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  • Terça-feira, 9 de setembro de 2025
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Scot Consultoria

Sinergia agroindustrial, rastreabilidade e cooperativismo: estratégias que intensificam a pecuária do Centro-Sul

Em sua sexta edição, o Confina Brasil segue em frente com a missão de registrar e compartilhar a realidade da pecuária de corte em diferentes regiões do país. Com o apoio de parceiros, a expedição fortalece e amplia o entendimento sobre as práticas que estão redesenhando o setor.


Foto: Bela Magrela

Foto: Bela Magrela

Em sua sexta edição, o Confina Brasil segue em frente com a missão de registrar e compartilhar a realidade da pecuária de corte em diferentes regiões do país. Com o apoio de parceiros, a expedição fortalece e amplia o entendimento sobre as práticas que estão redesenhando o setor. Entre 28 de julho e 21 de agosto, a terceira rota passou por propriedades em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná, onde se destacaram práticas como o uso de coprodutos e do grão reidratado, automação e softwares de gestão, integração lavoura-pecuária, protocolos de qualidade e programas de bonificação, além do avanço genético voltado para animais superprecoces. Leia abaixo os destaques de cada estado visitado nessa etapa.

Mato Grosso

Integração, coprodutos e protocolos premium


Foto: Bela Magrela

Em Mato Grosso, a expedição concentrou-se na região de Rondonópolis, passando também por municípios como Itiquira, Pedra Preta e Poxoréu. 

Um dos destaques foi um modelo intensificado de recria a terminação. Ela consiste em duas fases: a primeira é a Recria Intensiva a Pasto (RIP), em que os animais pastejam e recebem suplementação em uma “praça de alimentação” central, equipada com cochos e bebedouros e cercada por piquetes de pasto onde é realizado o manejo de pastejo rotacionado. Ao passar para a segunda fase, a de engorda e terminação, o acesso ao pasto é interrompido através do fechamento das porteiras, transformando a estrutura em uma baia de confinamento. Essa prática otimiza o uso da infraestrutura e permite uma transição alimentar prática, eficiente e segura.

No estado, a terminação de fêmeas F1 Angus em sistemas de Terminação Intensiva a Pasto (TIP) foi bastante observada durante esta etapa da expedição. Também ganhou destaque a expansão da produção voltada a protocolos de carne premium, impulsionada pelo aumento da adesão a programas de bonificação que valorizam carcaças padronizadas, de animais jovens e com maior acabamento de gordura, destinados a mercados mais exigentes.

No campo do avanço genético, um exemplo relevante foi o uso do cruzamento triplo, o tricross, como em fêmeas F1 Angus x Nelore inseminadas com sêmen Charolês. A lógica do tricross se apoia na heterose e na complementaridade entre raças. No exemplo citado, combinam-se a rusticidade da base zebuína (Nelore), a precocidade e qualidade de carne do britânico (Angus) e o elevado potencial de crescimento e musculosidade do continental (Charolês). O resultado é um animal completo, alinhado às demandas produtivas e aos mercados de maior valor agregado. Os bovinos provenientes desse cruzamento passam pelo processo de desmama precoce e, em seguida, são inseridos no confinamento. Dessa forma, conseguem expressar plenamente seu potencial genético, alcançando excelente desempenho produtivo e elevada qualidade de carcaça. Como reflexo, as bonificações oferecidas ao produtor evidenciam a oportunidade que essa estratégia apresenta ao setor. A própria desmama antecipada traz ganhos adicionais: ao aliviar o maior dreno energético da vaca - a amamentação - preserva-se sua condição corporal. Assim, após a primeira cria, a matriz F1 Angus pode ser encaminhada para a terminação, ampliando a eficiência do sistema.

Assim como outras regiões do país, a nutrição dos confinamentos no Mato Grosso é fortemente influenciada pela disponibilidade de coprodutos gerados pela agroindústria local. A proximidade com usinas de etanol de milho e unidades de beneficiamento de algodão molda diretamente a formulação das dietas. Entre os coprodutos do etanol, destacam-se o WFS (fibra úmida com solúveis), o DFS (fibra seca com solúveis) e o HPDDG (grãos secos de destilaria com alto teor de proteína). O uso do WFS foi identificado em cerca de 50% das fazendas visitadas na região de Rondonópolis. Por ser composto por elevado teor de água, seu aproveitamento está condicionado à logística: apenas confinamentos localizados em um raio estratégico das usinas conseguem utilizá-lo de forma economicamente viável, já que o frete encarece a operação e o consumo do produto deve ser feito em um intervalo de tempo menor devido sua perecibilidade. Os coprodutos secos, por sua vez, têm maior alcance e foram observados em 70% das propriedades mapeadas, consolidando-se como ingredientes de rotina nas dietas.

