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Scot Consultoria

Início do novo ano é desafio para carnes


Quinta-feira, 29 de dezembro de 2005 - 10h41

Expectativa é de trimestre difícil para bovinos, mas que embargos por causa da aftosa sejam suspensos Com o embargo parcial ou total de 53 países à carne bovina brasileira, o setor exportador deverá enfrentar um primeiro trimestre difícil em 2006. Mas a perspectiva é de que o cenário melhore nos meses seguintes, à medida em que os bloqueios impostos por conta do ressurgimento da febre aftosa no país forem levantados, avaliam especialistas e analistas deste mercado. Dessa forma, as vendas externas de carne bovina, que devem fechar 2005 em US$3,15 bilhões, segundo estimativa da Abiec (entidade que reúne os exportadores), poderão ser superadas no próximo ano. A associação estima crescimento entre 15% e 20% nas receitas com os embarques e de 5% a 10% nos volumes (de 2,3 milhões de toneladas em 2005). Mas isso vai depender da retirada - ou alívio - dos embargos por parte dos países importadores. Ontem (dia 28), por exemplo, a Ucrânia relaxou o bloqueio ao Brasil e liberou a importação de carnes brasileiras in natura, exceto as produzidas no Mato Grosso do Sul e Paraná, conforme nota do Ministério da Agricultura. Em novembro, o país tinha decidido bloquear as carnes de todo o Brasil. "Haverá certa dificuldade no primeiro trimestre", reconhece Jerry O’Callaghan, diretor da unidade de carnes da Coimex. O motivo é que os principais clientes do Brasil em carne bovina - Rússia e países da União Européia - estão entre os que embargaram parcialmente o produto nacional após a aparição da doença no Mato Grosso do Sul e da confirmação, pelo Ministério da Agricultura, de focos no Paraná. Fabiano Tito Rosa, da Scot Consultoria, concorda que o começo do ano será "complicado" em parte por causa da aftosa. Mas ele acredita que o maior impacto do ressurgimento da doença será no acesso a novos mercados. Para Rosa, o Brasil continuará crescendo em mercados emergentes, como Rússia e Argélia. "O grande mal não é o estrago de agora e sim o que a aftosa vai causar no futuro", diz. Um mercado que deve continuar apenas nos planos dos exportadores de carne bovina são os Estados Unidos, que até hoje compram só carne industrializada do país. "O Brasil vai continuar não participando de mercados como EUA e Japão, onde poderia crescer", observa o consultor Ênio Marques Pereira. Que o acesso a novos mercados será mais difícil por conta da aftosa, é consenso. Mas é o que vai acontecer no curto prazo que definirá o desempenho das vendas externas de carne bovina no próximo ano. A avaliação, agora, tanto de analistas quanto de exportadores, é de que a União Européia deve aliviar o embargo ao Brasil, que hoje inclui os Estados do Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. O’Callaghan, da Coimex, acredita que o bloqueio a São Paulo deve ser levantado ainda no primeiro trimestre. Uma missão técnica da União Européia vem ao país em janeiro para avaliar como está o controle da aftosa. A expectativa é de que a retirada de São Paulo seja definida nessa visita. Mas há quem tema que a missão decida pela ampliação do embargo, como defende a Irlanda, que chegou a pedir o bloqueio total das exportações brasileiras de carne bovina à UE. Os exportadores também esperam que a Rússia, que suspendeu oito Estados brasileiros - Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso, Goiás, São Paulo e Minas Gerais - retome as compras até o fim de janeiro. O embargo da Rússia, aliás, é considerado praticamente inócuo, já que nesta época do ano até meados de janeiro, os portos locais estão congelados por causa do inverno rigoroso, e suas operações são suspensas. Outro consenso é que a Rússia precisa da carne bovina brasileira - e sul-americana -, e por isso deve pelo menos aliviar o embargo ao produto. Pelas estimativas de O’Callaghan, realizadas com base em números da FAO e da Secex, aproximadamente 55% das 540 mil toneladas de carne bovina importadas pela Rússia este ano foi proveniente do Brasil. A capacidade de adaptação dos frigoríficos exportadores de carne bovina também deve contribuir para um impacto menor da aftosa nos negócios, avalia o diretor da unidade carnes da Coimex. Diante da impossibilidade de exportar por fábricas localizadas em regiões bloqueadas por causa da febre aftosa, frigoríficos redirecionaram a produção destinada à exportação para unidades situadas em áreas que não foram embargadas. Outro fator que vai influenciar o desempenho das exportações de carne em 2006 é o câmbio, observou o presidente da Abiec, Pratini de Moraes, em recente encontro com jornalistas. E, se o dólar se valorizar diante do real, a perspectiva é de que os exportadores tenham de dar descontos a seus clientes, acrescenta O’Callaghan. "Se houver desvalorização cambial, os preços serão um pouco sacrificados", comenta. Sendo assim, o ex-ministro avalia que dificilmente as cotações médias da carne bovina “in natura” na exportação ficarão acima dos cerca de US$2,2 mil por tonelada atuais no próximo ano. Fabiano Tito Rosa, da Scot, também espera acomodação do mercado interno até junho, mas vê recuperação a partir do segundo semestre de 2006. Ele enumera os fatores que podem levar a uma recuperação dos preços do boi no país: entressafra, queda do nível de investimento (que deve reduzir a produção), uma esperada desvalorização do real, aumento do salário mínimo - e decorrente ampliação do consumo - e continuidade do crescimento das exportações. Fonte: Valor Econômico, por Alda do Amaral Rocha
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