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Scot Consultoria

Desencanto e fragilidades


por Otaliz

Segunda-feira, 30 de março de 2009 - 10h53

É médico veterinário e instrutor do Senar – RS.


Em artigo publicado nesta coluna em meados de 2008, mencionei que os produtores leiteiros da região noroeste do Rio Grande do Sul estão eufóricos. Nunca os valores recebidos por litro de leite estiveram tão elevados. De fato, a implantação de novas indústrias na região e a ampliação de outras já existentes, o aumento das exportações de lácteos aliado à queda da produção em outras regiões acirrou de forma acentuada a disputa entre as empresas compradoras. Há poucos meses atrás os preços recebidos pelos produtores variavam entre R$0,36 e R$0,45 por litro. Atualmente, o preço médio está em R$0,70, sendo que há produtores recebendo R$0,85 e, segundo alguns relatos até valores maiores. Mas, desencadeou-se a crise econômica mundial, o mercado lácteo se retraiu e as exportações sofreram uma drástica redução. Conseqüência: desencanto da classe produtora e busca açodada de culpados pela situação. De imediato, produtores leiteiros comandados por seus órgãos de representação (sindicatos e associações), desencadearam uma onda de protestos contra as indústrias, através de passeatas e mobilizações nos portões dessas empresas imputando-lhes toda a culpa pela queda nos preços do leite. A falta de diálogo e transparência entre os elos que constituem a cadeia agroindustrial do leite conduz a interpretações equivocadas dos fatos e busca das causas onde elas não estão. É claro que no caso em questão, as indústrias de laticínios são tão vítimas quanto os produtores. Trata-se de uma turbulência no mercado. Em função da crise econômica, as exportações de lácteos sofreram uma queda significativa. Sabe-se que toneladas de leite em pó e outros derivados estão estocados nos depósitos das empresas. “... a implantação de novas indústrias na região e a ampliação de outras já existentes, o aumento das exportações de lácteos aliado à queda da produção em outras regiões acirrou de forma acentuada a disputa entre as empresas compradoras.” Por conseqüência algumas empresas estão com sérios problemas de caixa, a ponto de estarem atrasando o pagamento aos produtores. Imagino que alguns leitores devem estar concluindo que o meu propósito neste artigo é defender o interesse das indústrias. Negativo. Todos os elos que constituem a cadeia agroindustrial do leite têm parcela considerável de culpa pela fragilidade da mesma, pelo clima de desconfiança e pela falta de espírito de complementaridade que existe entre os seus componentes. Esta falta de complementaridade neste momento está sendo explicitada por algumas indústrias nacionais. Explico: segundo dados da CNA (Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária) as importações de lácteos feitas pelo Brasil, cresceram 91,63% em valores e 135,7% em quantidade nos últimos meses. Desse total, 82% vieram da Argentina, que está sob forte suspeita de triangulação comercial (dumping), colocando em nosso mercado produtos lácteos com preços subsidiados originários da União Européia e da Nova Zelândia. Algumas empresas não sentem o menor constrangimento em priorizar a aquisição desses produtos estrangeiros subsidiados na origem, em detrimentos da captação do leite produzido pelos brasileiros. A cadeia agroindustrial do leite no Brasil seria muito mais forte e competitiva, se as relações ente os diferentes elos fossem pautadas pela interação justa e equilibrada, pela complementaridade, pelo senso de crescer juntos e pela solidariedade. Mas, parece, que ainda estamos longe de alcançar este objetivo.
Otaliz de Vargas Montardo é médico veterinário e instrutor do Senar – RS
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