• Quarta-feira, 12 de novembro de 2025
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Scot Consultoria

Alta nas importações de lácteos acentua queda dos preços no campo

Cadeia produtiva defende a retomada, pelo governo brasileiro, da análise antidumping contra produto oriundo de países do Mercosul.


O aumento das importações de lácteos em um momento de alta da oferta doméstica e queda dos preços do leite no campo acendeu a luz amarela para o setor no país. Representantes da cadeia produtiva e pecuaristas afirmam que o cenário atual repete o de 2014, quando a combinação de preços baixos e custos altos levou a uma estagnação da produção nacional nos anos seguintes.

“O produtor estava retomando investimentos e teria um respiro para recompor margens, mas esse movimento foi interrompido pelo aumento das importações. Se nada for feito, o país pode ver novamente o desânimo no campo e uma estagnação na produção de leite”, afirma o coordenador da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da CNA, Guilherme Souza Dias.

Segundo Dias, a situação se agravou após uma mudança de interpretação do governo na investigação antidumping sobre as compras de leite em pó do Mercosul aberta a pedido da CNA em maio.

A análise foi aberta a partir de argumentos apresentados pela entidade em dezembro de 2024. Na época, a CNA demonstrou que o leite em pó oriundo da Argentina estava 54% mais barato aqui do que no mercado argentino. No Uruguai, a diferença era de 53%.

Em agosto, porém, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC) informou que decidiu previamente não prosseguir com a investigação. Pelo entendimento adotado pela Pasta, os produtores de leite não poderiam requerer o antidumping, mas sim os produtores de leite em pó, ou seja, a indústria nacional, que não foi a solicitante. O ministério passou a considerar que o leite in natura não é similar ao leite em pó.

Desde a decisão preliminar, as importações cresceram 28% em setembro, ampliando a pressão sobre o mercado interno num período de aumento sazonal da produção. “As perspectivas até o fim do ano são de quedas expressivas no preço ao produtor, ficando abaixo do custo de produção. E com margens negativas, ninguém permanece na atividade”, afirma Dias.

A queda dos preços do leite já afeta o dia a dia nas fazendas. A produtora Melina Tonon, de Piraí do Sul (PR), conta que tenta reduzir custos para manter o negócio. “Fazemos um controle muito rigoroso do nosso planejamento financeiro, mas há meses que fechamos no vermelho, não há o que fazer”, afirma ela.

Com produção diária de 4,5 mil litros e 160 vacas em lactação, ela afirma que o preço do leite caiu de cerca de R$ 3 para R$ 2,50 por litro em poucos meses. “Investimos em tecnologia e na qualidade do leite, mas vai cansando”, lamenta.

O produtor Ezequiel Dick, de Carlos Barbosa (RS), também enfrenta redução de 25% na receita. “Hoje o pequeno produtor de leite está empatando ou perdendo dinheiro”, relata. Com 26 vacas em lactação e produção de 800 litros diários, ele diz que os custos subiram e que o clima agravou a situação. “Tivemos um ano de seca muito forte, seguido de enchentes. Com isso, acabamos buscando renegociações nos bancos.”

Para seguir na atividade, ele enxuga os gastos “onde dá”. Na alimentação do rebanho, por exemplo, introduziu o bagaço de citros a fim de baixar o volume de ração e de silagem utilizados e, dessa maneira, reduzir custos.

Câmbio e importações

Segundo a analista da Scot Consultoria, Juliana Pila, a desvalorização do dólar também contribui para o aumento das importações. Ela ressalta que, mesmo que no acumulado do ano o volume importado esteja 4,3% menor, a base de comparação com 2024 é alta, de 228 mil toneladas. “Estamos com uma produção crescente, importando um volume considerável de produtos lácteos e o consumo não responde da mesma forma”, diz.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no primeiro semestre deste ano, a captação de leite por laticínios somou 13 bilhões de litros comparado a 12,2 bilhões no mesmo período de 2024. A perspectiva, diz Pila, é de que as importações percam força conforme a produção nacional aumente nos próximos meses com a chegada do período chuvoso, quando a oferta cresce.

Apesar do recuo do preço ao produtor, ela pondera que os custos com alimentação na pecuária de leite também caem. “Por mais que a margem esteja diminuindo, a situação poderia estar pior se o custo de produção estivesse mais elevado”, afirma Pila.

O secretário-executivo do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Darlan Palharini, afirma que o problema não é novo, mas se agrava com a combinação de maior produção e aumento das importações. “Em 2025, o aumento de produção de leite do Rio Grande do Sul chega a 12% em relação a 2024, o equivalente a 500 milhões de litros”, diz.

Diante do atual cenário, a CNA defende a retomada, pelo governo, da análise antidumping com base no leite in natura como produto similar ao leite em pó importado, argumentando que essa é a única forma de conter o avanço das compras no exterior.

Matéria originalmente publicada em: Alta nas importações de lácteos acentua queda dos preços no campo

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