No caso do algodão, o estado - maior produtor nacional da fibra - oferece ampla disponibilidade de insumos derivados do seu processamento. Foram observados caroço, torta, farelo, casca de caroço e capulho de algodão, estando, ao menos um desses ingredientes, presentes na dieta de 60% dos confinamentos visitados. Isso reforça a importância da cadeia algodoeira como fornecedora estratégica de proteína e energia para a pecuária intensiva local.

Dessa forma, evidencia-se como a expansão de cadeias industriais no Mato Grosso impacta diretamente a bovinocultura de corte, não apenas pela oferta de insumos de alto valor nutricional, mas também pela disponibilidade logística e bom custo-benefício na aquisição desses produtos.

Mato Grosso do Sul

Genética de excelência e protocolos de rastreabilidade


Foto: Bela Magrela

A expedição cruzou o Mato Grosso do Sul em um trajeto que percorreu todo o estado: de Rio Verde de Mato Grosso a Itaquiraí, incluindo uma passagem pelo leste de MS, em Aparecida do Taboado, encontrando uma pecuária marcada por escala e alta performance.

A qualidade da reposição reafirma a reputação do estado como berço do “melhor bezerro do Brasil”. Essa base genética, construída ao longo de décadas de seleção, ganha ainda mais relevância diante da possibilidade de produzir animais superprecoces, que chegam ao abate com menor idade e maior eficiência de conversão.

Essa busca pela eficiência produtiva é exemplificada em propriedades do estado que mostram na prática como um trabalho consistente de seleção genética, com mais de 20 anos, aliado ao cruzamento com a raça Angus, pode resultar em animais meio-sangue que combinam precocidade e alto rendimento. Um exemplo disso é o modelo de produção superprecoce observado: o ciclo começa com a introdução do creep feeding aos 45 dias de vida, permitindo uma desmama aos 8 meses com os machos pesando em média 360 kg e as fêmeas, 315 kg. Após a desmama, os animais seguem direto para o confinamento e são abatidos com aproximadamente 13 meses, atingindo pesos de 550 kg para os machos e 460 kg para as fêmeas. Esse modelo não apenas atende às exigências de mercados de carne de qualidade, mas também eleva o padrão de produtividade da pecuária no estado. Para transformar esse potencial genético em valor, o estado aposta na difusão de protocolos de qualidade que estão presentes em cada etapa da cadeia produtiva.

A habilitação para a Cota Hilton, por exemplo, que destina cortes nobres à União Europeia, exige controle minucioso em todas as fases. O programa tem como pilar a rastreabilidade individual completa (SISBOV), com identificação de cada animal antes dos 10 meses de idade e permanência mínima de 90 dias em fazendas certificadas. O abate deve ocorrer em frigoríficos habilitados para a UE, com conferência integral dos dados pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). Quanto ao perfil animal, o protocolo restringe-se a raças britânicas (ou seus cruzamentos), criadas a pasto, com limites de maturidade (até quatro dentes para machos castrados e novilhas) e carcaças de padrão superior de conformação.

Em âmbito estadual, o programa “Novilho Precoce MS” estabelece não apenas exigências sobre o produto final, mas também um elevado padrão de gestão para as propriedades. Para aderir, o produtor deve comprovar regularidade fiscal, trabalhista, sanitária (IAGRO) e ambiental (CAR), além de contar com a supervisão de um responsável técnico (ART). A fazenda é então classificada segundo práticas produtivas, como o nível de identificação individual do rebanho e a adoção de tecnologias sustentáveis. O programa prevê bonificações para carcaças que atendem a requisitos de peso e idade: mínimo de 12 arrobas para fêmeas e 15 arrobas para machos (inteiros ou castrados). A maturidade, aferida pela dentição, varia conforme o sexo e a condição sexual: machos inteiros são bonificados até 24 meses (dois dentes), enquanto castrados e fêmeas têm o limite estendido até 36 meses (quatro dentes). Para que um lote seja elegível, ao menos 60% dos animais abatidos devem se enquadrar nesses padrões.

Iniciativas como essas ampliam a competitividade da pecuária do estado, reforçando a importância da gestão profissional e da rastreabilidade como ferramentas-chave para acessar mercados de maior valor agregado.

Tal busca por competitividade e eficiência reflete-se no campo em diferentes estratégias para otimizar a produção, desde inovações em modelos de negócio até investimentos em tecnologia. Uma inovação que ganhou destaque durante a rodada de visitas foi o “bezerrotel”, voltado para a recria.

