando a tolerância ao estiolamento e ao ressecamento de cada cultura a ser implantada; • As culturas anuais como capim pé-de-galinha, milheto, sorgo, etc., devem ser implantadas por sobressemeadura em soja, no estádio R6. Já as culturas perenes, como as braquiárias, possuem um crescimento inicial lento e devem ser implantadas mais próximas do estádio R5; • A recomendação é de fazer somente a sobressemeadura em lavouras livres da infestação de plantas invasoras para reduzir a competição com a pastagem e • O avião deve voar a uma altura de 10 a 20 m. A faixa ideal de voo para o avião Ipanema, equipado com distribuidor original, é de 10 a 12 m, dependendo dos ajustes do equipamento. Segundo dados do SINDAG (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola) o custo por hectare da aviação agrícola, no Brasil, para a safra 2008/2009 foi entre R$25,00 e R$35,00. O valor apresenta flutuações dependendo da distância da pista, distância do município e da área cultivada. A empresa AEROTEX realizou sobressemeadura em 15.000ha na última safra. Para exemplificar, foi utilizada uma área de 500ha de soja a uma distância da pista de pouso de 15km (ideal até10 km). Neste exemplo, o custo por hectare foi de R$31,70 (São Desidério/BA). O elevado custo de aplicação é resultante principalmente da longa distância da pista de pouso considerada no exemplo, além de ser recomendável planejar a operação em conjunto com outros produtores para reduzir o custo por hectare. A empresa Terceiro Milênio Aviação Agrícola para as condições apresentadas teve um custo de R$25,00 por hectare. Porém, está em entressafra, o que significa dizer que as aeronaves estão no hangar na sede (Paraná) e, portanto, para não ser cobrado o translado da aeronave, existe a necessidade de atender mais agricultores na mesma operação (é inviável atender apenas um cliente). As condições da pista também interferem, pois, se estiverem em bom estado, é possível que o avião decole com a capacidade máxima de combustível no tanque, que é de 264 litros de capacidade utilizável para os modelos Ipanema. Só para abastecer a aeronave, o tempo gasto é de 2 a 3 minutos. Os voos também possuem restrições de horário, só podendo começar 30 minutos antes do nascer do sol e podendo prosseguir, no máximo, até 30 minutos após o pôr do sol. Os operadores que desejarem realizar operações agrícolas noturnas devem elaborar um “Plano para Voo Agrícola Noturno”, que deverá ser aceito pelo DAC. O horário foi definido em função da quantidade de luz natural, suficiente para uma boa visibilidade pelos pilotos. Em localidades onde o avião consegue operar com carga máxima (600kg), o rendimento pode chegar até 98 ha/hora. Um segundo aspecto importante na utilização da aviação agrícola, em pastagens, é a aplicação de herbicidas. A aplicação por avião tem acesso a áreas onde não é possível a aplicação via trator (jatão ou pulverizador de barra) devido, principalmente, a terrenos com grande declividade. Uma das principais limitações da pulverização aérea é a perda do produto por deriva, que pode resultar em danos às culturas vizinhas, aguadas e algumas árvores. O rendimento operacional também é menor, principalmente pela limitação do número de horas voadas, com rendimento entre 50 e 90 ha por dia. As principais vantagens da aplicação aérea, em benefício da produção agrícola e da proteção às pessoas e ao meio ambiente, são: rapidez de execução, o que permite tratar grandes áreas no momento correto; uniformidade de deposição dos produtos aplicados; ausência de danos diretos (amassamento) das plantas da cultura; inexistência de danos indiretos, como a compactação do solo; possibilidade de uso em praticamente qualquer condição de solo (solos irrigados ou encharcados por chuvas, por exemplo); menor número de pessoas envolvidas, o que é vantajoso quando se trata de aplicação de produtos tóxicos; participação obrigatória de pessoal especializado; aplicação, sempre, sob responsabilidade técnica de engenheiro agrônomo e maior economia, pois a pulverização aérea tem custos proporcionalmente menores em áreas extensas e com infra-estrutura disponível. Referências: FATORES LIMITANTES ASSOCIADOS À FORMAÇÃO DE PASTAGENS NO BRASIL TROPICAL, Zimmer A.H. Revista Brasileira de Sementes, vol. 03, n° 01, p.73-84, 1981. CENÁRIO ATUAL DA AVIAÇÃO AGRÍCOLA NO BRASIL, Silveira Filho V.R. Instituto Tecnológico de Aeronáutica. 2004. Centro de Pesquisa de Terras Baixas (CPATB/EMBRAPA). SOBRESSEMEADURA AÉREA DE PASTAGENS, Eng. Agr. Nilvo Altmann, SIGMA. Relatório da Atividade, SINDAG (Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola). 2009.
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