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Scot Consultoria

Expectativas para o segundo semestre


Segunda-feira, 26 de abril de 2010 - 17h23

Administrador de empresas pela PUC - SP, com especialização em mercados futuros, mercado físico da soja, milho, boi gordo e café, mercado spot e futuro do dólar. Editor-chefe da Carta Pecuária e pecuarista.


Bom, vamos lá. Sabemos que a taxa de reposição entre o boi gordo e o bezerro está assim, digamos, meio fora de base. Não vou colocar novamente o gráfico aqui, mas a coisa tem andando lamentavelmente abaixo de qualquer padrão razoável de referência. E olha que está assim faz algum tempo, “ein”. Para dizer a verdade, está assim desde meados de 2008, no início da crise. Até agora não está normal. Para piorar essa história a taxa de reposição que estava ruim, imagine você, ficou ainda pior! A reposição saiu dos 2,00 bezerros/boi que girava nessas últimas semanas para 1,90 recentemente. Esse é o pior preço histórico, o recorde mais baixo, o ponto mais humilhante da pecuária de engorda nos últimos dez anos. Mas descobri, fuçando nos dados de mercado, OUTRA relação que também está fora de base. Aqui fechamos as duas pontas. Um representa a entrada da pecuária, onde ela começa. O outro representa a saída da pecuária, onde ela vira carne. Estou falando da relação entre o traseiro bovino e a arroba do boi. Normalmente existe uma relação de amizade entre a arroba do boi e o traseiro bovino. Os dois são parceiros. Onde um vai, o outro logo vai atrás. Pode demorar um pouco, um ir à frente, se adiantar, mas logo, logo, o outro segue o mesmo caminho. Ou seja, se o traseiro sobre, a arroba sobe. Se a arroba cai, o traseiro cai. Grosso modo é assim que as coisas na pecuária andam. Não mais. Observe a figura 1. No popular — a coisa deu uma revertida impressionante. E olha que vem desde 2008, desde a crise. Então, caro leitor. Relaxe. Agora estou mais calmo. O mercado ainda está distorcido. Ainda não voltou a trabalhar em um ambiente conhecido. Ainda estamos sob os efeitos de alguma coisa que não sei bem o que é, mais dá para ver na prática que alguma engrenagem nos últimos dois anos saiu do lugar. Para mim está se tornando cada dia mais claro que no final é a moral da história que faz os preços se mexerem. A moral da história atual é que estivemos passando, ainda estamos passando pelo limbo. Com limbo quero dizer que experimentamos nesses últimos vinte e quatro meses um não-mercado de boi. Uma não-pecuária. Alguém pode me dizer que isso é reflexo da concentração de mercado em poucas mãos. Estou com essa idéia na cabeça também, mas ela está guardada debaixo de outras idéias que nesse momento para mim são mais evidentes. A idéia mais evidente que tenho agora é a continuidade da figura 2. O que esse gráfico nos diz? Bom, primeiro ele mostra dez anos de preços de arroba e também dez anos da variação da participação de fêmeas nos abates. Em segundo lugar, dentro desses retângulos (três desenhados no gráfico) temos a variação do preço da arroba do boi quando a taxa de abate de fêmeas caia abaixo de 10%. Nas três últimas ocasiões a arroba do boi reagiu forte para cima quando o abate delas caia. Olhe novamente para o gráfico, caro leitor. Não passe batido nele. Esse é um gráfico importante mesmo. Estamos nessa fase agora do abate ainda abaixo dos 10%. O abate de fêmeas ainda não retornou aos patamares de crescimento. Não, ainda estamos abatendo uma menor quantidade delas. Até acho que na próxima vez que o IBGE soltar os dados relativos ao primeiro trimestre de 2010 teremos subido de –10% para 0% no abate, mas agora isso não nos é importante. O que importa é o cenário geral como um todo, o que os americanos chamam de big picture. O clima para a arroba é positivo, depois de 24 meses de cenário indeciso, tenho a sensação que o pior ficou para trás. A minha impressão é que já passamos pelo fundo do poço, e isso é uma notícia animadora, não? Acho que sim. O consumo interno está reagindo. Rapaz, que é isso essa semana no supermercado! Fila enorme no açougue. Maior, bem maior do que a outra fila que comentei a uns meses atrás. Me pegou de surpresa, me gelou a espinha. As exportações vão assim devagar, mas estão indo para cima, e isso é o que importa. O governo abriu completamente as torneiras do crédito. Ele não quer perder as eleições. Reconhece que, como os americanos dizem: “É a economia, sua anta!” É a economia que diz os destinos dos governantes e a aprovação do Lula, por assim dizer, tem uma altíssima correlação com o desempenho da economia brasileira nesses quase oito anos de mandato. Como os efeitos dessas liberações de crédito, facilitação de crédito no BNDES, licitações a mil de hidrelétricas, trem-bala, portos gigantescos, etc. Sentiremos isso muito forte mais ou menos próximo do período eleitoral. Quando é o período eleitoral mesmo? Outubro, não é? Hmmm... Outubro é entressafra, não é? Calma lá. Por falar em outubro, como é que anda esse vencimento na BM&F, hein? Vamos dar uma olhada na figura 3. Dá para perceber que os preços sem dúvida saíram do canal-de-alta. Só que esse esforço para quebrar o canal enfraqueceu muito os indicadores técnicos na parte debaixo do gráfico. Isso pode se tornar um embrião de alta ou, talvez, quem sabe, estejamos um pouco precipitados? Esse contrato ainda poderá testar essa caixa rabiscada um pouco abaixo dos preços atuais. Aí sim seria um bom nível para uma retomada na alta. Antes de terminar, deixe-me dizer uma coisa aqui. Quando articulo sobre o mercado, espero que você já tenha percebido que raramente, pouquíssimas vezes, falo do curto-prazo. Então, hoje, por exemplo, nesse texto, praticamente só falei de movimento da arroba para o segundo semestre. Outra coisa. Nem tudo o que quero dizer está explícito no texto que escrevo. Tem a ver com o meu jeito de escrever. Não sei se consigo mudar isso. Falo muito pelas entrelinhas e isto pode ser confundido, como já aconteceu e acontece quase toda semana de leitores me escreverem sobre alguma parte do texto não tenha ficado clara. As implicações do que disse são importantes, imagino, atualmente, para quem vai confinar, para quem está comprando boi magro para jogar nos pastos e dar sal proteinado e para quem está negociando na bolsa. Então, estou me repetindo aqui, mas isso é importante. Toda vez que escrevo, está sempre por trás essa idéia, às vezes não dita explicitamente, entre outras coisas que sempre há uma ligação direta entre o texto e a realidade das fazendas de quem faz da engorda seu negócio ou quem faz das negociações de bolsa seu negócio, sejam fundos de investimento ou afins. Isso é bom falar porque os caras acham que o que faço é só para especulador em bolsa. Não é. Muito pelo contrário. Sugiro dar uma lida no meu site na seção “Sobre a CP” para entender melhor. No curto-prazo estamos passando pela safra. O mercado pode subir como pode cair em um período tão curto de tempo. Duas semanas atrás, na CP no. 365 do dia 9 de abril disse que o mercado poderia virar para baixo e estabeleci R$82,00/@ como um objetivo de baixa. A arroba bateu R$82,02/@ dia 16. Dei sorte da chamada de baixa de mercado estar correta. Dei sorte. Sorte é uma dama muito traiçoeira.
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