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Scot Consultoria

Cartas dos leitores


Terça-feira, 6 de julho de 2010 - 08h47

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Primeiro, obrigado. A coisa mais gratificante ao escrever é ter a resposta de vocês, dos leitores. É um prazer contar com uma audiência tão qualificada e bem informada. Leio todos os emails que recebo e quando digo que a idéia aqui é democratizar as informações, a intenção é exatamente essa. Quanto mais vocês contribuem com suas opiniões e pontos de vista, mais a gente, coletivamente, aprende e posso realimentar os textos que escrevo com esses conhecimentos. Todos saem ganhando. Um mês atrás comentamos sobre a importância do impacto do frango nos preços da pecuária. Na ocasião deixei a seguinte pergunta no ar. “Algum leitor poderia me explicar qual a razão desse cenário em baixa dos preços do frango?” Alguns leitores foram muito gentis em responder. Seguem as colocações abaixo: --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Rogério, Eu acompanho o mercado de frango e tenho palpites dos motivos que justificam a queda livre dos preços da ave. Minha leitura é a seguinte, nesta ordem de importância: 1) O custo da ração despencou neste ano por conta do milho e farelo de soja, principalmente. Na nossa estimativa o custo da ração para aves na comparação mai 10/09 foi -26%. Já no acumulado jan-mai 2010/09 foi de -20%. Enquanto isso o frango vivo caiu -12% (mai 10/09) e -10% (jan-mai 10/09). Ou seja, houve melhora para o produtor pelo lado da relação de troca. 2) A opção das associações em não divulgar a partir deste ano em tempo hábil os alojamentos de pintinhos (parado em fev/10) e as matrizes de corte (parado em set/09) deixou não só o mercado no escuro, mas também os produtores (inclusive seus associados). Suspeito de que, sem saber o quanto vem sendo alojado, cada um (produtores) faz como acha que deve e, na média, o sentimento de que cabe mais frango no mercado está prevalecendo, o que é um perigo. Visão míope. 3) Com os dados de fev/10 divulgados nesta semana, agora sabemos que no acumulado jan-fev 10/09 os alojamentos de pintos cresceram 12%, porém, já se observava há meses que os abates SIF vinham crescendo forte, ao redor de 10%. Ou seja, os alojamentos agora não são mais indicador antecedente da oferta, o abate antecede os alojamentos (está tudo invertido). Não seria nenhum desastre elevar continuamente a produção se houvesse respaldo das exportações. O problema é justamente que as exportações de carne de frango estão patinando em quantidade e, agora, estão ficando ainda piores, por conta da menor procura da União Européia. Assim, com menos mercados externos, esse frango está literalmente “voando” pro mercado interno, aí não tem quem agüente tanta coxinha, está sobrando até pro boi. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Prezado, Acho que a resposta para o preço do frango estar tão baixo é bem simples, o preço do milho. As rações de aves têm uma alta concentração do grão. Com os preços nestes níveis, é muito interessante a atividade. Com as estimativas de uma boa colheita para o milho safrinha e o menor valor da carne de aves, os produtores estão aumentando os seus plantéis, a fim de garantirem algum lucro. Acho que tu já devias estar pensando nisso, mas fica o registro. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fala Goulart, Como vc perguntou sobre o porquê de o frango ter caído tanto, estou mandando alguns dados que coletei. O setor de avicultura sofre maior influência do mercado externo. O Brasil exporta entre 20% e 25% de sua produção de carne bovina, enquanto que para a carne de frango as exportações representam mais de 30% do total produzido. Diante da crise do euro, com impacto na demanda do bloco europeu e na competitividade da carne brasileira (a queda do euro frente ao dólar prejudica as importações européias), a recuperação das exportações de carne de frango tem ocorrido em ritmo mais lento do que o esperado. Inúmeras indústrias, apostando em uma recuperação mais rápida, aumentaram a produção e agora são forçadas a desovar o produto no mercado interno, o que pressiona as cotações. A carne de frango acumula queda de 14,3% em relação a maio de 2009, enquanto a carne bovina subiu 1,2% e a carne suína reagiu 22,6%. A proibição da comercialização de frango temperado, imposta pelo Ministério da Agricultura em abril, resultou em aumento na oferta de carne in natura e ajudou a pressionar o mercado. A queda nos preços dos principais insumos para a avicultura (desde o início do ano o milho acumula queda de 5,2% e a soja 10,7%), que levou a uma melhora na rentabilidade, também incentiva a produção e dificulta perspectivas melhores no curto prazo, caso a demanda externa não sinalize aquecimento significativo. Deixe-me atualizar o gráfico do preço do frango aqui. Observe o gráfico abaixo. Coincidentemente comentamos sobre o preço do frango praticamente no dia em que ele atingiu seu piso! De lá para cá o frango parou de cair e se estabilizou. Concordo com os leitores que o custo da ração é um fator determinante no preço do frango e, como o milho é um dos principais ingredientes da ração, onde o milho vai, o frango vai atrás? Parece esse ser um indicativo importante. É oportuno ainda ver como essa questão mercado interno e exportação impacta mais no frango que no boi. Há, como os leitores bem colocaram, uma sobre-oferta de frango, e essa oferta está sendo direcionada para o mercado interno. Seguindo em frente. Há alguns dias a Scot Consultoria soltou um relatório sobre as exportações em pé de boi gordo que estão acontecendo no Pará. Um leitor tomou a liberdade de comentar sobre isso. Prezado Rogério. Dias atrás comentei a ti sobre a exportação de gado vivo. Que alegria ver os produtores do Pará serem defendidos pelo Alcides Torres da Scot Consultoria na Câmara dos Deputados. Os números são interessantes. A reportagem da Revista DBO mostrou que antes de não agregar valor ao produto, E NÃO TORNAR OS FRIGORÍFICOS EM TRUSTS MUNDIAIS, sem nada retribuir ao produtor, demonstrou a potencialidade de uma região quando a mercadoria tem um valor justo a quem produz. Às vezes as soluções são mais simples do que pensamos. Resposta: Sim, também acho que a exportação de boi em pé é, sem dúvida, a melhor e maior novidade da pecuária nacional em muitos, muitos anos. Espero ver essa modalidade crescendo cada vez mais e se tornando alternativa de negócio para os outros estados. Entre no site da Scot Consultoria e procure por esse relatório. É muito interessante e esclarecedora a leitura. Recomendo. Agora temos mais duas mensagens de leitores comentando sobre o mercado pecuário. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Boa noite! A economia aquecida, reposição, ainda que tenha caído, continua cara, seca brava, previsões de poucas chuvas até nos meses de agosto e setembro, confinamento de apenas um giro, começa agora e termina até outubro ou novembro, pecuaristas criando, quer dizer menos vacas para abate, exportações tomando um rumo mais promissor, julho e agosto teremos uma falta de boi, porque esta acabando o boi de pasto, e confinamento só em setembro, acredito que esteja começando uma alta do boi, se eu estiver errado quero que você me corrija!!!! Abraço! -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Boa noite Rogério Goulart, Meu pai esteve em leilões na região de Campo Grande nesses últimos dias e está saindo nelore de 8 a 10 meses, com 190kg por R$650-R$660. Meu Deus, será que essa baixa é passageira? Eu tinha uns bezerros aqui pra vender no R$800 e agora não sei muito o que fazer. O que você acha que vai acontecer com a cotação do bezerro Rogério? Um abraço. Sobre o bezerro, outro leitor chamado Clodoaldo Moreira me enviou um gráfico com variação mensal dos preços que ajuda a explicar melhor a recente movimentação no valor desse pequeno animal. Vemos que a partir do final de maio os preços dos bezerros aferidos pelo leilão Correa da Costa começaram a cair, porém o indicador ainda não. Isso me parece oferta de final de safra. Abaixo temos um zoom nesse gráfico do indicador do bezerro com a variação diária nos preços. Parece que o indicador, no curto prazo, está mesmo sinalizando um topo. Sobre a colocação do outro leitor em relação ao aquecimento da economia, previsão de seca, previsão de diminuição de confinamento, previsão de aumento nas exportações, previsão de falta de boi... Caro leitor, são muitas previsões! Fico até perdido. Não sei se todas elas poderão ocorrer, honestamente. O que está acontecendo agora é o seguinte. Repare em abril e agora em julho. São dois mercado distintos. Repare que a arroba no mercado físico hoje vale o mesmo que valia em abril. Já o mercado futuro caiu de R$90,00/@ para R$85,00/@. O que isso significa? Significa que o mercado futuro não está acreditando em alta explosiva para a entressafra. Na medida em que as conversas e os números de bois confinados vão aparecendo, principalmente através das informações filtradas e cruzadas nas fornecedoras de núcleo para confinamento e semi-confinamento, a realidade vai se impondo ao preço da arroba. As vendas de núcleo aumentaram em relação à 2009. Agora, daí para falar que o mercado futuro está certo em sua análise são outros quinhentos. Isso não sei dizer. Mas concordo que há respaldo para a alta da arroba. A gente vem falando desse tema há algumas semanas. A economia realmente está aquecida. O frango diminuiu a pressão recentemente, como vimos no gráfico. É que na realidade o nosso foco está na arroba do boi, arroba do boi e arroba do boi. Não deveria ser assim. A arroba do boi é uma combinação de fatores, entre eles a oferta atual de boi gordo, os preços da arroba perante a inflação (que é o reflexo do consumo), o preço atual de aquisição do animal de reposição, os níveis dos custos de produção e o principal, a quantidade de animais nascidos três ou quatro anos atrás (que são os boi gordos/vacas gordas hoje). Fatores altistas. (1) Desses indicadores, a oferta atual de boi gordo está ajustada, sinalizando possível alta na arroba, o que de fato está acontecendo. (2) A reposição está cara, diminuindo o potencial de lucro futuro do invernista e retirando agora o seu ímpeto de comprar animal para engordar. Isso também é altista para os preços da arroba no médio prazo. (3) Os custos de produção são, entre todos esses indicadores, o mais altista. Se pela inflação a arroba está bem posicionada, pelos custos de produção ela está muito barata atualmente. Para você ter uma idéia, se fôssemos igualar aos mesmos custos médios de 10 anos atrás a arroba hoje deveria estar valendo R$95,00 em São Paulo. Só para igualar. Fator neutro. Perante a inflação, os preços estão ajustados historicamente. O lado bom é que há crescimento mês a mês da renda média real dos trabalhadores, e uma diminuição do desemprego. Fator baixista. Entre 2007 e 2010 estamos tendo para valer a retenção de fêmeas. Esse movimento está próximo do fim, como podemos observar nos dados do IBGE, e a sua repercussão será notada no preço da arroba dos próximos anos. Como assim? O acréscimo de bezerros nascidos em 2007 está começando a entrar no mercado agora em 2010 como animais adultos, mas vai ser sentido mesmo a partir de 2011 e a cada ano será mais forte até, pelo menos, 2013. Repare nesse gráfico que em 2003 o abate de fêmeas voltou a crescer. Agora observe esse gráfico abaixo. Em 2003 também foi o pico de preço do bezerro para aquele período. O bezerro ficou em queda até o final de 2007 e parou de cair exatamente quando começou a retenção de fêmeas. Estamos passando pelo final do período de alta do bezerro? Creio que ainda não. Historicamente há ainda espaço para mais alta, mas a janela está a cada dia, aos poucos, se fechando.
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