Esse serviço surgiu como uma ferramenta de flexibilidade estratégica. O modelo permite que pecuaristas ajustem a lotação de suas fazendas em resposta a crises climáticas, como secas prolongadas ou queimadas, ou à falta de planejamento forrageiro. Ao retirar temporariamente os bezerros do pasto e alocá-los em estrutura de confinamento, o produtor protege tanto a capacidade de recuperação da forragem para as matrizes quanto o potencial de desenvolvimento dos animais mais jovens. A principal diferença para o boitel tradicional está no objetivo: enquanto o boitel padrão é, habitualmente, uma solução de infraestrutura para a fase de terminação (engorda) para quem não possui estrutura própria, o bezerrotel atua como uma solução de flexibilidade estratégica para a fase de recria, permitindo que o produtor proteja seus recursos de forma tática.

Adicionalmente, na região Sul do estado, o investimento em pivôs de irrigação é o que assegura a estabilidade na produção de alimento. A prática se justifica pela ocorrência recorrente dos veranicos - períodos de estiagem fora de época que podem coincidir justamente com fases críticas das culturas. O uso do pivô contorna essa variável climática e transforma a incerteza em previsibilidade, garantindo que o potencial produtivo da lavoura seja plenamente aproveitado.

Paraná

Cooperativismo, tecnologia e qualidade de carcaça


Foto: Bela Magrela

No Paraná, a expedição passou pela região Oeste, revelando um cenário de menor escala, mas com alta intensidade tecnológica e um nível de organização exemplar. O cooperativismo é um pilar marcante. Praticamente todas as fazendas visitadas estavam vinculadas a cooperativas, que atuam em diferentes frentes: cooperativas agrícolas que centralizam a compra de insumos e fornecem ração, e cooperativas de pecuária que gerenciam programas de bonificação por qualidade de carcaça. Esse modelo fortalece a pecuária local, garantindo escala e acesso a tecnologias que, isoladamente, seriam de difícil adoção. Essa base de cooperação também abre espaço para modelos de negócio mais completos, que integram desde a produção até a comercialização da carne, demonstrando como especialização e colaboração podem caminhar juntas.

A alta participação de fêmeas no confinamento também chamou atenção, representando 62,3% dos animais. Essa preferência é uma estratégia multifatorial: do ponto de vista biológico, as novilhas são mais precoces e depositam gordura de acabamento e marmoreio em uma idade mais jovem, características importantes para atender mercados e protocolos específicos. Para o produtor, isso se traduz em um ciclo de terminação mais curto e previsível. No fim da cadeia, o mercado de carne premium valoriza e bonifica essas carcaças, que são mais leves, padronizadas e entregam a qualidade que o consumidor exige.

A busca pela padronização e pelo ponto ótimo de abate impulsiona o uso de tecnologias de precisão. A ultrassonografia, por exemplo, realizada com o animal vivo no curral, permite medir em tempo real o nível de marmoreio e a espessura de gordura, selecionando apenas aqueles que atingiram o acabamento desejado. Isso otimiza o retorno financeiro, evitando que animais já prontos para o abate sigam consumindo ração, ocupando espaço e encarecendo o custo de produção. Essa precisão se estende ao frigorífico, de forma em que softwares com inteligência artificial utilizam câmeras na linha de desossa para classificar as carcaças. O sistema avalia múltiplos fatores de qualidade de forma objetiva, garantindo que as bonificações sejam pagas com base no mérito real do produto, trazendo mais transparência à relação entre produtores e indústria.

A infraestrutura das propriedades também reflete o investimento em eficiência, com o uso de silo bolsa para o armazenamento de grãos e volumosos, currais cobertos e pistas de alimentação concretadas. Em outra frente, a sustentabilidade também surgiu como pilar estratégico. Vimos sistemas que utilizam biodigestores para transformar esterco em biogás, suprindo a demanda de energia da fazenda. O efluente desse processo fertiliza o milho, que por sua vez retorna à dieta dos animais, um ciclo que evidencia como produtividade e compromisso ambiental podem caminhar lado a lado.

O que marca essa etapa


Foto: Bela Magrela

Da integração no Mato Grosso à rastreabilidade no Mato Grosso do Sul, passando pelo cooperativismo e a tecnificação do Paraná, a terceira rota do Confina Brasil reafirma que a pecuária brasileira está cada vez mais orientada por dados, inovação e qualidade. Independentemente das diferenças regionais, a direção é uma só: a busca por eficiência, sustentabilidade e valorização da carne.

Para encerrar essa terceira etapa de análises e troca de experiências, a equipe do Confina Brasil reuniu pecuaristas e agentes do setor em Cascavel-PR, para uma manhã de conhecimento no evento “No Rastro da Pecuária”.

A expedição de 2025 está em sua reta final. A última rota está em andamento, percorrendo propriedades no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Acompanhe os próximos passos da expedição pelo site oficial da Scot Consultoria e pelas redes sociais da pesquisa-expedicionária:

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Estão conosco nessa jornada:

Casale

Coimma

FS

Nutron

Pacifil

Solpack

Angus

Marcher

Mitsubishi

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