Após meio século revolucionando a matriz energética brasileira, o etanol se prepara para uma nova etapa, o de protagonista na captura e armazenamento de carbono.
Foto: Freepik
O Programa Nacional do Álcool (Proálcool) completará 50 anos em 14 de novembro. O programa foi criado em resposta à crise do petróleo de 1973 e foi um dos maiores programas de produção de biocombustíveis implementado no mundo.
Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), desde a implementação do programa, o etanol fez com que o Brasil deixasse de consumir 2,5 bilhões de barris de petróleo, o que gerou uma economia de US$205 bilhões em importação de gasolina nas últimas cinco décadas. Estima-se que isso represente uma redução de emissões de aproximadamente 1,1 bilhão de toneladas de CO2.
Com pressões políticas e sociais cada vez maiores em todo o mundo por menores emissões de carbono e por um mundo mais sustentável, o Proálcool estabeleceu as bases para o desenvolvimento de biocombustíveis no Brasil e posicionou o país como referência internacional.
Outro motivo de orgulho é que, em comparação com outros grande produtores de etanol, como os Estados Unidos da América, o combustível brasileiro possui uma pegada de carbono menor do que em comparação com o rival.
Para a produção de etanol nos EUA, as usinas por lá usam gás natural para geração de energia a fim de movimentar o maquinário, enquanto no Brasil, as usinas que utilizam a cana como matéria prima, utilizam o próprio bagaço para a geração de energia e as que utilizam o milho costumam usar outras biomassas, como o cavaco de eucalipto.
De qualquer forma, o uso de etanol emite menos carbono em comparação com a gasolina, mas não deixa de o emitir totalmente, pois é necessário maquinário pesado para cultivar a cana e o milho e para o transporte do etanol das usinas para os postos de combustíveis, por exemplo.
Mas esse status quo está para ser questionado, pois existe um método que permite que o etanol tenha carbono negativo, ou seja, você abastece o carro com o biocombustível e, enquanto roda, retira carbono da atmosfera.
Trata-se do BECCS, sigla para Bioenergywith Carbon Capture and Storage, ou em português, Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono, uma tecnologia que une a geração de energia a partir de biomassa com a captura do dióxido de carbono emitido nesse processo, e seu armazenamento permanente, muitas vezes em formações geológicas subterrâneas.
Por exemplo, o crescimento do milho retira o carbono da atmosfera. Quando o milho é levado para a usina e convertido em etanol, o processo de fermentação também gera CO2, que é então bombeado para rochas selantes no subsolo da usina, processo em que o carbono é permanentemente retirado da atmosfera.
Existem alguns projetos, nesse sentido, em usinas norte-americanas, nos estados de Illinois e Kansas. No Brasil, uma das grandes indústrias de etanol de milho pretende utilizar essa tecnologia em sua planta em Lucas do Rio Verde-MT, após estudos confirmarem a viabilidade geológica para armazenagem de carbono. Apesar das barreiras regulatórias e da necessidade de maior clareza no mercado de carbono, a empresa avançou com autorizações junto à Agência Nacional do Petróleo (ANP) e anunciou a primeira venda futura de créditos de carbono vinculados ao projeto.
O Brasil parte de uma base sólida, com complexos industriais já instalados e com processos definidos, como a cogeração com bagaço. Para que avancemos mais, será essencial contar com políticas públicas alinhadas e com um setor privado disposto a acelerar a implementação de processos como o BECCS.
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