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Scot Consultoria

Fechamento de ano


Terça-feira, 22 de dezembro de 2009 - 10h08

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Esse é o último texto de 2009, caro leitor. O próximo sairá no dia 8 de janeiro. Vamos fechar o ano? Vamos aproveitar a oportunidade e colocar os principais gráficos que utilizamos para medir o nosso mercado. Primeiro, o mais importante para quem é produtor. O gráfico do custo de produção e inflação sobre os preços da arroba do boi. Coloquei uma bola em dez/08 e agora em dez/09 para você ver onde estávamos ano passado e onde estamos esse ano. Pioramos de lá para cá? Sim, e em grande parte isso foi devido à queda de preços da arroba. Que a queda de preços foi enorme, acredito que todo mundo já saiba. Agora, que foi a maior desde o início do plano Real poucos acreditam. Mas foi mesmo. Desde o pico a R$94,41 de 2008 até R$72,03 de agora, em dezembro, foram mais de 23% de queda! Observe o gráfico dos preços abaixo. Voltamos aos mesmos preços de 2007. É como se 2008 não tivesse existido! Mas não seja tão duro com o mercado, caro leitor. Como disse em uma entrevista para um jornal do MS essa semana, em 2008 tivemos a crise mundial de crédito. Os mais afetados foram quem compra a carne dos produtores. Os frigoríficos e os importadores. Como esperar uma alta para a arroba se quem compra a carne mal consegue andar com as próprias pernas? Paralelamente a isso estamos passando pela redução do abate de fêmeas. Se você observar o próximo gráfico verá que neste ano tivemos uma forte redução da oferta de fêmeas para os frigoríficos. O pessoal preferiu segurar as novilhas e vacas nos pastos do que vendê-las para carne. Sim, é claro, como não fazer isso, como não segurar as bichinhas se um bezerro está valendo o que está valendo? Um detalhe aqui. Não só os criadores tradicionais diminuíram as vendas de vacas, mas também muito recriador e invernista partiu para comprar fêmeas e fazer seu próprio bezerro. São 100 vaquinhas aqui, 50 ali, 300 acolá... quando você soma tudo isso, vê que realmente o plantel de fêmeas está aumentando e isso trará impacto nos próximos anos em oferta de bezerros no mercado, retirando a pressão dos preços desses animais. Ou seja, a pressão que está hoje de animais caros tem grandes chances de não existir a partir de 2011. Os próximos três gráficos nos dão conta desse relacionamento entre o abate de macho e fêmeas no Brasil. Como esses são gráficos de longo-prazo, caro leitor, observe que as mudanças de um ano para o outro aparecem apertadas, quase juntas, nesses pontos em vermelho. A leitura do gráfico é da esquerda para a direita, então o ponto da esquerda nos diz como estava os abates nessa mesma época do ano passado e o ponto da esquerda nos diz o abate de hoje em dia. Não temos nenhuma surpresa nesses gráficos. Eles nos confirmam que o abate de fêmeas está diminuindo e que a participação dos machos no abate nacional está aumentando. Sazonalmente estamos entrando na época em que o abate de fêmeas tende a aumentar, pois há vacas de descarte entrando a partir de agora. Sabemos disso olhando o gráfico do meio. Observe que normalmente no final de cada ano é o ponto mais baixo na participação das fêmeas, porém no primeiro semestre essa participação tende a aumentar. O ano de 2009 não está sendo diferente disso. No terceiro gráfico, da variação ano a ano dos abates, um detalhe que nos chamou a atenção foi que a trajetória descendente da linha das fêmeas mudou de direção. Voltou a subir. Será que 2010 o abate de fêmeas começará a ter força novamente? É o que iremos acompanhar de perto no próximo ano. Por último gostaria de colocar o gráfico da taxa de reposição entre o boi gordo e o bezerro. Esse é o cara. É o gráfico mais importante da pecuária. Diz-nos como está andando o negócio como um todo, ou seja, desde o bezerro até o boi gordo, e nos mostra a relação entre eles. Quando a leitura da linha está baixa, quer dizer que a engorda não está das melhores, os preços da arroba estão pressionados e os preços do bezerro estão bons. Quando a linha está lá em cima, o que está bom é o preço da arroba do boi e a engorda. Como nenhum dos dois tem condições de permanecer mandar no pedaço por muito tempo, estamos passando, quem sabe, por um ponto de inflexão de mercado e, atualmente, se concentra em uma única pergunta: Será que a arroba do boi vai subir? Vamos ao gráfico. Sem dúvida a reposição melhorou um pouco desde o ano passado até agora. Mas é como você quando quebrou o braço — seu osso já colou, mas você ainda continua usando o gesso. Estamos ainda ao redor das piores reposições dos últimos anos, como delineiam essas duas retas paralelas. Isso é, de longe, a maior distorção atual da pecuária. A meu ver, se houver espaço para a alta da arroba, ela atuará nesse sentido — o de recuperar um pouco a margem forçando para cima a taxa de reposição do bezerro. Traduzindo isso para o popular, é possível que tenha chegado a hora de a arroba subir, mas o bezerro não. Nem o boi magro. Bom, pelo menos não na mesma intensidade, quero dizer. Por último, só para encerrar o ano e só para não perder o costume, a seguir coloquei o gráfico do mercado futuro, mas esse gráfico está um pouco diferente do que você costuma ver. Estou tirando dos preços a inflação; estou trazendo todos os preços futuros para o valor de hoje. Se fosse hoje, de que forma a gente perceberia o contrato de outubro/10? É o que esse gráfico tenta responder. Trouxe tudo a uma inflação de 5% ao ano. Pôxa, Rogério, mas 5% é muito! Pode ser, caro leitor, mas lembre-se sempre de uma coisa. Eu sou mineiro. Mineiro você sabe como é desconfiado... Olhando o gráfico, mais surpresas. A arroba para out/10 vale praticamente a mesma coisa que hoje, ou seja, nada. Não é só isso. A safra de 2010 está sendo projetada com preços abaixo dos atuais. Maio, por exemplo, está com preços tão baixos quanto a arroba do início de dezembro, ao redor de R$72,00. Não sei se o mercado já está descontando a entrada de novos animais no mercado, ou se está projetando uma continuidade na falta de crédito das empresas ou se está apenas, bom, apenas baixista mesmo. O que sei é que depois de tanto tempo em baixa, a percepção baixista de mercado impregna nas pessoas. Elas não param para pensar e deixam de enxergar os fatos. Como, por exemplo, várias novas plantas frigoríficas entrarão em operação novamente no ano que vem, além projeção de retomada das exportações e da expectativa de aumento no consumo interno. Mas isso é assunto para 2010, caro leitor. Obrigado por ter nos acompanhado durante o ano. Espero ter ajudado. Ficam aqui meus votos de Feliz Natal e uma excelente virada de ano. Que você se farte de sorrisos e abraços de seus amigos e familiares. Beije sua esposa, abrace seus filhos. Diga-lhes que você os ama. São a coisa mais importante, de longe, que você tem na vida, depois de sua própria saúde. Aqui também não é hora de economizar nas ligações DDD para quem está distante — um “oi” já é o suficiente para a pessoa que você lembrou ganhar o dia. Que sua ceia seja farta. Faça questão de ter à mesa aquilo que você gosta. Não economize em boa comida e boa bebida; pelo menos nessa época que o ar está nitidamente mais receptivo e mais indulgente. Muita saúde, paz e prosperidade. Para você, sua família e seus amigos. Para todos nós! Vemo-nos novamente em 8 de janeiro.
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